2010-06-02 Istambul
“Istambul, 2.45 da manhã. O ininteligível vozear da turba multicolorida do Grande Bazaar, na sua azáfama mercantil, e o insistente zumbido provocado pela amálgama de apitos e motores dos veículos a cruzarem a ponte Galata, deram lugar à quietude. Da janela do quarto avista-se o porto e as milhentas luzes dos navios ancorados; a cidade mergulha em socalcos até ao Bósforo, com os minaretes das mesquitas a riscarem o céu. Está um calor infernal, abafado. Uma ligeira aragem transporta uma longínqua canção árabe, que entra pelo quarto na sua hipnótica languidez…”
“ISTAMBUL – um grito” de Mão Morta
Pelas 5 da manhã Istambul está a acordar. As agências das companhias de viagem começam a abrir portas e eu a procurar o bilhete para o meu próximo destino: Sivas. Consigo bilhete para as 4 da tarde. Tenho assim quase um dia extra para revisitar Istambul. Encontro algumas diferenças: o metro continua em obras e os “Jettons” (fichas de acesso ao metro), deixaram de ser de metal e passaram a ser de plástico, amarelos e azuis, tal como as fichas dos carrinhos de choque.
As cores, a agitação, os cheiros, o exotismo dos bazares e os mineretes das mesquitas a rasgarem o céu esses, continuam iguais desde há centenas de anos e a provocar a arrepios mesmo a quem já sabe o que o espera.
Vou com o meu novo colega até a Sultanhamed, o bairro dos hosteis mesmo junto às mesquitas, para ele arranjar onde ficar e depois descemos até ao bazar das especiarias passando pela porta do palácio de Topkapi. Ele está cheio de sono e volta ao hotel. Eu também estou, mas não quero deixar novamente Istambul sem antes fazer duas coisas que ficaram por fazer da última vez que cá estive.
A primeira é andar de barco no Bósforo. Vou à estação de comboio onde funciona o posto de informação turística para saber de onde partem os barcos que vão para a estação de Haydarpasa, do lado asiático e embarco junto à ponte Galata onde já se acotovelam os pescadores.
Está um céu pesado que ameaça chuva. Conforme nos vamos afastando tudo vai ficando mais pequeno. Istambul vista do barco é surreal. Ali a mesquita de Sultanhamed, acolá a torre Galata, mais além a ponte sobre o Bósforo, aqui o continente Asiático, do outro lado a Europa. Venho a esta estação só para sentir o cheio dos comboios. Podia partir daqui para Sivas, numa viagem que me levaria mais de 20 horas de comboio. Preferia, mas para isso teria de esperar pelo próximo comboio que parte amanhã às 07:00 e teria de dormir aqui, já que os barcos só começam a fazer a travessia também a essa hora.
De volta à Europa subo por algumas ruas transformadas em verdadeiros bazares onde aqui sim se encontra de tudo e mais alguma coisa e aproveito para almoçar um Kebab. Não é que tivesse propriamente saudades da comida rápida turca, mas a verdade é que ela é rápida, prática, barata e saborosa q.b.. Procuro uma entrada para o Grande Bazar.
É a segunda coisa que quero fazer nesta minha passagem por Istambul. Desta vez não venho para comprar, até porque aqui tudo é muito mais caro que lá fora, mas sim para “roubar” um pouco deste turbilhão de luzes e cores com a minha máquina fotográfica.
Da última vez que cá estive, fiquei tão fascinado com tudo que só quando cheguei a casa vi que nem tinha tirado fotos. É para isso que estou hoje aqui. Ignoro os pregões dos vendedores a deambulo pelas galerias multicoloridas. Por fim, já com pouco tempo antes da próxima partida vou até ao mítico café Mesale tomar um chá.
É a hora! Mais uma vez saio de Istambul rumo a oriente e novamente com a certeza que voltarei. Istambul é uma cidade incontornável para qualquer viajante. Se quiser ir ao Cáucaso, e quero, terei de aqui voltar. Se quiser ir ao Irão e à Índia, e quero, terei de aqui voltar. Hoje, a caminho do Médio Oriente, sou mais uma vez “obrigado” a estar aqui.
Depois dos primeiros quilómetros de trânsito infernal até sair de Istambul seguimos depois junto a um braço de mar que vai até Izmit onde parámos pelas 19:00 rodeados de uma paisagem fabulosa. Vinte e uma e trinta, paragem para jantar numa cara estação de serviço. Vinte e três e trinta, mais uma paragem em Ancara. Duas e quarenta e cinco da manhã…
Clique para ler os outros dias desta viagem à Roménia, Bulgária, Turquia, Síria, Libano e Chipre
- Categorias:
- Turquia