Da Provence ao Mónaco
Acordei assim bem melhor que nas duas noites anteriores, sem orvalho nem formigas. Desci o meu monte desta noite, com um leve nevoeiro a pairar sobre o rio, para iniciar a minha saga de boleias até ao Mónaco. É manhã de Domingo, e como seria de esperar, não há muito transito. Só depois de uns vinte minutos é que consigo boleia de um velhote que me leva por alguns quilómetros nas montanhas até uma rotunda. Estão a preparar o apoio a uma corrida de cavalos que por ali vai passar.
Espero mais de uma hora por boleia. Um record, apenas batido pelo dia em que saí de Orange. Os típicos domingueiros, que também há por aqui, não param e alguns até gozam. Apetece-me esticar-lhe outro dedo que não o polegar. Depois de andar nisto das boleia há já duas semanas sinto que comecei a desenvolver um instinto que me permite avaliar os carros ao longe. É como um sexto sentido. Muitas vezes basta o som do motor para sentir que ele vai parar. Desta vez foi uma carrinha Volvo, daquelas antigas. Mal a vi ao longe pensei: “Vem aí a minha boleia”. E assim foi.
Parou e levou-me, ainda que só por uns 5km, com o seu cão no meu colo e a bicicleta atrás. Há duas coisas que todos os franceses têm: uma bicicleta e uma caravana. Outra coisa que se aprende é a aceitar sempre a boleia ainda que só vá por 1km. Nunca se sabe se não está de lá a sair alguém que nos leva para o nosso destino. Foi o que aconteceu neste caso. O velhote deixou-me num cruzamento, do qual, 1 minuto depois saiu um carro que me levou até Grasse, a terra dos perfumes.
Grasse, a cidade dos perfumes
A chegada pode-se logo ver ao fundo o Mediterrâneo. Estou agora na Cotê d’Azur. Informam-me no posto de turismo que posso visitar algumas fábricas de perfume. Já tinha notado pelo cheiro que anda no ar: toda a cidade parece perfumada. Dirijo-me para a mais próxima, a da Fragonard.
A visita começa por uma zona de museu que expõem antigos utensílios da ferramentaria, e depois passa-se a outra zona, na própria fábrica onde se faz uma visita guiada em várias línguas pelas zonas da actual produção. Fico a saber um pouco mais da arte da perfumaria, e no fim terminamos na loja da fábrica. Apesar do meu mau cheiro de 3 dias sem tomar um banho decente, não tenciono esconder isso banhando-me em perfume.
Até Nice
Depois de dar uma rápida olhadela à cidade e ir à internet consultar o google maps para descobrir o caminho para o Mónaco, caminho até à estrada que me parece mais acertada. Imagino logo que seja difícil aqui apanhar boleia, pois nunca há um verdadeiro fim da povoação. Todas estão ligadas . Há sempre casas e a estrada tem muitas curvas e poucos lugares para os carros pararem, mas mesmo assim, superando as minhas expectativas, esperei pouco pela boleia de um senhor com uns 60 anos que me levou por alguns quilómetros. Deixou-me numa rotunda onde logo parou uma senhora super simpática que me deu boleia, e depois outro senhor me levou directamente para Nice, onde cheguei ao inicio da tarde.
Linha 100, pista 17. É daqui que partem os autocarros para o Mónaco. Sinto-me tentado a apanhar um. Dou um passeio pela cidade, vou até ao mar. A água é azul. Um azul de sonho, é quente, mas faz ondas grandes de mais para quem não sabe nadar. É uma grande falha minha mas que nos últimos tempos tenho andado a tentar ultrapassar. Por todo o lado há mulheres em topless sobre os seixos da praia, já que aqui não há areia. Volto a pegar na mochila pelas 4 da tarde e repenso a ideia de ir de autocarro. Se cheguei até aqui, também hei-de chegar ao Mónaco sem recorrer a transportes. Nem que seja a pé. Afinal já só faltam uns 10km.
Caminho pela marginal que fervilha de actividade com os turistas que ainda estão nas suas férias de Agosto, até encontrar placas que indicam a estrada para o Mónaco. Arranco um cartaz duma parede e escrevo nas costas enquanto caminho “MONACO”. Em 10 minutos consigo boleia dum casal jovem para a rápida viagem pela beira mar até lá.
Mapa de Nice
Mónaco
O principado está de tal maneira misturado com França que nem dou por cruzar a fronteira do meu 18º país. O pequeno país corresponde ao esperado. Caminho pelo meio da riqueza, carrões e mulheres bonitas até ao casino. Nunca me senti tão estrangeiro num país de brancos. É como ir sozinho numa rua da Guiné. Parecem todos diferente.
A minha barba de 18 dias, calções e mochila ajudam ao destaque. No entanto, circulo por entre as “bombas” estacionadas em frente ao casino e tiro fotos como 90% das pessoas que ali estão, sem nenhum problema. Só uma pequena parte é que vem para o jogo. Vou pela cidade em busca dum local onde fazer compras. Passo por algumas igrejas que me fazem lembrar as fotos de mesquitas de países árabes ricos, também estas extremamente decoradas e ricas.
Por fim, já de noite, lá encontro um “Casino”. Não de jogo, mas um supermercado da cadeia francesa com esse nome. É tudo substancialmente mais caro que em França. Acaba por me ficar a quase 8€ o jantar e algumas sobras para o pequeno almoço. Outra coisa que me parece difícil encontrar são as casas de banho. Só consigo encontrar uma na estação de comboio, e não arrisco fazer o serviço num jardim, pois há câmaras de videovigilancia em cada esquina.
Janto num banco de jardim por detrás do casino e continuo a observar as pessoas. Descobri no Mónaco a explicação para o ditado: “o dinheiro não traz felicidade”. É mentira. O dinheiro traz felicidade. É inquestionável. Mas quando é demais não é bem assim. É o que vejo na cara das pessoas com quem me cruzo. A maioria deles andam tristes, novos e velhos. Os sorrisos que vejo, na sua maioria vêm de 2 tipos de pessoas: pares de namorados (e só alguns) e turistas e visitantes como eu, que se fartam de rir com aquilo que não podem ter.
Passo um bocado sentado junto à fonte dos jardins do casino e observar a movimentação. Como nos últimos dias me tenho deitado com o Sol, à meia noite já é alta madrugada para mim. Caminho até à praia. Como a cidade é toda videovigiada, temo que a meio da noite me venham incomodar. Está lá também um grupo de backpackers, mas eu sinto cada vez mais ao longo desta viagem que tenho pouco a ver com eles. O facto de trazer uma mochila pequena leva-os a não me considerar como um deles. Senti isso ao logo desta viagem quando me cruzava com alguém com mochila grande. Normalmente há no mínimo uma troca de sorrisos, mas assim isso não acontece. Apesar de tudo em nenhum dia desta viagem me senti sozinho; tinha sempre a companhia dos condutores que me davam boleia. Excepto hoje. Sinto-me num mundo tão diferente do meu que apetecia ter alguém com quem falar sobre ele.
Estico-me na areia sobre a minha colchonete resguardado das câmaras por um pequeno muro que há na areia. Adormeço de calções e casaco na areia. Por volta das 3 da manhã vêm alguns jovens tomar banho ao mar que está mesmo a meus pés. Depois adormeço de vez.
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2 Comentários
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bem.. que cena…. tu e as boleias é mesmo formidável.
não sabia que existiam ai fábricas de perfumes,lol já aprendi uma coisa hoje….
no mónaco, aposto que um metro quadrado se paga bem pago numa esplanada ou em qualquer sítio lol.
a cote d’azur fora do monaco e nice é espectacular com falésias escarpadas e mansões luxuosas n?.. txi tanta gente na praia.. não seis se conseguia estar nessa praia povoada de baleias….
ehehe