31-08-2009 Mónaco, Nice, Montpellier
Não sei se foram as gaivotas, se a água a chegar-me aos pés, se os banhistas que ainda antes do sol nascer já estavam a chegar que me acordaram. Têm todos mais de 70 anos. Chegam, pousam as suas coisas e entram na água. É a 3ª idade com melhor qualidade de vida no mundo. Sinto-me tentado a ir também. Mas não estará a água demasiado fria? Levanto-me e em dois passos estou na água, que afinal está mais quente que a areia. O Sol está agora a nascer entre o mar e a escarpa. Eternizo o momento com uma foto. Afinal quem me conhece dificilmente vai acreditar que eu fui ao mar tomar banho às 7 da manhã.
Fico bastante tempo lá dentro, onde os peixes passeiam pelos meus pés. Começo depois a ver a água como que a borbulhar, sem saber do que se trata. Depois olho para cima e vejo: chuva! Não me preocupa molhar-me, mas sim as minhas coisas que estão lá fora. Saio por duas vezes, primeiro para as colocar debaixo duma palmeira e depois debaixo do toldo de uma loja que ainda não abriu e volto para o mar. Lavo uma t-shirt e fico pelo areal onde entretanto, já sem chuva, começa a chegar mais gente.
Fico assim por lá até às 10h e depois coloco a mochila ás costas. Quando vou a sair do areal oiço falar português. Uma mãe que chama o filhote que está mesmo ao meu lado. Fico alguns segundos a olhar para ele a pensar se devo ou não denunciar a minha nacionalidade. Acabo por não o fazer. Não quero envergonhar a senhora, fazendo-a partilhar a sua nacionalidade com um pobre sem abrigo. 🙂
Começo a sentir que depois destes maravilhosos dias de aventura, está mesmo a chegar a hora de fazer uma pausa, tomar um banho, lavar roupa, barbear-me. Mas isso terá de esperar, talvez mais dois dias até ao meu regresso a Portugal. Caminho em direcção ao bairro de Monaco-Ville, onde se situam os palácios e museus. Para isso tenho de cruzar a marina, e descubro um barco-bus que faz a viagem por 1€. Porque não?
Não estava nada informado sobre o que visitar no Mónaco, e também não vi nenhum posto de turismo, mas consegui um mapa do principado que tem os monumentos e locais de interesse assinalados. reconheço logo o Museu Oceanográfico. Tenho ideia de já o ter visto em algum lado, e não é de admirar. O edifício é de uma arquitectura tão peculiar que imediatamente se associa aos mares. Felizmente que na história houveram homens apaixonados por determinadas matérias, como o príncipe Alberto I, pioneiro no estudo dos mares e que fundou o museu.
Gosto destes museus antigos, e tenho poucas dúvidas em afirmar que é um dos melhores museus que já visitei. Inicio a minha visita pelos pisos inferiores onde se situam os aquários que albergam espécies de vários mares do mundo. Nos pisos superiores há salas enormes com esqueletos montados de baleias e outros “monstros” marinhos. Encontro também várias referências a Portugal, desde quadros dos Açores a artesanato de cerâmica de Bordallo Pinheiro com motivos relacionados com o mar. Ali no planalto visito também a catedral e passo junto ao palácio. É hora de almoço e decido ir comer a minha primeira refeição quente desta viagem. É claro que aqui no Mónaco, um dos poucos locais onde me é possível fazê-lo é o Mcdonalds.
Saio a pé em direcção a França. Esperava uma qualquer sinalização da fronteira, mas nada. Só dou por estar em França quando dou com um painel de informação turística francês, e uma paragem de autocarro. Parece que o país se rendeu mesmo à evidencia de que não é mais do que uma cidade francesa. Estou cansado em já sem grande força para continuar. Fico sempre assim nos últimos dias das viagens. Não importa a duração. É a sensação de satisfação e dever cumprido que toma conta de mim, depois de ter realizado todos os objectivos a que me tinha proposto para esta viagem. Já não há nada para lutar para além de regressar a casa e contar tudo o que vi e vivi.
Apanho então o autocarro, e dou assim por terminada esta viagem. Estou de regresso a casa. Vou até Nice. Sobra-me ainda bastante dos 300€ que trouxe. Compro um bilhete de comboio e vou até Montpellier, onde já contactei com a Fernanda, uma amiga brasileira que conheci o ano passado em Roma. 35€ o bilhete. Nem quero imaginar quanto me teria custado esta viagem se não tivesse andado à boleia. Numas férias como as pessoas normais gastaria tanto em 3 dias como gastei nestes 19. Ando com outro desejo: o de ouvir música. Desde ontem que sinto essa necessidade e não trouxe mp3. Pela primeira vez num comboio aproveito para reflectir sobre o muito que aprendi nestes dias, enquanto lá fora já cai a noite. Ela vem-me buscar à estação, e depois de jantar damos uma volta pela cidade com um amigo peruano, isto tudo claro depois de tomar um rejuvenescedor banho!
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2 Comentários
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Na verdade o museu foi a única coisa que valeu a pena visitar no Mónaco. Mas a ida ao Mónaco foi muito mais que isso. Como eu digo no outro dia, nunca me tinha sentido tão estrangeiro em lado nenhum desde África como aqui, e episódios como aquele quando vinha a sair da praia nunca mais vou esquecer. Valeu por tudo!
No Verão e na Europa, já nem equaciono outra maneira de viajar… É tão fácil e tão bom assim, e problemas há-os em todo o lado. Não é? 🙂
pensava que os senhore(a)s com mais de 70 anos partiam em cruzeiros luxuosos.. afinal enganei-me!!!! é só baleias a dar à costa pelos vistos,muahahaha
vá lá, aposto que a visita ao mónco valeu pelo museu. i’m i right?
na verdade fizeste uma coisa épica… gastar tão pouco em tantos dias.. eu agora com a história daqueles “amigos” também vou pensar duas vezes quando dormir numa pousada… até já estava a curtir da ideia do couchsurfing mas depois deste episódio, até tenho medo que me tragam disto para casa,lol.
gostei do teu último parágrafo para finalizar a tua épica viagem!