De autocaravana por Marrocos: dicas para preparar a sua viagem
Marrocos é um excelente destino para visitar de autocaravana. A poucos quilómetros de Portugal conseguimos encontrar paisagens e culturas muito diferentes do que estamos habituados na Europa e com infraestruturas de apoio ao autocaravanismo satisfatórias.
Contra todas as recomendações, por causa do calor, em Julho de 2022 decido rumar a Marrocos de autocaravana com a família. Sobre essa viagem pode ver o roteiro que escolhemos (e que recomendo) neste artigo: Roteiro de viagem em autocaravana por Marrocos no Verão
Para organizar a sua viagem a Marrocos em qualquer altura do ano, partilho abaixo algumas dicas que resultam da minha experiência e que espero que sejam úteis.
Como é conduzir em Marrocos? Não preciso de um 4×4?
Esta é talvez a questão que mais desmotiva muitos autocaravanistas a ir até Marrocos, mas não há razão para ter medo. As estradas em Marrocos são, no geral, de boa qualidade. Há autoestradas (com portagens) entre as principais cidades assim como estradas nacionais, normalmente com uma faixa para cada sentido. O volume de tráfego é semelhante ao de Portugal para estradas entre localidades de dimensões similares.
Eu, que estou habituado ao trânsito de Leiria, tenho de longe mais facilidade em conduzir no centro de Marraquexe a autocaravana, do que em Lisboa um automóvel.
No entanto, há algumas particularidades a ter em conta:
- Nas autoestradas é comum encontrar pessoas a pé, à boleia ou à espera do autocarro. Em alguns casos até vendedores de fruta na berma…
- Há um sistema de pagamento tipo “via verde”. As cabines com pagamento manual são as que têm apenas a seta verde;
- À entrada das localidades há, quase sempre, um controlo policial, devidamente sinalizado e muitas das vezes a fazer controlo de velocidade;
- Em zonas mais rurais (e mesmo em cidades) há muitas carroças puxadas por cavalos ou burros;
- Há ainda mais motas e mobiletes. As regras de trânsito, incluindo semáforos vermelhos, parecem não se aplicar a elas;
- As buzinadelas são constantes, mesmo que esteja a fazer tudo bem (incluindo parar no vermelho);
- Ninguém pára nas passadeiras para ceder passagem aos peões;
- Há rotundas em que se tem de dar prioridade à direita (a quem entra).
- Os estacionamentos são quase sempre pagos: há os que têm cancela e preço definido, mas também os estacionamentos de rua, praia ou mercado e um cobrador (normalmente com colete) que pede o que quer. Cinco a dez Dirhams é o suficiente para uma manhã ou uma tarde.
Por tudo isto é essencial adoptar uma condução defensiva. Pouco travão e pouco acelarador: é deixar fluir à mesma velocidade dos restantes veículos. Travagens bruscas para ceder passagem na passadeira são de todo desaconselhadas. É necessária atenção redobrada na mudança de faixa ou nas rotundas, especialmente em meio urbano, já que os veículos de duas rodas nos ultrapassam por todos os lados.
Nos controlos policiais deve de abrandar e esperar que eles mandem seguir. Nós nunca fomos mandados parar.
Parques de Campismo ou dormida livre
Pelo que percebo pernoitar fora de parques de campismo não é proibido na generalidade dos locais. No entanto, pelo que se lê nos comentários do Park4night, especialmente junto à costa, a policia aborda os autocaravanistas e manda-os para parques de campismo.
Nas grandes cidades (vimos isso em Essaouira, Marraquexe e Tanger) há sempre parques de estacionamento que permitem a pernoita, tendo mesmo uma tarifa definida para isso. Pode ser uma opção, mas não espere silêncio cedo já que os marroquinos gostam de aproveitar o fresco da noite.
Nesta viagem de Verão, apenas em três noites não ficámos em parque de campismo: na primeira, como chegámos já de noite, ficámos num estacionamento muito tranquilo junto à praia de Alcácer Ceguer, próximo do porto de Tanger Med. Na última, ficámos num parque de estacionamento no centro de Tanger e tivemos festa a noite toda. Em El Jadida deparámo-nos com o parque de campismo fechado, mas fomos convidados por um vizinho deste a estacionar num terreno junto de sua casa e aí pernoitámos. Hospitalidade marroquina no seu melhor, com oferta de chá e bolos, oferta de água ou banhos (que não necessitávamos pois vínhamos com os depósitos cheios) e convite para um mergulho na piscina.
O preço num parque de campismo para uma autocaravana com duas pessoas ronda os 7€ a 15€ (com piscina). Quase todos os parques onde ficámos tinham piscina, o que é uma mais valia quando se viaja com crianças e em dias de calor.
Especialmente nos mais baratos, a qualidade dos balneários não é a melhor: a limpeza é pouca, há muita coisa partida, e nem sempre há água quente para os banhos.
Organizar a viagem: documentação necessária
Para viajar para Marrocos é necessário ter passaporte. Não é necessário visto prévio e toda a burocracia se processa a bordo do ferry, como explico abaixo.
Para a viatura é necessário fazer-se acompanhar do livrete. Este tem de estar em nome de um dos passageiros. Se estiver em nome de empresa ou outro, é necessária uma declaração própria.
Quanto ao seguro, é necessária a carta verde com extensão territorial para Marrocos. Contactando a sua agência de seguros, em poucas horas eles emitem uma nova carta verde. No meu caso paguei 33€ por 18 dias. É também possível fazer um seguro à chegada a Marrocos. O valor é semelhante mas é mais tempo que perde na fronteira pelo que me parece melhor levar já tudo tratado.
É ainda de todo recomendável fazer um seguro de viagem para os passageiros, com cobertura de problemas de saúde e outros. Tendo o Cartão Europeu de Seguro de Saúde pode ainda requerer à Segurança Social a extensão para Marrocos.
Nós como viajávamos com crianças, embora tenhamos feito esse pedido, optámos por fazer também um seguro de viagem Família na IATI, já que este oferece apoio pediátrico, entre outros. Felizmente não foi necessário, mas uma escorregadela do meu filho na piscina quase nos levou ao hospital.
Passagem de ferry de Espanha para Marrocos (estreito de Gibraltar)
Para passar o estrito de Gibraltar há dois portos de embarque em Espanha: Tarifa e Algeciras. Do lado africano pode-se aportar na cidade de Tanger, no porto comercial de Tanger Med ou, em Ceuta. O que acaba por definir a escolha do porto de partida e chegada é essencialmente o valor da passagem. Por norma Tarifa – Tanger Ville é mais barato, mas depende da época. Com a pandemia houveram muitas alterações e, no nosso caso, o mais barato foi Algeciras – Tanger Med.
A compra dos bilhetes pode ser feita antecipadamente nos sites das companhias que efectuam as viagens, mas a verdade é que acaba por ficar mais barato comprar nas agências próximas dos portos. Por recomendação de outros colegas autocaravanistas, optámos por adquirir as passagens na Viajes Normandi em Algeciras. Mesmo sendo época alta (há imensos emigrantes marroquinos a deslocar-se de férias ao seu país no Verão) não tivemos problemas em comprar o bilhete para o próprio dia.
Uma das grandes vantagens da comprar do bilhete nesta agência, é que a data de regresso é aberta: no dia em que queremos regressar basta apresentarmo-nos no porto e embarcar.
O preço pago por mim, ida e volta (aberta), para 1 autocaravana até 6m, 2 adultos, 1 criança e 1 bebé foi de 470€.
O porto de Ceuta pode ser também uma opção, mas embora as passagens sejam mais baratas, a fronteira terrestre de entrada em Marrocos (Ceuta é território espanhol) é mais complicada. Muita confusão, mais tempo de espera, menos segurança, sendo por isso uma opção excluída pela maioria dos viajantes.
Na agência eles fazem câmbio para Dirhams e vendem cartões SIM. O câmbio é pouco vantajoso, mas trocámos algum dinheiro para dar para as primeiras portagens ou para algum gasto mais urgente, já que íamos chegar de noite a Marrocos. Vendem também cartões SIM, mas em Marrocos conseguem-se ofertas melhores.
A bordo do ferry
Todo o processo burocrático de entrada em Marrocos (quer de passageiros, quer de viaturas) é tratado a bordo do ferry. Por isso, quando sair da autocaravana leve os documentos pessoais e da viatura. Durante a viagem não pode voltar à autocaravana.
Para os passageiros é necessário preencher um formulário com os dados pessoais (leve caneta) e ir carimbar o passaporte num guichet próprio.
Dica: Neste tipo de formulários é necessário indicar uma morada em Marrocos. O importante é não deixar em branco: coloque a morada de um dos parques de campismo onde tenciona ficar. Ninguém vai verificar.
Atualmente (2022) é necessário ainda preencher um formulário relativo ao Covid que é recolhido por um funcionário do ferry. Teoricamente é necessário apresentar certificado de vacinação ou teste PCR, mas em nenhuma das viagens nos foi pedido nada.
Noutro guichet trata-se da entrada da viatura. Aí é necessário apresentar o livrete e o passaporte do proprietário, sendo-nos fornecido um documento de importação temporária da viatura. No meu caso questionaram-me porque, não sei porquê, no meu livrete não está indicada a data da primeira matricula da autocaravana. Não me pareceu que fosse impeditivo, mas mostrei ao funcionário o documento digital na aplicação id.gov.pt e tudo se resolveu.
Tenha atenção que apenas o proprietário e familiares directos (cônjuge, filhos/pais) podem conduzir a autocaravana em Marrocos.
Todo este processo, mesmo a preencher a papelada das crianças, foi tratado ainda o barco não tinha dobrado o molhe do porto de Algeciras. No restante tempo aproveite para passear pelo convés do ferry e apreciar as vistas para o rochedo de Gibraltar e para o Jebel Musa, os dois “Pilares de Hércules” que marcam a divisão do Mediterrâneo para o Atlântico.
Entrada em Marrocos
Assim que se sai do ferry há uma primeira verificação dos documentos. Seguimos depois as placas que indicam saída, até ao controlo aduaneiro. Aqui é-nos questionado se temos alguma bem a declarar, se trazemos drones (proibidos em Marrocos) ou armas e é feita uma inspecção ao interior da autocaravana com um cão polícia (nada de muito evasivo).
À saída do porto há uma zona com lojas onde é possível cambiar dinheiro, comprar cartões SIM e fazer o seguro da viatura.
Saída de Marrocos
Se o processo de entrada em Marrocos é relativamente rápido, a saída é bem mais demorada. Demorámos umas duas horas para passar todos os controlos, mais uma hora à espera de embarcar. Os atrasos são de tal ordem que nem se percebe em que horário se está a partir.
À chegada ao porto é necessário ir ao balcão da companhia trocar o voucher comprado na agência em Espanha por um bilhete. Segue-se depois o controlo de passaportes, com carimbo da saída, o controlo aduaneiro para a saída da viatura (é necessário apresentar o cartão que nos é dado no barco à chegada) e depois a inspecção das viaturas.
Depois de um primeiro controlo por um agente que verifica o interior da autocaravana, espera-nos uma fila para passagem das viaturas por um scanner e depois a inspecção por um cão polícia. A documentação e a abertura de todas as portas ainda será novamente exigida à entrada do ferry.
Em Espanha o processo é rápido. Pode haver novamente pedido para abrir portas, ou fazer inspecção com o cão.
GPS e orientação em Marrocos
Durante a viagem utilizámos sempre o Google Maps para nos orientarmos e não tenho qualquer razão de queixa. É possível fazer download dos mapas para utilizar offline, mas como certamente vai acabar por comprar um cartão SIM, isso não é problema.
As estradas estão de um modo geral bem sinalizadas e é fácil seguir as rotas principais. Nas auto-estradas a sinalização está sempre em alfabeto Árabe, Berbere e Romano.
Cartão SIM com Internet em Marrocos
Como cheguei de noite e cansado de muitas horas de viagem, não comprei o cartão na fronteira. Fi-lo no dia seguinte na primeira área de serviço da autoestrada. Aí, talvez também por ser época de chegada dos emigrantes, havia um quiosque da Maroc Telecom a vender os cartões. Por 100MAD compra-se um cartão com 10Gb de tráfego. É necessário apresentar o passaporte. Os atenciosos funcionários tratam de o colocar no telemóvel e garantir que fica operacional.
Dinheiro: câmbio ou cartões
Para além de alguns euros em numerário, a grande parte dos pagamentos durante a viagem foi feita com recurso ao cartão Revolut. Para quem não conhece, trata-se de um cartão “multibanco” pré-pago (carrega-se através da App) que permite fazer pagamentos e levantamentos no estrangeiro (quase) sem comissões. Só se paga uma comissão mínima em levantamentos a partir de um determinado plafond mensal.
Em alguns casos pode ainda haver cobrança de taxas pelo banco marroquino. Um dos bancos que não cobra taxas (não sei se há outros) é o Al Barid. Este banco pertence aos correios marroquinos e é bastante comum de encontrar.
Os pagamentos (supermercado, combustíveis, etc) são sempre livres de comissão e normalmente a taxa é mais vantajosa do que nas casas de câmbio. Paguei sempre as compras de supermercado e os abastecimentos de gasóleo desta forma.
Onde fazer compras (alimentação, etc)
Em Marrocos em todas as esquinas encontra um mini-mercado onde pode encontrar de tudo um pouco, embora com escolha limitada. Nas grandes cidades encontra grandes hipermercados muito semelhantes aos nossos. A principal cadeia é o Marjane, sempre com grandes parques de estacionamento exteriores para estacionar a autocaravana. Normalmente o parque é partilhado com outras grandes lojas de roupa, electrodomésticos e até mesmo a Decathlon.
Na nossa viagem (Julho 2022) deparámo-nos com preços consideravelmente superiores aos praticados em Portugal na generalidade dos produtos. Na Decatlhon então, era tudo cerca de 20% mais caro.
Para a compra de frutas e vegetais vai encontrar ao longo da estrada imensas bancas onde os agricultores locais vendem os produtos que cultivam.
Bebidas alcoólicas em Marrocos
O consumo de álcool é proibido pela religião, mas não pela lei marroquina. Encontrá-lo à venda é que nem sempre é fácil. Nos supermercados Carrefour que visitámos encontrámos sempre uma secção com venda de bebidas alcoólicas.
É comum encontrar cervejas portuguesas à venda, mas os preços são bastante altos. Um lata de de 33cl de Sagres custa 13MAD (1,3€).
Há também grande variedade de vinhos marroquinos (sim, produz-se bastante vinho em Marrocos). As garrafas mais baratas começam em 50MAD (5€).
Cuidados de saúde e higiene
Embora não haja vacinas obrigatórias para ir a Marrocos, é sempre boa ideia ir à consulta do viajante onde será informado dos cuidados a ter e poderão ser recomendadas algumas profilaxias. Os cuidados a ter na viagem são sobretudo a nível da alimentação e águas e, no contacto com animais.
Quanto à alimentação, devem ser evitadas comidas não cozinhadas, como saladas e, bebidas com gelo. A água para beber deve ser sempre engarrafada. Experiência pessoal: comemos frequentemente saladas, tanto na autocaravana como em restaurantes e não tivemos problemas.
Para a água na autocaravana, especialmente por ir com crianças, comprei um desinfectante para misturar com a água do tanque sempre que se enche. É uma segurança extra.
Deve também se evitado o contacto com cães, gatos e macacos, pois estes podem transmitir a raiva, não só por mordedura mas também por arranhadela. A raiva pode ser mortal se não for iniciado o tratamento de imediato. Para isso é importante ter um seguro de viagem que cubra despesas médicas.
Já foi a Marrocos de autocaravana e a sua experiência foi diferente, ou acha que falta alguma coisa neste artigo?
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8 Comentários
Os comentários estão encerrados.
Estou a pensar visitar Marrocos em 2024, gostei das suas dicas, faceis e diretas
obrigado
obrigado pela informação penso para o ano Maio 2024 ir de autocaravana aos Marrocos
Li e reli o seu artigo. Está muito vem estruturado. É conciso, claro e muito útil. Bem-haja!
Obrigado pela dica. Boas fronteiras..
Olá Maria, fiz junto da companhia onde tenho o seguro da autocaravana, que é a Fidelidade. O seguro feito na fronteira é perfeitamente válido. Felizmente, não tenho experiência em ter de activar nenhum deles, mas se fosse o caso, penso que preferia tratar com o meu agente de cá, do que com os de lá.
Pode indicar o nome da seguradora na qual fez extensão do seguro para a estadia em Marrocos? Em alternativa, o seguro à entrada de Marrocos, o dito seguro de fronteira é mesmo verdade e funciona? Obrigado.
Obrigado Paulo! Votos de boa viagem!
Obrigado pela partilha, parece bastante útil e vai ajudar na viagem que preparo!