Deserto de Wadi Rum, Jordânia
Petra e Wadi Rum foram os dois locais que me fizeram ir à Jordânia. Tudo o mais foi um bónus, neste interessante país do Médio Oriente.
Aliás, a Jordânia foi a minha primeira experiência no Médio Oriente, com o respectivo choque cultural que isso implica. Depois de três dias de visita a alguns locais em redor da capital, Amman, um dia de atribulada viagem até Petra e outro de visita às ruínas, viria a terminar a minha viagem pela Jordânia no deserto de Wadi Rum, no sul do país.
Era a minha primeira viagem sozinho mas para a qual constantemente fui arranjando companhia. Desde Ammam que vinha viajando com duas raparigas holandesas, uma delas com ascendência marroquina. Depois de Petra queríamos ambos ir até Wadi Rum e foi no hostel em que ficámos, o Valentine Inn, que tratámos de agendar um tour para o dia seguinte.
O preço pedido foi de 40JD (aproximadamente o mesmo em Euros ao câmbio de 2008, um pouco mais agora) e incluía a viagem de até Wadi Rum, tour de um dia inteiro pelo deserto, jantar e dormida numa tenda beduína e, viagem para Aqaba no dia seguinte.
Saímos então de madrugada rumo a Sul. A primeira paragem é no centro de acolhimento para pagar a entrada no parque. Custa 2JD. Depois, na aldeia de Rum juntamo-nos ao resto do grupo e fazemos a primeira paragem, num mini-mercado, para comprar comida para o almoço que será no deserto.
O calor é abrasador. Vamos seguindo pelo vale até à base de uma montanha onde, quase no topo, se avista uma árvore. Uma pedra a seguir à outra leva-nos ao topo. Lá em cima está um pequeno lago de água verde conhecido como Fonte de Lawrence.
Lawrence da Arábia é aliás personagem omnipresente neste vale. Wadi Rum serviu de cenário a muitas das cenas do galardoado filme de 1962. Logo à entrada do parque, avistam-se as montanhas apelidadas de “Sete Pilares da Sabedoria”, título do livro em que T E Lawrence relatou as suas aventuras pelas arábias no inicio do século XX.
Com o avançar do dia a temperatura continua a aumentar. Exploramos alguns vales, subimos a dunas que regalam os olhos com paisagens de outro mundo.
Uma rapariga italiana que decidiu vir de havaianas desepera. A areia está tão quente que queima os pés. Numa das paragens podemos observar gravuras rupestres que testemunham a presença humana no local e mostram mesmo que há alguns séculos esta região não seria tão árida como o é agora.
Pela hora de maior calor paramos numa fenda rochosa que nos oferece alguma sombra. O guia prepara um chá enquanto comemos os nossos almoços.
De tarde percorremos mais alguns quilómetros pelas areias até ao arco de Burdah, um dos arcos de rocha existentes em Wadi Rum.
Depois disto fomos levados até ao acampamento onde íamos jantar e passar a noite. Embora em pleno deserto, era mesmo possível tomar um pequeno e rápido duche com água que eles transportam até aqui.
O jantar foi galinha cozinhada de fora tradicional, num buraco na areia onde eram colocadas as brasas, o tacho e tudo tapado.
À noite, dado o calor, todos optamos por mudar as camas para fora da tenda e dormir ao relento. A noite para dormir na rua não podia ter sido melhor escolhida: era 12 de agosto e a chuva de estrelas das Perseidas estava no seu auge.
Explorar Wadi Rum de forma independente: o 2º dia
A decisão já tinha sido tomada na noite anterior: Wadi Rum era demasiado espectacular para ficar só um dia. Para além disso, apenas um tour de jeep, embora permitisse ver uma enorme quantidade de maravilhas num só dia não dava para sentir a grandeza do deserto. Fiquei assim mais um dia.
Chegou assim o momento duma difícil despedida das minhas fantásticas companheiras de viagem. Fui de autocarro com o resto do grupo até ao parque de campismo de Beit Ali.
Como constatei que a comida que eles ali vendiam era paga a preço de ouro, fui até uma pequena aldeia que se avistava a poucas centenas de metros em busca dum minimercado. A tarefa que podia parecer fácil revelou-se um pouco complicada. Os minimercados não têm qualquer tipo de anuncio ou publicidade, especialmente num local como este onde não vem ninguém de fora. Depois de vaguear um pouco pelas ruas, acabei a ser convidado por um senhor que estava no momento a regar a horta (sim, há hortas no meio do deserto) a entrar e tomar um chá. Acho que ele leu nos meus olhos o que procurava. Terminado o chá levou-me até um anexo do outro lado da casa onde a mulher e a filha tomavam conta duma pequena mercearia. Comprei mantimentos para aquele dia todo pelo preço que me custaria uma garrafa de água no parque de campismo.
Decidi então pôr-me a caminho. Bebi quase um litro de água antes de sair e levei litro e meio para o dia todo, mais a comida. A zona onde me decidi aventurar fica já fora da reserva de Wadi Rum e portanto não há qualquer indicação dos pontos de interesse para além dum mau mapa afixado no parque de campismo.Comecei por percorrer um vale de argila branca seca que começava ao lado do parque, e se dirigia às montanhas. As distancia no deserto enganam muito, e aquilo que parecia logo ali, transformou-se em quase 3km.
Se eu fosse supersticioso, ou não confiasse em mim, tinha voltado para trás aqui. Ia a caminhar sozinho, para o selvagem, com o meu chapéu de Alex Supertramp (aquele do filme “Into the Wild”) quando encontrei um autocarro abandonado. Foi o maior momento do dia. O autocarro estava ali no meio daquele mar de argila seca mas em muito bom estado.
Como não tinha qualquer mapa ia mesmo à aventura. Marquei como objectivo contornar uma das montanha que estava à minha frente. Nela encontrei algumas fendas na rocha, ainda húmidas onde era possível ouvir e ver muitos pássaros. O mais fantástico deste deserto são as cores: Areia cinzenta, vermelha e amarela, o verde das plantas e o castanho das montanhas.
A dada altura encontrei também uma estranha construção em ruínas ali no meio do nada. Ainda ponderei ser um alvo de teste para os aviões militares que estavam sempre a passar 🙂 Mas não. Quando regressei ao parque e vi o mapa que lá estava afixado pude concluir que eram os restos do cenário dum filme francês.
Pela hora em que me deu a fome, encontrei mais uma fenda na rocha, semelhante àquela onde havia almoçado no dia anterior e aí parei para comer e dormir a sesta. Estive lá umas duas horas e depois continuei.
Estava já a um pouco mais de meio do meu périplo e ia seguindo os rastos dos pneus que haviam na areia. Ao longe comecei a ver alguns jeeps parados junto a uma interessante formação de rocha em forma de cogumelo. Ao que parece é mais uma das atracções do deserto. Entretanto eles saíram de lá quando eu estava a chegar, olhando para mim com uma cara estranha e tirando umas fotos… porque seria? É assim tão estranho andar um tipo sozinho no deserto? Se calhar até é.
A partir daqui começou a levantar-se uma pequena tempestade de areia que me acompanhou até ao campo. Andei o dia todo preocupado com um dos grandes perigos do deserto: os escorpiões. Por fim, numa zona que estava cheia de ossadas de animais lá vi um, que mais assustado comigo do que eu com ele fugiu a toda a velocidade.
À chegada voltei a passar pelo mini-mercado para comprar mais alguma comida para o jantar: um dia de caminhada tinha-me aberto o apetite. Junto à aldeia e ao parque passa um comboio de transporte de minério numa ramificação da linha construída pelos otomanos.
Ao todo, pelo que pude ver depois no Google Earth fiz cerca de 12km neste dia.
Os gastos deste dia foram:
- Campismo: 8JD
- Autocarro Rum – camping: 1JD
- Água (no acampamento): 1JD
- Comida: 4,2JD
O meu álbum no Flickr com todas as fotos do primeiro dia em Wadi Rum: Tour em Wadi Rum
O meu álbum no Flickr com todas as fotos do segundo dia em Wadi Rum: Caminhada em Wadi Rum
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- Médio Oriente
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