Guia de viagem para Roma
Dois dias em Roma
A viagem começou em Roma, depois de um voo TAP a partir de Lisboa que chegou a Fuimicino por volta das 22:45. Sendo esta uma viagem low cost, a primeira noite foi passada no aeroporto.
A primeira impressão fui um pouco negativa, tenho que o reconhecer. Para nós que estamos habituados à vivacidade das cores dos nosso edifícios, a cor de tijolo predominante em todos os edifícios dá à cidade um ambiente pesado e um aspecto sujo, que se faz sentir sobretudo nos subúrbios percorridos nos últimos metros no comboio.
Primeiro Dia
Cheguei assim à cidade eterna pelas 7 da manha com uma vontade de “devorar” tudo. Fui logo ao hostel onde tinha feito a reserva para as duas noites, e como é óbvio, àquela hora ninguém me atendeu (erros de viajante novato). Deixei então a mochila na estação, comprei um bilhete de um dia, valido para autocarros e metro, por 4€, e dirigi-me às catacumbas.
As catacumbas são cemitérios cristãos, que ficam fora da cidade, escavados nas profundezas da terra. São constitutivos por uma rede labirintica de túneis escavados numa terra de origem vulcânica que em contacto com o ar solidifica como se fosse rocha. Foram construídos devido a falta de espaço para sepultar os mortos. Ao contrario dos Romanos, os cristãos acreditam na ressurreição dos mortos, daí que conservem o corpo em vez de o cremarem. Visto que as primeiras comunidades eram pobres e não tinham dinheiro para terrenos para sepultar tantos corpos, a solução foi escavar túneis. Visitei as catacumbas de S. Sebastião e de S. Calisto.
Se todos os caminhos vão dar a Roma, sem dúvida que a Via Appia é a mais enigmática de todas. Foi por ela que caminhei, tal como fez S. Pedro.
É pouco mais de 1km, pelos campos, sempre rodeados de ruínas romanas. Pelo caminho passei pela capela de “Quo Vadis” local onde segundo a tradição Pedro se terá encontrado com Cristo quando se dirigia para Roma para aí ser martirizado, e Ele lhe perguntou: “Quo Vadis?” (Onde vais?).
O meu plano para Roma, era ver o máximo possível portanto, uma vez que ali perto ficava a igreja de S. João de Latrão fui visita-la, isto depois de comer uma “bucha” tradicionalmente portuguesa de pasteis de bacalhau. Para alguém acostumado à pequenês de Portugal, qualquer igreja de Roma é espantosa! Apercebi-me disso logo aqui, numa das maiores de Roma e que tem no interior colossais estátuas dos 12 apóstolos:
De tarde comecei por ir ao hostel fazer o check-in e deixar a mochila. Fiquei no Navigator hostel, que prima pela sua localização e preço e pela estranha simpatia das duas raparigas que o dirigem. Por 18€ em época alta, tem-se direito a uma cama a 5 minutos a pé do coliseu e da estação de comboio e a um bom pequeno almoço. Estando ali tão perto, comecei a Roma “romana” pelo Coliseu.
As filas a entrada desencorajaram-me logo. Roma nestes dias de Verão está sobre-lotada, e visto que só ia passar dois dias na cidade decidi observa-lo apenas por fora e ao maravilhoso arco de Constantino.
Vislumbrei pela primeira vez a cúpula da Basílica de S. Pedro enquanto visitava o museu do monumento a Vittorio Emanuelo primeiro rei da Itália unificada. Todas as igrejas de Roma parecem querer imitar a obra prima de Miguel Ângelo o que pode confundir os mais incautos.
Toda a cidade está repleta de ruínas, e onde não as há, estão a decorrer escavações. As duas obras que mais me impressiona (mesmo mais que o coliseu), são a coluna de Trajano, que com 38 metros de altura, se mantém de pé há 1900 anos para contar a história das campanhas militares contra os Dácios, e o Panteão, a mais bem conservada obra Romana, pioneira no uso do betão, com o seu belíssimo óculo por onde os raios de sol entram para se repartirem em sombras geométricas.
Felizmente que em Roma a água é um direito do qual todos podem usufruir gratuitamente nas inúmeras bicas de onde jorra agua fresca. Foi um dos factores que mais me fez sentir em casa, não por comparação com o meu país, onde a água publica é sempre impropria para consumo, mas pela sensação de segurança que este liquido transmite, especialmente quando se caminha para nações onde esta é dos bem mais valiosos da terra.
Se a Itália foi um país de artistas, em Roma a Piazza Navorna é a prova de que ainda o é. Com um hectare de área não está coberta de relva verde e linhas brancas. É ocupada por muito mais do que 22 artistas. São às dezenas, se não centenas, desde músicos a pintores e escultores que têm a sorte de viver no país que mais apercia as belas artes.
Roma não seria a mesma sem a fonte de Trevi. Outrora fim dum dos principais aquedutos de Roma, a versão que hoje vemos é o a personificação do romantismo que paira sobre a cidade, cuidada por zelosas policias que fazem soar o estridente apito quando alguém ousa tocar na sua água, tarefa complicada quando se têm algumas centenas de turistas em seu redor.
Sair da pequena praça onde esta se encontra pode ser uma aventura só à altura dum escuteiro bem preparado com mapa e bússola.
Segundo dia em Roma
Ir a Roma e não ver o Papa, é como … ir a Roma e não ver o Papa. Mas foi isso que me aconteceu na minha primeira visita à cidade: o Papa andava pela Austrália por ocasião da 23ª Jornada Mundial da Juventude. O meu segundo dia em Roma foi portanto dedicado ao Vaticano.
A ténue linha de fronteira que separa o Estado do Vaticano da República Italiana está entre as mais fáceis de transpor no mundo. Livremente qualquer um, cristão ou idolatra, entra-se naquela que já foi a capital do mundo.
Segurança só a entrada da basílica e do museu. Para além das armas que não passam pelo controlo de raios-x, são também barradas as senhoras que queira entrar com os ombros descobertos, decotes bombásticos ou saias demasiado curtas, pois seria um atentado à santidade do lugar.
Valia por si só uma ida ao Vaticano, mas por estar lá, no meio duma das maiores (se não a maior) colecção de arte do mundo, “La Pietá” de Miguel Ângelo é pouco mais do que “mais uma” escultura. Para mim é sem duvida a mais bela obra de arte que vi até hoje.
Não sei o que recomende, se entrar na basílica pela porta principal e ser longo confrontado com tamanha beleza, se fazer o caminho pelos subterrâneos onde se encontram os túmulos papais, entre os quais o de S. Pedro, para depois, como que a ascender da morte entrar gloriosamente no centro da basílica por de baixo do altar mor.
Imagine que para ir de Portalegre a Castelo Branco, tinha de dar a volta por Espanha. É o que acontece com o Vaticano. Para ir da praça de S. Pedro para o museu do Vaticano, tem de sair e contornar as muralha até à entrada.
Visitar o Museu do Vaticano sem guia é uma prova de fogo aos níveis de ansiedade. A qualquer momento podemos cruzar uma porta e deparar com a Capela Sisitna. Enquanto isso não acontece, deambula-se por divinas salas onde as peças estão distribuídas por temas. Deixo alguns exemplos:
Foi com muito gosto e algum espanto que verifiquei uma certa abertura pelo Vaticano ao exibir lado a lado numa sala dedicada à ciência e astronomia, as esferas armilares que representam os modelos heliocêntrico ou geocêntrico, que literalmente, fizeram rolar algumas cabeças, e são ainda hoje motivo de indignação para muitos.
Depois de 3 horas a percorrer estas galerias é chegado o ponto alto da visita: a Capela Sistina. A julgar pela quantidade de pessoas que se concentra naquele espaço, creio que a igreja não estaria com falta de participantes na missa se Miguel Ângelo tivesse dado um ar da sua graça em cada capela do mundo. É proibido fotografar lá dentro, assim como sentar no chão ou nas escadas do altar. Não há problema, pelo menos para mim. Costumo respeitar quando não se podem tirar fotografias, e aqui, sem duvida que não são necessárias. Tal como “La Pietá”, também aqui nunca nenhuma fotografia ia captar a plenitude de estar ali mesmo debaixo do tecto mais belo do mundo (a seguir ao céu estrelado do deserto!).
Outra obra que me marcou foi a “Transfiguração” de Rafael. Mais que a Capela Sisitna, aqui é criado um ambiente verdadeiramente propicio à contemplação da beleza da pintura. Uma enorme sala escura, com as paredes cobertas de tapeçarias, e ao centro 3 obras deste génio, discretamente iluminadas. Mais uma que vale por si só uma ida ao Vaticano:
Cinco horas depois de la ter entrado desci a escada em dupla espiral cónica que nos trás de volta o mundo real.
Já tinha visto o que mais me interessava em Roma. O resto do dia foi passado portanto a deambular pela cidade, e alguns cantos mais afastados do centro.
Pelo caminho, encontrei uma praça, que nem vem nos mapas, mas que depois de um dia a caminhar por Roma, foi eleito por mim o melhor lugar da cidade:
Tem duas grandes fontes em forma de banheira, óptimas para refrescar os pés. Não fui o único a ter essa ideia. Ainda por lá apareceu um policia a dizer que aquilo não era sitio para tomar banho. Todos tiraram os pés até ele virar costas.
Isto é o que resta do Circo Máximo de Roma. Serve hoje para umas corridas a pé 🙂
A Basílica de S. Paulo fica um pouco afastada do centro da cidade, numa zona muito calma, com poucos turistas, e é quase tão grandiosa como a de S. Pedro. Tal como já me tinha acontecido em S. João de Latrão, acabei por entrar pela porta lateral, julgando estar na principal. Só lá dentro dei por o erro fatal de quem está habituado a basilicas mais modestas.
Terminei o dia, já de rastos, na ultima estação de metro, na E.U.R., Exposição Universal de Roma. É uma zona limítrofe da cidade, construída à semelhança do nosso Parque das Nações para a exposição Universal de Roma, em 1942. Alberga hoje grandes empresas, e museus, que aquela hora ja estavam fechados.
Ao regressar ao hostel foi surpreendido com 4 raparigas brasileiras que tinham acabado de chegar a Roma depois de algumas aventuras por Veneza. Óptima oportunidade para praticar o português, língua que previa vir a falar pouco nas seis semanas seguintes.
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2 Comentários
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BOA TARDE.
MUITO INTERESSANTE A SUA VISITAÇÃO. MUITO MAIS INTERESSANTE, O TRAJETO QUE FIZESTE NA VIA APPIA antiga, SAINDO DA PORTA LATINA, tendo percorrido mais de 3 KM, passando pelo “Mausoleu de Romulo” e outros.
VIAJEI PARA ITALIA EM JANEIRO/2.009.
PARABENS.
ROGÉRIO