Ilha de Moçambique
Vasco da Gama terá sido o primeiro português a chegar à Ilha de Moçambique na sua viagem para a Índia. Começa aí a ligação histórica deste pedaço de terra no Índico, a Portugal e aos descobrimentos.
A ilha depressa se tornou num importante entreposto comercial, onde os portugueses trocavam panos e missangas da Índia por ouro, escravos, marfim e pau preto de África e onde construíram igrejas, palácios e fortalezas.
Devido a ataques ingleses e holandeses nos séculos XVII e XVIII e depois, com a independência do Brasil e o fim da escravatura, a ilha perdeu a importância de outrora.
Em 1991 a UNESCO classificou-a como local património da humanidade, dada a sua importância histórica e o património arquitectónico aí existente.
A ilha fica no norte de Moçambique, na baía de Mossuril, a cerca de 3km da costa, encontrando-se ligada ao continente por uma ponte desde os anos 1960, só possível dada a pouca profundidade das águas.
Com cerca de 3km de comprimento e 400m de largura a Ilha pode-se dividir em 2 partes: a “cidade de pedra e cal”, a zona nobre onde estavam os palácios e fortalezas, e a “cidade de macuti“, zona mais pobre de construções tradicionais.
Locais a visitar
A ilha de Moçambique é um local para visitar com calma. Até eu que não gosto de ficar muito tempo no mesmo lugar, teria ali ficado uma ou duas semanas sem me fartar. Infelizmente a minha viagem a Moçambique não deu para isso.
As 24 horas que lá estive com a minha irmã souberam a pouco e a vontade de ficar mais tempo deve-se não só ao reencontro de pequenos luxos que não tinha encontrado noutros pontos do interior do país, como é o caso do doce do café ou do salgado do mar, mas sobretudo ao facto de estar a pisar a mesma terra que os grandes descobridores portugueses e alguns familiares meus que viveram na ilha há alguns anos atrás.
Há poucos turistas: cruzei-me com uma meia dúzia enquanto lá estive, mas as infraestruturas (restaurantes, bares e hoteis) estão preparadas para receber muito muito mais. Moçambique (Ilha), tem a magia das portas entre-abertas que nos convidam a entrar e descobrir.
Infelizmente, aparte do Palácio de São Paulo, recentemente restaurado, o restante património encontra-se muito mal estimado, seja ele particular ou do estado, como anunciam as constantes placas coladas às fachadas.
Palácio de São Paulo ou Palácio dos Capitães-Generais
Construído em 1610 o palácio de São Paulo funcionou nos primeiros anos como colégio dos Jesuítas, tendo na reforma pombalina sido convertido em palácio do governador de Moçambique, função que manteve até 1898, ano em que a capital da colónia moçambicana passou para Lourenço Marques, actual Maputo.
O Palácio foi recentemente restaurado e está de novo aberto ao público. Aqui revela-se mais uma vez a magia de visitar a Ilha: as visitas são guiadas e os visitantes convidados a descalçar-se à entrada, de modo a conservar os originais tapetes de arraiolos que cobrem o chão. Dada a escassez de visitantes, a recepção é calorosa e o guia parte de imediato para a visita, nem que seja com uma só pessoa.
No jardim em frente ao palácio existe uma estátua de Vasco da Gama e estende-se a Ponte da Alfandega.
A entrada na fortaleza de São Sebastião deve ser paga aqui e o recibo mostrado ao militar que a guarda para aceder ao interior.
Preço das entradas:
- Museu de São Paulo: 100 Meticais
- Fortaleza: 200 Meticais
Fortaleza de São Sebastião
Construída no século XVI pelos portugueses afim de constituir um porto seguro para as naus que faziam a carreira da Índia, a fortaleza de São Sebastião constitui um dos mais representativos exemplares da arquitectura militar portuguesa na costa oriental de África.
No topo norte encontra-se a capela de Nossa Senhora do Baluarte, que é tão só a mais antiga edificação colonial de toda a costa do Indico e o mais antigo edifício construído pelos europeus no hemisfério Sul, assim como o único exemplar de arquitectura Manuelina no país. Um Monumento ÚNICO!
Dá para imaginar o que sente um viajante português quando se aproxima deste local.
Falta falar da peculiaridade que é uma visita a esta fortaleza. Só há um militar a guardar o portão de chapa das obras à entrada e depois ficamos por nossa conta. À entrada, uma maqueta corroída pela salinidade do ar, está ainda mais decadente que a própria fortaleza. Subimos as muralhas onde os canhões ainda esperam o inimigo e descemos à procura do caminho para a capela da Senhora do Baluarte: estão todas fechadas. Não há qualquer indicação: somos nós que temos de abrir as portas se queremos visitar. O mesmo se repete à entrada da capela. Quando saímos, temos de abrir o portão por fora, passando os dedos pelas grades, já que o guarda foi entretanto tomar uma cerveja.
Fazemos o mesmo!
Hospital de Moçambique
Outrora uma referência da medicina em toda a costa oriental de África, o hospital de Moçambique parece hoje um edifício abandonado.
Encontra-se no entanto em actividade nalguns dos pavilhões por de trás do edifício principal. O hospital era constituído por vários blocos, um para cada especialidade, uma filosofia muito em voga na época e que se pode encontrar noutros locais, como por exemplo no Hospital da Santa Cruz e São Paulo em Barcelona.
Igreja de São Francisco Xavier
Esta pequena capela encontrar-se hoje à saída da ponte que une a ilha a continente e foi construída no local onde o Apóstolo do Oriente, São Francisco Xavier terá rezado antes de partir para a Índia.
Casa de Luís de Camões
Nada mais há aqui que esta porta com uma placa que a anuncia como sendo a casa onde viveu o grande poeta Luís de Camões. Poucas certezas deixam uma placa e uma porta fechada, por muito bonita que ela seja.
Capela de Santo António
Na costa oriental da ilha encontra-se a Capela de Santo António, local onde existiu o primeiro forte da ilha. Da praia em redor partem os pequenos barcos de pesca sobre um areal repleto de conchas e búzios.
Cidade de Macuti
A chamada cidade de macuti é a zona a sul da ilha onde vivem as pessoas mais pobres. As casas encontram-se a um nível inferior em relação às ruas que conduzem à cidade de pedra e cal e delas temos uma vista para os seus telhados de macuti: tiras de coqueiro secas usadas como telhas.
Outros locais e actividades
É certo que a Ilha de Moçambique não se resume a isto, há muito mais património e locais de interesse. Exemplo disso é a Igreja da Misericórdia e o seu museu de arte sacra, o Templo Hindu, as Mesquitas, a Igreja da senhora da Saúde ou os vários jardins com os seus coretos.
“E praia?”, perguntaram alguns. A Ilha não é considerado propriamente um local de praia, embora haja bons areais de águas quentes e transparentes e palmeiras a darem um ar tropical.
Entre as zonas recomendados para praia nos arredores da ilha estão a praia das Chocas e a Cabaceira Grande, numa península a norte da ilha, uns 50km por terra. É possível também ir de barco, quer em serviços regulares, quer alugando um barco particular. Por toda a ilha somos abordados por pessoas que nos querem alugar um. O preço ronda os 1500MT.
Para outras actividades, recomendo que espreitem o site www.ilhablue.com, de uma empresa que organiza várias actividades na ilha, como passeios de bicicleta, dhow ou kayak.
Como podem ver, o que não falta são razões para ficar na ilha uma ou duas semanas e ainda assim achar pouco.
Onde comer
Como comecei por referir nesta página, uma das mais valias da ilha é o encontro de alguns luxos gastronómicos difíceis de encontrar noutros locais de Moçambique.
Destaco desde logo o café e os pasteis de nata, autênticos e deliciosos que se podem tomar num peque no estabelecimento junto à porta da capitania.
Por toda a ilha existem imensos restaurante, cafés e bares, desde os mais orientados para o turismo aos mais tradicionais. Nós escolhemos comer na barraca da Dona Sara. As barracas são pequenos restaurantes que ficam no largo em frente ao hospital. A comida é muito boa e confeccionada de forma tradicional. Recomendaram-nos a Dona Sara e ficámos fãs do caril de camarão.
Mapa da Ilha
Como chegar
Ainda que não tenha de dobrar o Cabo da Boa Esperança, por mares nunca dantes navegados, chegar à Ilha de Moçambique, não é propriamente rápido nem fácil se o quiser fazer recorrendo aos transportes públicos.
A cidade mais próxima é Nampula (capital da província do mesmo nome), onde pode chegar de avião (a partir de Maputo, Beira, Johannesburgo, entre outras cidades vizinhas) de comboio (a partir de Cuamba) ou de autocarro a partir de qualquer grande cidade do resto do país.
Eu cheguei a Nampula vindo de comboio de Cuamba, depois de entrar no país pelo Malawi.
Uma vez em Nampula, o troço final de 200km até à costa é o mais complicado. Eu e a minha irmã, mesmo com ajuda dos missionários com quem ficámos na cidade tivemos alguma dificuldade em encontrar o local de onde partia o minibus, isto porque recentemente foi criado um terminal rodoviário fora da cidade, a uns 12km do centro, de onde partem os minibus para todos os destinos a leste de Nampula. Para lá chegar há minibus que fazem a ligação com o centro da cidade, a partir da estação de comboios.
Depois, há a questão dos horários: no dia anterior à nossa viagem, disseram-nos que as partidas eram pelas 5 da manhã, mas quando lá chega-mos somos informados que “só lá para as 8h00”. Voltamos às 8h00 e esperamos. Às 10h00 o minibus ainda não está cheio e continuamos à espera. Às 12h30 por fim, saímos. A viagem dura 2h30. Há chegada à ponte mudamos para um minubus mais “mini”, para passar a ponte. Tudo incluído nos 190Mt que pagámos em Nampula.
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3 Comentários
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achei interessante partilhar o video qui encontrei sobre a ilha de Moçambique no tempo dos portugueses quando inauguraram a ponte nova em 1967. uma autentica romaria como em qualquer região do norte de Portugal, com o padre a benzer a obra, o desfile da banda dos músicos, os escuteiros, os carros alegóricos até um carro com uma casinha dos locais com o teto em palha? as rainhas do desfile, o fogo de artifício, os sinais de trânsito novos, e um grande número de carros á espera para estrear a ponte nova:
https://www.youtube.com/watch?v=pLXQ5TbNnHU
deseja as maiores felicidades ao povo de Moçambique e a salvaguarda das belezas desse país
Angela
Olá Angela! Só agora vi o video e adorei! Que fabuloso documento histórico. Obrigado por partilhar.