Iraque
Porquê o Iraque
Para quem esteve minimamente atento às aulas de história é fácil perceber que o Iraque seria um destino de excelência para qualquer amante da história da humanidade. No entanto, com a instabilidade e as sucessivas guerras que ocorreram no país nas últimas décadas, visitar o Iraque não era opção para maioria dos viajantes. E depois, quanto mais o fruto é proibido, mais é apetecido.
Posso mesmo afirmar que desde que tenho noção do Mundo que desejava lá ir. Desde os primeiros anos da escola que me fascinavam os locais berço da civilização, as ruínas Ur e Uruk, os grandes rios, cidades bíblicas como Nínive, entre tantos outros.
Agora, com o fim da guerra e a facilidade nos vistos, não podia adiar mais.
É seguro viajar no Iraque?
Quão louco tens de ser para viajar para o Iraque? Pouco. Apenas o suficiente para vencer o medo e o preconceito que os media te transmitem.
Os iraquianos revelaram-se um povo extremamente acolhedor: a toda a hora tive convites para um chá, ou uma água fresca, ofertas de comida, boleias e ajuda para chegar onde queria.
A presença militar é fortíssima, especialmente na capital: a cada esquina há militares e carros armados, mas nada mais acontece. A sensação de segurança é plena.
É óbvio que se trata de um país acabado de sair de mais uma de muitas guerras, com várias feridas internas ainda mal saradas e onde a qualquer momento tudo isto pode mudar.
O principal perigo que identifico é a condução. Sem dúvida a condução. O trânsito é completamente anárquico nas cidades (e fora delas), a grande velocidade e sem prestar atenção ao que rodeia o carro. O condutor apenas está focado no que se passa à sua frente e vai sempre ao máximo que o carro dá. Há excepções, mas são poucas.
Quanto à higiene e alimentação, são razoavelmente boas. Eu que costumo ter problemas intestinais nas minhas viagens, desta vez passei imune, sem me ter privado de provar nada.
Roteiro da minha viagem no Iraque
Dia 1 – Baghdad e Zigurate de Aqar Quf
Dia 2 – Baghdad e Ctesifonte
Dia 3 – Baghdad, Babilónia e Kerbala
Dia 4 – Najaf e Kufa
Dia 5 – Uruk, Ur e Pântanos
Dia 6 – Qurnah e Bassora
Dia 7 – Samarra e Baghdad
Dia 8 – Mossul
Dia 9 – Lalish
Dia 10 – Hatra e Erbil
Dia 11 – Erbil
Locais UNESCO no Iraque
Como não será de admirar são vários os locais históricos classificados pela UNESCO como património da Humanidade no Iraque:
- Hatra
- Assur
- Cidade Arqueológica de Samarra
- Cidadela de Erbil
- Ahwar do Sul do Iraque: Refúgio de biodiversidade e paisagem arqueológica das cidades mesopotâmeas (inclui os locais arqueológicos de Uruk, Ur e Tell Eridu e os pântanos)
- Babilónia
Informações práticas para viajar no Iraque
Visto para o Iraque
Durante anos conseguir o visto para o Iraque era um desafio ao alcance de poucos. Atualmente (2024) é muito fácil para os cidadãos portugueses viajar para o Iraque já que o visto pode ser obtido à chegada em diversos aeroportos e fronteiras terrestres.
De notar que entrando pelo Curdistão Iraquiano (região autónoma no norte do país) o visto obtido apenas permite visitar esta região e não o resto do Iraque. Para isso é necessário obter o visto previamente ou, voar de Erbil para Baghdad por exemplo.
Transportes no Iraque
A base do transporte no Iraque é sem dúvida o automóvel. Estes são usados tanto para deslocações urbanas como para viagens entre cidades. Os autocarros são raros (grandes nem vi nenhum) e a rede ferroviária é muito restrita.
Grande parte desses automóveis são táxis. Arrisco dizer que pelo menos 30% dos carros que se veem são táxis.
Táxi urbano e aplicações
Normalmente pintados de amarelo, os táxis são facilmente identificáveis. O valor deve ser negociado ao inicio da viagem ou, nas cidades onde tal está disponível, acaba por ser preferível usar uma App para pedir o táxi.
A mais popular é o Careem. Desta forma vence-se a barreira linguística já que o taxista quando chega já sabe para onde queremos ir e não há quezílias com a negociação do valor.
Os valores praticados são relativamente baixos. Nas viagens que fiz paguei entre 3k a 5k IQD (2€ a 3,5€).
Para chegar a alguns locais turísticos para onde não há transportes públicos pode ser também necessário contratar um táxi para a viagem de ida e volta. Nestes casos convém ter a ajuda de alguém (hotel, conhecidos, etc) que consigam negociar um valor justo. Por exemplo, para visitar Ctesifonte a partir de Bagdad (40km para cada lado) consegui com a ajuda do staff do hotel um táxi por 20k (13€) para cada lado. Acabei por lhe dar no fim 50k pelo excelente serviço que ele prestou. Antes, tinham-me pedido 80USD.
Táxi Partilhado / Miniautocarro
Para viagens entre cidades, os transportes partem das denominadas “garage“. Aqui, basta perguntar pelo destino para onde queremos seguir que há logo quem indique de onde partem. Normalmente os condutores até estão à entrada a apregoar o destino. Depois é esperar que encha.
Seja táxi (4 lugares) ou Miniautocarro (9 lugares), só parte quando estiver cheio ou, quando alguém pagar pelos lugares que faltam. Atenção que o valor que eles dão é sempre por passageiro. Se arrancar só contigo vais pagar o valor vezes 4!
Exemplos de preços entre cidades
- Bagdad – Babilónia: 10k IQD
- Al-Hillah (Babilónia) – Kerbala: 12k IQD
- Kerbala – Najaf: 25k IQD
- Najaf – Samawa: 6,75k IQD
- Samawa – Nasiria: 5k IQD
- Nasiria – Chibayish (pântanos): 5k IQD
- Chibayish – Al-Qurnah: 3k IQD
- Al-Qurnah – Basra: 5k IQD
- Baghdad – Samarra: 15k IQD
- Mossul – Dohuk: 10k IQD
- Mossul – Erbil: 10K IQD
Comboio
Actualmente só existem duas linhas de comboio em funcionamento: Baghdad – Samarra e Bagdad – Basra.
O comboio é assim uma forma bem mais segura e económica de fazer a viagem entre o sul e a capital. Foi o que eu fiz. Como comecei em Baghdad, viajei por via rodoviária ao longo de vários dias até Bassorá. Depois, apanhei o comboio de volta a Baghdad. O bilhete de ida custa 25k IQD num compartimento com 4 beliches. O comboio parte às 19h30 e a bilheteira só abre umas 3 horas antes. Pelo que percebi é possível reservar bilhetes para os dias seguintes, mas só na estação.
Depois, é necessário estar pelo menos 1 hora antes para inspecção das bagagens. Estas são alinhadas no chão da plataforma e cheiradas por cães-policia. À chegada o procedimento é repetido.
No meu caso tive muita sorte de ter companheiros simpáticos e que falavam inglês. A viagem é nocturna e são fornecidos lençóis, cobertores e almofadas. Dormi bastante bem chegando por volta das 5h40 da manhã. Como a estação fica perto da garagem de Alawi, apanhei logo um táxi para Samarra, aproveitando o “fresco” da manhã.
Hoteis no Iraque – onde dormir e como reservar
Com excepção da capital, considero que os hoteis em que fiquei apresentavam uma boa reação qualidade/preço.
São poucos os hoteis que é possível reservar online em plataformas como o Booking. Alguns conseguem-se obter os contactos online e contactar por whatsapp.
Algo que é preciso ter em atenção é que os hoteis que se encontram sinalizados ao navegar pelo Google Maps, nem sempre existem: alguns estão fechados ou já não existem mesmo. Aprendi isto da pior forma em Samawa. Tudo acabou por se resolver, mas fica a chamada de atenção. Podes ler mais sobre isso no artigo “O Anjo de Samawa”.
No meu caso reservei previamente quando possível, ou simplesmente cheguei ao hotel sem reserva e consegui quarto.
- Hotel em Baghdad
- Hotel em Kerbala
- Dormir nos pântanos
- Dormir no comboio
- Hotel em Mossul
- Hotel em Erbil
Dinheiro no Iraque – levantar/cambiar
A economia do Iraque funciona sobretudo com recurso a dinheiro vivo. A moeda do país é o Dinar Iraquiano (IQD) que se apresenta sobre a forma de notas de 50, 250, 500, 1000, 5000, 10000, 25000, 50000. 1500IQD equivale a aproximadamente 1€.
No país funcionam duas taxas de câmbio, uma oficial e outra no “mercado negro”, mais favorável. Confesso que regressei sem perceber muito bem como isto funciona, tal foi a divergência de valores a que consegui cambiar. A base de referência é o dólar americano (USD) e é recomendado levar dólares ao invés de Euros. Foi o que fiz.
Logo à chegada ao aeroporto de Baghdad, na loja que vendia os cartões SIM, os funcionários cambiaram-me dólares a 1700IQD/1USD. Não voltei a conseguir nada parecido. Nas casas de câmbio oficiais pagaram-me 1460IQD/1USD, numa banca em Mossul, 1480IQD. Provavelmente consegue-se melhor mas é preciso saber onde.
Também experimentei usar os cartões Revolut para levantar dinheiro em Basra. As caixas ATM são raras mas existem, sobretudo nos grandes centros comerciais. Usei os dois cartões que tenho, um da rede Visa outro Mastercard e ambos funcionaram. O cambio foi de 1€/1410IQD. Experimentei em bancos diferentes, num paguei taxa de 3750IQD, noutro 5000IQD, por levantamento. Pode ser uma hipótese para quem prefira andar com menos notas no bolso. No entanto não é recomendado ficar dependente de cartões.
Internet – cartão SIM
Pode ser adquirido no aeroporto. Paguei cerca de 15$USD por um cartão de 10Gb para 15 dias.