6 Janeiro 2016

Mosteiro de Debre Damo, Etiópia

É algo comum nas várias religiões a busca de Deus em locais afastados do homem e, de entre os locais mais fabulosos que já visitei, constam uns quantos mosteiros e igrejas quase inalcançáveis como Meteora na Grécia ou o vale de Quadisha no Líbano.

Tinha nesta viagem à Etiópia como objectivo visitar alguns destes lugares sagrados que tinha conhecimento, no Norte do país. Assim, como conto com mais detalhe na página igrejas talhadas na rocha em Tigray, decidi embarcar numa viagem de 2 dias a explorar estes locais.

chegada

Chegada ao planalto de Debre Damo

Como viajar em transportes públicos é muito difícil (ou quase impossível) nesta zona da Etiópia, acabei por alugar um carro com motorista que me levou aos vários locais.

Debre Damo foi a primeira paragem depois de sairmos de Axum, após uma passagem por Adawa, onde o exército italiano foi derrotado na sua tentativa de invadir a Etiópia. Depois de uns 60 quilómetros por estrada de montanha, uma placa indica o caminho para o mosteiro. Mais meia hora de viagem por pista, em que chegamos bem perto da fronteira com a Eritreia e aparece no horizonte a montanha de Debre Damo.

Jovem a subir ao mosteiro de Debre Damo

Jovem a subir ao mosteiro de Debre Damo

Muitos são os que ficam desiludidos ao chegar a Meteora na Grécia e verem que a subida aos mosteiros não se faz pelos antigos cestos de corda, mas sim por escadas. Perdeu-se o romantismo da aventura. As escadas entretanto escavadas na rocha, aproximaram os mosteiros do homens, mas afastaram-nos de Deus.

Em Debre Damo isso não aconteceu. Conta a lenda que Abuna Aregawi, o monge fundador do mosteiro, ascendeu ao todo da montanha agarrado a uma cobra. Hoje os visitantes continuam a contar com a ajuda de uma cobra para a subida.

cordas

A “cobra” pela qual se sobe ao mosteiro

Dá para sentir o cheiro a couro que a corda, manufacturada com tiras de pele dos animais, emana. Subir os 15 metros que separam a porta de entrada do chão pode parecer brincadeira de crianças quando vemos os jovens da terra a fazerem-no, tal é a sua destreza.

Para os menos preparados, como é o meu caso, depois dos primeiros degraus que se têm de subir para aqui chegar, a recta final não é pêra doce. Por segurança é-nos atirada uma outra tira de couro que colocamos à volta da cintura durante a subida.

Uma experiência só para homens, já que à mulheres não é permitida a entrada no mosteiro.

cordass

Amarração da corda com que se sobe ao mosteiro de Debre Damo

 

corda

O monge que segura a corda para ajudar à subida da Debre Damo

Sou recebido por um jovem monge que cobra os 200Birr de entrada mais 50Birr pela corda de segurança e me acompanha ao topo do planalto. Junto à igreja principal está o guarda com a sua velha kalashnikov na mão. Não se brinca com a segurança por aqui. O jovem monge acompanha-me à entrada da igreja (a partir daí não posso entrar) e à torre dos sinos.

panoramica

Panorâmica do planalto de Debre Damo, Etiópia

 

Eu junto à igreja de Debre Damo, Etiópia

Eu junto à igreja de Debre Damo, Etiópia

Igreja de Debre Damo vista da torre dos sinos

Igreja de Debre Damo vista da torre dos sinos

Fico mais um pouco a vaguear pelo planalto. Alguns cactos junto à beira do precipício evitam que os animais que por ali pastam livremente caiam dali abaixo. Incrivelmente, a comunidade de algumas dezenas (ou mesmo centenas, segundo consta) de monges que aqui vivem são auto suficientes. A água é armazenada em cisternas escavadas na rocha e, cultivam os seus alimentos e criam alguns animais.

ovelhas

Reservatório de água e animais a pastar no mosteiro de Debre Damo

Arco de pedra junto ao penhasco em Debre Damo

Arco de pedra junto ao penhasco em Debre Damo

Jovens, anciões e o guarda de Debre Damo, Etiópia

Jovens, anciões e o guarda de Debre Damo, Etiópia

A descida não é nem por isso mais fácil do que a subida. Daqui, a viagem segue para Adigrat, por mais 40 quilómetros de pista que atravessa montes e vales de cortar a respiração.

Como fiz a viagem pouco antes de começar a época das chuvas, em Junho, os terrenos, de uma aridez inimaginável, estavam todos lavrados e provavelmente semeados à espera da rega divina. O norte do Tigray parece assim um lugar esquecido por todos. A água é escassa, distante e de fraca qualidade, o terreno duro de cavar, o calor tórrido, as sombras inexistentes e, transportes, só a pé.

Logo que saímos do mosteiro o meu motorista avisou-me que íamos ter de dar boleias. Não há transportes públicos por aqui. Nem particulares. Só os que trazem os poucos turistas. Ninguém vai por uma carrinha ou autocarro a servir pessoas que não têm dinheiro para pagar o transporte.

A árida e montanhosa paisagem do Tigray, Etiópia

A árida e montanhosa paisagem do Tigray, Etiópia

Depois de já levarmos duas mulheres há alguns quilómetros, entramos numa aldeia onde rapidamente a estrada se enche de pessoas quando nos vêm aproximar. A carrinha fica completamente cercada por algumas dezenas de pessoas. Parecia uma emboscada. Todos querem transporte, mas não dá para todos. Decidimos dar prioridade às mulheres mais velhas e às que levam crianças, muitas delas ao médico, à cidade. Depois de um almoço em Adigrat, a viagem segui pelas igrejas de Takatisfi.

bus

Dar boleia nas montanhas de Tigray, Etiópia

 

Mapa de Debre Damo e das igrejas de Tigray, Etiópia

Um comentário

Os comentários estão encerrados.