Mosteiro de Sumela, Trabzon, Turquia
Com o hábito dos últimos dias de viagem já a entranhar-se em mim, acabo por acordar pelas 6:00 da manhã, mas faço um esforço por dormir mais um pouco. Levanto-me só pelas 11:00. Abro a sacada que dá vertiginosamente para uma varanda sobre o rio e que me revela um dia novamente solarengo, como prevejo que sejam todos a partir de hoje nesta viagem, pelo menos até Londres. Por isso abandono aqui uma camisola que trazia e nem cheguei a usar. O peso da minha mochila deve rondar agora os 6kg.
O senhor da recepção, que fala pouco inglês, vai comigo até ao local onde partem os mini autocarros para o mosteiro de Sumela e também para Trabzon. Pelo meio-dia apanho uma destas carrinhas que vem já de Trabzon com duas raparigas. Pago 12,5YTL ficando acordado que o motorista espera 2 horas por nós, tempo suficiente, segundo eles, para visitar o mosteiro.
Os 15km até ao mosteiro fazem-se por um vale onde são constantes os viveiros de peixe semi-naturais que aproveitam as águas puras do rio que desce das montanhas. Na base da montanha onde está o mosteiro há alguns restaurantes onde se podem saborear estes peixes.
Eu, apenas com 2 horas para a visita, inicio a caminhada até lá acima. Há dois caminhos: um pedonal, por onde desço depois, e uma estrada que vai até ao nível do mosteiro sendo que depois inevitavelmente se têm de percorrer os últimos metros a pé.
Felizmente acabo por tomar o segundo caminho, de onde se têm as melhores vistas sobre o mosteiro, atalhando depois por um trilho não sinalizado até à entrada do mosteiro.
Este é um dos mais conhecidos mosteiros do mundo pela sua peculiar localização numa escarpa rochosa. O mosteiro inicial foi fundado no ano de 386D.C. no local onde dois frades afirmaram ter encontrado um icon milagroso a Virgem Maria. Durante os primeiros séculos o mosteiro teve períodos de abandono e restauro, até 1461, ano da conquista da região pelo império Otomano, que lhe garantiu protecção até ao século XIX, tendo o mosteiro ganho extrema popularidade. Com a conquista dos russos, o local foi abandonado definitivamente em 1923. Foi poucos anos antes do abandono que se iniciou a construção dos edifícios principais que hoje o tornam numa atracão turística.
O que me atrai logo que entro são os frescos da pequena capela que fica um pouco mais abaixo encaixada nas rochas. Na verdade há pouco mais para ver. A construção que tornou este mosteiro famoso, e que de fora parece precipitar-se sobre o penhasco, cá em cima não esconde nada de especial: trata-se de um edifício construído no final do século XIX, pouco antes do abandono do mosteiro.
Em redor da capela principal, construída a aproveitar uma gruta natural e revestida de frescos por dentro e por fora, há placas a avisar que é proibido por lei escrever nos frescos. E não é para menos.
É com alguma tristeza que quando me aproximo verifico que todas as pinturas a menos de 2m de altura, e que retratavam a vida de Jesus, estão praticamente destruídas pelos grafitos que os visitantes fizeram. Mas o que espanta mais é ver como a estupidez humana não conhece fronteiras temporais nem geográficas: grande parte do estrago foi feito por visitantes turcos, russos, americanos, gregos, etc. no século XIX.
Hoje quem visita este mosteiro são sobretudo cristãos dos países do Cáucaso. O mosteiro esse, é apenas um museu. Está completamente “morto”. Eu, termino assim a minha visita com tempo para descer calmamente e vir tomar um chá enquanto espero com o motorista pelas 2 raparigas que vieram comigo.
Uma vez em Maska apanho o primeiro mini autocarro para Trabzon, por 3YTL. Lá em baixo o tempo está enevoado. A cidade é escura, o mar é Negro. Hoje, sábado, há muita gente nas ruas desta que é uma das maiores cidade turcas das margens do Mar Negro. Eu vim aqui por duas razões: primeiro para ver e tocar as águas deste mar e depois para apanhar um autocarro para o meu próximo destino: Dogubayazit. Dada a temperatura e a cor das águas aqui nesta zona portuária, esqueço a primeira e vou até à otogar. Consigo bilhete para uma partida daí a uma hora e meia por 50YTL, depois de algumas dificuldades de pagamento.
Aproveito o tempo que me resta para jantar num restaurante na otogar e ir levantar dinheiro ao multibanco. O autocarro é o mais confortável que que já andei aqui na Turquia, mas a tripulação a mais antipática. Antes de adormecer assim que anoitece associo a dor de garganta com que tenho andado ao ar condicionado que tenho sido obrigado a respirar nas últimas noites.
Os frescos do mosteiro
Pintados a partir do século XIII numa pequena capela construída numa cavidade da rocha escarpada duma montanha, estes sofreram várias modificações ao logo dos séculos seguintes, até ao séc. XVIII. Retratam no exterior cenas bíblicas com um detalhe maravilhoso, e no interior da gruta estão pintadas imagens da Virgem e de Cristo entre outras.
Infelizmente, o que mais chama a atenção de quem visita o mosteiro olha para estes fresco, é o deplorável estado em que estes se encontram. E de quem é a culpa: dos visitantes. Não dos grupos que visitam em massa o mosteiro nos nossos dias, mas dos que vieram há 100 e 200 anos atrás e mesmo mais recentemente turistas russos e militares da força aérea norte americana, assim como alguns pastores locais, todos deram o seu contributo para provar que a idiotice é internacional.
Não deixa de valer a pena uma visita por causa disto. Os fresco são maravilhosos. Os que estão mais altos que os braços destes visitante menos bem vindos, mantêm o seu esplendor e depois, na verdade, ninguém vai a Sumela por causa dos frescos, mas sim pelo local onde o mosteiro foi construído. Hoje obviamente não faltam guardas e sinais a relembrar que é crime escrever nos frescos.
Como chegar
Sumela fica a cerca de 40km a sul de Trabzon, uma importante cidade turca junto ao Mar Negro. É por isso a partir desta cidade que normalmente se visita o mosteiro. No entanto, para chegar a Trabzon terá quase sempre de passar por Maska, uma vila que fica a 15km do mosteiro. Eu cheguei vindo de Erzincan de autocarro e saí logo em Maska, onde dormi. No outro dia de manhã apanhei um mini-bus para o mosteiro.
Os mini-bus para o mosteiro partem junto ao escritório da “Vazelon Tours” e custam 12,5$YTL. Este preço inclui a viagem de ida e volta em que o condutor espera 2 horas (ou mais uns minutos se se atrasar), tempo suficiente para a visita. Os mini-bus entre Maska e Trabzon custam 3$YTL e partem do mesmo local.
Se preferir ir até Trabzon, pode certamente arranjar o mesmo serviço a partir desta cidade no seu hotel ou numa agência de viagens.
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