Oitavo: Estranha Fronteira – Parte 1
“Ah, Portugal, Figo, Deco, Pauleta, …” Todos parecem conhecer melhor do que eu a selecção nacional de futebol.
Entre estes jovens, está o Toino (nome fictício para alguém que vai ser personagem importante nesta história), um rapaz muito bem vestido para o normal naquelas paragens e que parece muito conhecedor das dificuldades de entrada no Senegal. Após observar o carro comenta:
“Este carro tem mais de 5 anos não tem? Não vão poder entrar com ele no Senegal.” No meu pouco francês respondo-lhe que sei que se pode pagar uma escolta, e penso que ele se propôs a ajudar…
Passado algum tempo passamos o portão para a zona de embarque. Começam aqui as negociações. Ao contrário dos policias da fronteira com Marrocos que nos cobraram apenas os 20€ pelo visto de entrada, estes aqui vêm em nós “máquinas de fazer dinheiro”. Pedem quantias absurdas, 100€ por cada carro (o nosso e o do francês que nos acompanha), para o bilhete do ferry e para as formalidades aduaneiras de saída. Após algumas negociações, ameaças de voltarmos para trás e irmos pela barragem, etc, o preço fixa-se nos 40€ cada carro.
Subimos a bordo!
Depois de centenas, quase milhares de quilómetros sem ver um rio, estamos a atravessar um rio, que mais que uma fronteira entre dois países é uma fronteira entre dois mundos, o lado árabe do deserto do Sahara a norte e a África Negra a Sul. A sensação é de estar a chegar ao destino. A partir daqui já não há mais noites frias. Pela primeira vez, sente-se verdadeiro calor Africano: húmido.
A travessia é rápida. Fico feliz por termos passado aqui e não na barragem. Esta sim é a verdadeira fronteira. Fazer a travessia de barco não é a mesma coisa que passar sobre uma barragem.
Desembarcamos, e agora sim é o momento da verdade!
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