15 Abril 2017

Um MEIO para descobrir as Serras de Aire e Candeeiros

Como já escrevi no artigo pela minha serra de Aire e Candeeiros, este é um dos locais onde mais gosto de passear e que melhor conheço. Ou antes, conheço bem o lado voltado a Norte, onde pelas suas encostas correm as águas para a bacia do rio Lis.

Mas tal como a Lua, também estas serras têm duas faces e para mim uma delas era a face oculta.

Não hesitei por isso, em aceitar o convide do MEIO em Alcanede para conhecer melhor a face oculta das Serras de Aire e Candeeiros.

Vila de Alcanede

Vila de Alcanede

O MEIO fica na vila de Alcanede junto à antiga ponte romana que dá nome à propriedade: Quinta da Ponte. Por fora, os sucessivos restauros não deixam antever a história que a casa guarda: um autêntico museu familiar.

Ponte romana Alcanede

Ponte romana junto à casa do MEIO em Alcanede

Por toda a casa tropeçamos em memórias da história dos seus inquilinos. Não faltam as canetas e tintas de uma professora primária, os mapas antigos, as revistas das rendas. As pautas de música de alguém que tocava piano servem agora de papel de parede num dos quartos.

No rés-do-chão, junto à sala preparada para receber festas, reuniões ou workshops, podemos ver um antigo lagar de varas quase pronto a voltar a produzir vinho.

Aproveitando o convite do MEIO para vir até Alcanede, pedimos uma ajuda para organizar um roteiro de locais a conhecer ali perto. O primeiro foi a gruta do Pena.

A Gruta Algar do Pena

Partindo da aldeia do Pé da Pedreira seguimos de carro serra acima. O percurso não é asfaltado, mas dá para percorrer com qualquer viatura ligeira. A vegetação rasteira esconde as pedreiras de onde é extraída muita da calçada que cobre os passeios das cidades portuguesas. Esta é a principal actividade económica desta freguesia.

Junto ao Centro de Interpretação Subterrâneo da Gruta – Algar do Pena encontramos um grupo que se prepara para uma aula de iniciação à espeleologia e, a Dra. Maria João, que nos recebe e dá a conhecer a história do local.

A gruta foi descoberta em 1985 pelo Sr. Joaquim Pena, que explorava uma

pedreira naquele local. Mal sabia ele que debaixo dos seus pés se encontrava a maior sala subterrânea agora conhecida em Portugal.

Descendo ao centro da Terra no Algar do Pena. #pnsac

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Ao contrário das grutas “comerciais” que existem na serra, aqui as visitas são organizadas, limitadas e acompanhadas por funcionários do Parque Natural. São aceites grupos de 12 pessoas, num máximo de 120 pessoas por dia sendo sempre necessária marcação prévia.

Pretende-se assim provocar o mínimo impacto dos visitantes num meio tão sensível como é este, quer pela respiração, quer pelo aquecimento provocado sobretudo pelos sistemas de iluminação.

A beleza natural do carso abate-se sobre nós na gruta do Pena

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A descida faz-se por escada, a subida de elevador. Aqui não há lugar a comparações das silhuetas das formações rochosas com elementos do quotidiano, como acontece nas outras grutas. Somos antes levados numa viagem pela história geológica que deu origem a estes lugares e à necessidade da sua preservação.

algar do Pena

Interior da gruta do algar do Pena

Não adianta tentar descrever o que se sente ao chegar a este espaço. Neste caso, nem mesmo as fotografias servem de muito, já que seria necessária uma objectiva de muito grande angular para captar todo o espaço.

De volta à superfície despedimo-nos deste lugar na certeza de que voltaremos um dia para fazer a visita integral. Com uma duração de 4 horas, estas visitas permitem descer até ao fundo da gruta, a uma profundidade de 80 metros.

Marcar visita à gruta do algar do Pena

Para marcar a sua visita pode usar os seguintes contactos:

Tel.: (+351) 243 400 630 | Tlm: (+351) 966 599 867 | E-mail: pnsacvisitas@gmail.com

Ermida de Nossa Senhora das Neves

Depois de um almoço no restaurante “O Alcaide” em Alcanede, voltámos a subir a serra para apreciar as vistas da pequena capela de Nossa Senhora das Neves.

Local envolto em lendas esteve esquecido até 2005, ano em que foi reencontrado, recuperado e criado um acesso. Tivemos sorte pois mesmo estando um dia bastante nublado, apanhámos umas boas abertas.

Localizada na encosta da serra, próximo da localidade de Mata do Rei, desta ermida conseguem-se deslumbrantes vistas sobre a imensidão do vale do Tejo, avistando ao fundo a serra da Arrábida.

Ermida de Nossa Senhora das Neves

Vista da Ermida de Nossa Senhora das Neves, próximo de Alcanede

Pegadas de dinossauros do Vale de Meios

Não muito longe fica a pedreira do Vale de Meios, onde a exploração de pedra trouxe à luz mais um pedaço de história natural.

Terá sido há quase 170 milhões de anos que por ali passaram os Terópodes, “pequenos” dinossauros carnívoros que deixaram a maioria das pegadas que hoje vemos. Outras pegadas de grandes Saurópodes herbívoros, testemunham que este seria um local rico em vegetação.

As pegadas por eles impressas na lama acabariam por dar origem ao que aqui vemos hoje: um impressionante testemunho da historia do nosso planeta. O local é de livre acesso.

Trilhos de pegadas de Dinossauro

Trilhos de pegadas de Dinossauro na pedreira de Vale dos Meios

pegada de dinossauro

Enorme pegada de dinossauro na pedreira de Vale dos Meios

Ciência Viva no Carsoscópio

Aproveitando a proximidade fomos passar o resto da tarde aos Olhos de Água, já perto de Alcanena. Para compreender as características das paisagens cársicas que compõem estas serras, nada melhor do que uma visita ao Carsoscópio.

Este é um dos vários Centros Ciência Viva existentes em Portugal, de visita obrigatória para todas as idades. De uma forma interactiva, três salas dão-nos a conhecer vários aspectos da natureza da região.

Carsoscópio

Carsoscópio – Centro Ciência Viva

No Quiroptário, dedicado aos morcegos, somos levados a conhecer o seu habitat, fisionomia, dieta e sistema de orientação.

Outra sala, o Geódromo, transporta-nos numa viagem de 170 milhões de anos, até ao tempo em que por aqui andavam os dinossauros.

Perceber o Carso no Carsoscópio, Olhos de Água do Alviela

Perceber o Carso no Carsoscópio, Olhos de Água do Alviela

Por fim, o Carso, podemos simular e perceber o funcionamento dos percursos subterrâneos de água no interior da rocha calcária.

Depois disto, nada melhor que sair e fazer uma caminhada para ver com os próprios olhos a ribeira do Alviela que ali ao lado se “perde” para o interior da terra, voltando a surgir poucas centenas de metros adiante.

Ribeira do Alviela perde-se para ressurgir duas centenas de metros à frente

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Dormir no MEIO

Depois do jantar no restaurante “O Tempero do Frango” voltámos ao MEIO para desfrutar do calor reconfortante da lareira da sala. Ficámos num dos sete quartos duplos da casa, decorado também com memórias de quem aqui habitou.

Quarto do MEIO em Alcanede

Quarto do MEIO em Alcanede

Na manhã seguinte tínhamos à nossa espera um delicioso pequeno-almoço que por momentos nos fez esquecer a chuva que caía lá fora.

pequeno almoço no MEIO

Pedaços de um delicioso pequeno almoço no MEIO

Ainda subimos até ao castelo mas deparámo-nos com uma porta fechada. Como a chuva não parava, decidimos deixar para uma próxima a visita à vila de Alcanede.

Reservar uma noite no MEIO

Se pretende reservar uma noite na casa do MEIO siga este link: reservar quarto em Alcanede.

Este pode ser um local interessante para umas férias em família (pode alugar a casa toda) ou, para organizar eventos, workshops, formações, com a vantagem de poderem ficar todos a pernoitar na casa.

O MEIO pode ainda ajudá-lo a organizar a sua visita às serras de Aire e Candeeiros, assim como preparar formações sobre várias temáticas. Saiba mais aqui: MEIO.

Nota: A estadia e visitas aqui apresentadas foram oferecidas pelo MEIO. No entanto, como é política deste blog, as opiniões apresentadas são pessoais e sem influência dos patrocinadores.

Um comentário

  1. Francisco Agostinho Barruma diz:

    Muito bom, adorei e só conhecia uma parte…!

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