Vila Flor: 3 experiências a não perder
Vila Flor tem tudo para passar despercebida a quem vem até Trás-os-Montes, mas a verdade é que não necessita de mais para encantar quem por lá passa. Não encontrei por lá majestoso património histórico, passadiços ou molduras “instagramaveis“, grandes hotéis ou restaurantes estrelados.
Encontrei sim pessoas que sabem receber nos alojamentos locais, gente que cultiva a terra e cozinha com paixão, rios selvagens e santuários nos pontos mais altos das serranias, que nos lembram que ali estamos mais próximos do Divino.
Decidi por isso, antes de escrever uma lista de locais a visitar em Vila Flor, apresentar três experiências que me marcaram na descoberta deste concelho da Terra Quente transmontana.
Nove Passos: à descoberta do Tua
Espalhados por nove concelhos transmontanos encontramos outros tantos percursos pedestres que nos levam a conhecer o melhor que a natureza tem para nos oferecer em cada um: é o projecto Nove Passos.
O passo do concelho de Vila Flor leva-nos à descoberta dos campos agrícolas e do rio Tua, entre as aldeias de Vilarinho das Azenhas e de Ribeirinha.
São apenas 3,1 quilómetros de percurso linear, sempre a descer. É por isso acessível a todos, como aliás se quer nos percursos dos Nove Passos.
Na antiga escola primária de Vilarinho das Azenhas funciona agora o Centro interpretativo Tua Natureza. O percurso esse, inicia-se uns metros abaixo, junto à igreja. Para nos guiar, tanto neste como nos outros passos, foi criada uma APP que nos vai dando informações ao longo da caminhada. Esta deve ser iniciada no ponto de partida.
A paisagem agrícola domina a primeira metade da caminhada com a vinha e o olival, à semelhança do que acontece por todo o concelho. Depois de cruzarmos os carris da linha do Tua, o som da água começa a fazer-se ouvir. Já o comboio esse, ansiosamente aguardado por todos, continua retido nas estações da burocracia.
Como faço o percurso já a meio da manhã, os pássaros que se observam são menos do que se viesse mais cedo. Observo umas tartarugas e uma agitação na água que quero acreditar ser uma lontra (há-as por aqui…)
Já quase a chegar à aldeia de Ribeirinha fazemos uma pausa junto a um açude. O local convida a uma paragem em especial nos dias quentes. Logo à frente está a antiga estação de caminho de ferro de Ribeirinha que marca o fim do percurso.
As minhas dicas:
– O percurso termina na aldeia de Ribeirinha mas vale a pena seguir um pouco mais ao longo do rio;
– Suba ao miradouro de N. Sra dos Remédios em Vilarinho das Azenhas (início do percurso) para excelentes vistas sobre o vale do Tua;
– Se conseguir faça a caminhada durante a manhã, quando as aves estão mais activas.
Starlight: um fabuloso céu nocturno
O brilho do céu, a nitidez, a transparência e a pouca nebulosidade valeram ao vale do Tua o selo de “Destino Turístico Starlight”. Num território de baixa densidade populacional, com reduzida poluição luminosa já eram de esperar noites maravilhosas para a observação dos astros.
Esta certificação veio dar o empurrão que faltava para o aparecimento de programas turísticos orientados para a astronomia. Exemplo disso é a Quinta do Palame, em Freixiel, que está a ultimar um programa de observação de astros para oferecer a quem os visita.
É, aliás, junto à antiga forca de Freixiel que passo uma agradável noite de observação e capto estas fotografias. Embora as condições nesta noite não fossem perfeitas, a companhia do astrofotógrafo Miguel Claro e de um telescópio, permitiu-nos observar alguns objetos de céu profundo, os anéis de Saturno e compreender algumas constelações. Sendo-nos impossível controlar o movimento dos astros, a Lua acabou por nascer gloriosa e sobrepor a sua luminosidade à das estrelas mais débeis.
Pouco interessado em astronomia e talvez até algo incomodado com a nossa presença, tivemos a companhia de um pequeno escorpião.
As minhas dicas:
– O olho humano demora algum tempo a habituar-se à escuridão: desligue as lanternas e espere alguns minutos até a magia acontecer;
– Se necessário utilize uma luz vermelha (menos agressiva para os olhos);
– Estar acompanhado por alguém que conheça o céu e lhe faça uma “visita guiada” é uma mais valia. Se não for possível há algumas aplicações para smartphone que podem dar uma ajuda;
– Planeie a sua visita tendo em conta a nebulosidade prevista, assim como a fase da Lua. Lua Nova é o ideal para observar estrelas, mas a Lua Cheia também proporciona momentos maravilhosos;
– Por muito grande que a Lua pareça, não perca tempo a tentar fotografá-la com o telemóvel.
Almoço na vinha: onde os sabores se misturam na paisagem
Com parte do seu território integrante da Região Demarcada do Douro, o concelho de Vila Flor orgulha-se de ser produtor de bons vinhos (isto claro, para além do azeite que é o ex-libris da agricultura local).
A Quinta de Holminhos é um exemplo dos bons produtores que podemos encontrar por aqui. Vítor Teixeira é quem nos recebe na sua adega e conduz pelas ingremes encostas até às vinhas. Fala-nos, não só dos desafios que actividade agrícola apresenta, mas sobretudo transmite-nos a paixão que tem pelo seu projecto.
Para além das experiências enoturísticas mais vulgares, como a visita à adega ou a prova vertical, o sr. Vítor decidiu juntar outra das suas paixões, a cozinha, e oferecer também a possibilidade de comer no restaurante da adega ou, melhor ainda, na própria vinha.
É à sombra de duas oliveiras, com a vinha à nossa frente e o vale da Vilariça como pano de fundo, que é servida a refeição. Da ementa fazem parte os produtos da terra confeccionados pelo nosso anfitrião, acompanhados, claro está, pelos seus vinhos. Os sabores e a paisagem misturam-se numa harmonia perfeita, que tornaram este no melhor momento da minha viagem por Vila Flor.
Informação prática
– A Quinta Holminhos fica na aldeia de Seixo de Manhoses, Latitude: 41.2744º; Longitude: -7.1725º ;
– As refeições são servidas por marcação e pode encontrar os contatos no site https://www.holminhos.com/ ;
– Os preços rondam os 15€/pessoa na adega e, a partir de 40€ na vinha.
Esta viagem foi efectuada a convite da Comunidade Intermunicipal das Terras de Trás-os-Montes.
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2 Comentários
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Cara Maria Saraiva, muito obrigado pelo seu comentário. Fiquei com pena de não passar mais tempo em Freixiel. Tive a oportunidade de passar durante o dia e sim, confirmo que as paisagens são lindíssimas. Entretanto publicarei outro artigo onde mostrarei outros locais que visitei em Vila Flor e espero voltar para conhecer mais. 🙂
Boa tarde,
Fico muito sensibilizada por ter visitado a minha aldeia, FREIXIEL, mas ao fazê-lo à noite deixou de ter oportunidade de poder apreciar as suas belas paisagens, as suas casas e gentes afáveis, que lá moram. Talvez numa outra oportunidade o possa fazer e referenciar no seu blogue o quanto é bom contactar com o campo, as suas gentes, mesmo que num interior cada vez mais despovoado, mas belo. Felicidades para novas viagens. Saudações. Maria Saraiva.