Viajar de autocarro da Itália para a Roménia na Eurolines
Com a expansão das companhias de aviação de baixo custo, viajar de autocarro ou comboio pela Europa caiu em desuso nos últimos anos, já que o avião alia a rapidez ao baixo custo. Se o comboio ainda mantém alguma popularidade, especialmente para o mítico interrail, o autocarro, especialmente para longas distâncias é visto apenas como último recurso.
Em Maio de 2010 acabei a viajar de autocarro de Milão para Brasov depois de ver o meu voo Milão – Sófia cancelado devido a uma greve em França. Quando vi que tinha ficado em terra comecei a pesquisar que alternativas teria para chegar ao meu destino por terra, já que um re-agendamento do voo iria fazer-me esperar alguns dias, e eu queria era viajar. Assim, lembrei-me de ter lido na net que era possível viajar de autocarro da Bulgária para Portugal em linhas regulares de autocarro, logo, deduzi eu, também o seria de Itália para a Bulgária. Encontrei assim autocarro de Milão para Sófia, mas que só saía daí a dois dias. Como estava no primeiro dia da minha viagem, e ansioso por conhecer novos locais, acabei por optar ir para Bucareste no dia seguinte e depois apanharia comboio para Sófia.
Acerca da Roménia apenas me lembrava que era lá o castelo do Drácula. Assim, telefonei a uma amiga que me arranjou as informações necessárias para lá chegar. Por sorte, a rota do autocarro passava mesmo por Brasov, a cidade junto ao castelo, e por isso parei logo ali, tendo seguido para Bucareste apenas no dia seguinte.
Todos os passageiros à excepção dum grupo de Italianos turistas que entrou em Pádova e de mim, eram Romenos, pelo aspectos trabalhadores emigrantes em França, que usam o autocarro para se deslocar para a sua terra. O próprio autocarro e tripulação era romena.
Bilhetes e garagem Eurolines em Milão
Comprar bilhetes de autocarro Eurolines em Milão é muito fácil: basta ir ao posto de turismo na praça do Duomo e eles tratam de tudo. A reserva é feita pela net, mas assim evita de ir a um cybercafé. Eles imprimem, pode pagar em dinheiro e recebe logo um mapa do local onde fica a garagem.
Os autocarros partem da garagem de Lampugnano, onde se pode chegar de metro. Também aí pode comprar o seu bilhete e obter informações.
O autocarro em que eu fui, vinha de Marselha, e tinha partida prevista para as 13:30, mas acabou por sair com 2 horas de atraso. No entanto as chegadas na Roménia já se efectuaram às horas previstas.
Pode também comprar o seu bilhete online em: http://www.eurolines.com/
Preço da Viagem
- Milão – Bucareste (Jovem): 76,50€ (em Maio 2010)
- Milão – Bucareste (normal, Agosto 2010): 103€
- Milão – Bucareste (Jovem, Agosto 2010): 92,70€
O preço para Brasov é o mesmo.
Como é a viagem
Ia um bocado apreensivo quando entrei nesta aventura de mais de 30 horas num autocarro. O máximo que já tinha feito eram 12 horas na Turquia. Ainda assim, não foi difícil. Os bancos dão para inclinar até quase à horizontal, dando para dormir durante a noite. Durante quase toda a viagem se vêm os filmes dos DVD’s piratas que eles transportam, e há paragens de 15 a 20 minutos a cada cerca de 3 horas, para mudar de condutor, comer, reabastecimento, descanso. À chegada à Roménia os passageiros são distribuídos por dois autocarros, conforme o seu destino.
Itinerário
Partida Milão: 15:20 – Pádova (18:50) – Veneza – Fronteira Eslovénia (ao anoitecer) – Ljubliana – Maribor – Fronteira Hungria – Budapeste – Fronteira Roménia (7:00) – Arad – Brasov (19:00) – Bucareste (22:30)
O autocarro apenas fez paragem para recolha de passageiros na Itália e Roménia. De resto, foi sempre a andar! 🙂
Ver milao brasov num mapa maior
A minha viagem em 2010
Adormeci longe do conforto da minha cama, dentro de um autocarro alguns minutos depois de parar numa área de serviço na Eslovénia. Sonhei dobrar a fronteira para a Hungria, passar ao largo de Budapeste e agora que acordo descubro que tudo isto era realidade. Sonhei acordado e o meu sonho tornou-se realidade. Ao lado da autoestrada que rasga a planície, estendem-se quilómetros de campos de cereais e pequenas florestas. Tudo verde, tudo harmonioso como num quadro. O sonho desta minha realidade não me deixou dormir devidamente esta noite, por isso vou dormindo e sonhando mais.
Cruzo a fronteira para a Roménia em Arad, já consciente, e entro numa realidade diferente. De repente sinto-me recuar alguns anos até uma Europa onde ainda há fronteiras e guardas fronteiriços a controlar os passaportes e casas de câmbio. Lembra-me as idas a Espanha com os meus pais quando era pequeno.
Depois de cruzar a fronteira recuo mais uns anos ainda: o alcatrão é de fraca qualidade, nas estradas principais só há uma faixa para cada lado onde circulam os carros na sua maioria dos anos 70 e 80 que se desviam das galinhas e crianças que brincam nas bermas e ultrapassam o carros de bois e burros. Em Arad fazemos uma paragem. São 9:50 da manhã. Alguns passageiros saem logo aqui e os restantes são divididos por dois autocarros. Cambio dinheiro a um funcionário da companhia e mudo para um autocarro mas simples e menos confortável. O céu está cinzento e chove frequentemente com bastante intensidade.
Desde que se tornou necessário vir à Roménia tenho andado a pensar ir visitar o único local deste país de que já ouvi falar: o castelo do Drácula.
Ainda poucos dias antes de sair tinha estado a falar dele com uma amiga que o adorava visitar, mas não sei onde fica nem como chegar. Envio-lhe um sms e poucos minutos depois, à mistura com muita inveja lá vem a resposta:
“Aqui vai: o castelo de Bran fica na vizinhança da cidade de Brasov. Fica na fronteira da Transilvania e Valaquia pela estrada 73 incravado na floresta do sopé dos Cárpatos. Uma colega disse-me ontem que o castelo é pequeno… Mas vale a pena a paisagem. Espero ter ajudado… Bjs e não te percas por essas terras estranhas. ps: tira mts fotos 🙂 “.
Era tudo o que precisava de saber. Pela estrada há camiões carregados de colmeias e ao fundo, quando o cinzento permite, vêm-se cumes cobertos de neve. Pelo mapa que fotografei em Itália começo a ver que me dirijo a Brasov. Assim, não terei de ir a Bucareste e voltar atrás. Meto conversa com o novo colega de banco que me acompanha desde Arad. Fala algum inglês e explica-me tudo o que preciso para chegar a Bran, mas avisa-me logo que poderei ficar desiludido com o castelo.
Saio do autocarro para o primeiro contacto a sério com a Roménia. Feito burro, em vez de ir directo à paragem dos autocarros que vão para Bran, como me foi explicado, acabo por ir nas conversas dos taxistas e entro num táxi que me promete levar ao castelo por 3,5LEI (isto é menos de 1€).
Negoceio isto com um taxista que fala inglês perfeito, mas inicio a viagem com um outro que só fala Romeno. Como qualquer taxista, estes também “só me queriam ajudar” até porque depois das 19:00 “já não há autocarros para Bran”. Cerca de um quilómetro depois, comprovo que ele afinal quer mesmo é os 3,5Lei por quilómetro como eu já desconfiava. Ainda me põe ao telefone com o outro, mas acabo por os insultar em português e aproveito quando ele abranda num stop para saltar do táxi e regresso a pé. Na autogar Codreano, lá estão os autocarros para Bran, e o último só sai ás 20:15, por ser Sábado e Verão. Vejo nos táxis cá fora que afinal o preço por quilómetro é 1,35Lei. Filhos da … romena, penso. O autocarro, esse sim é barato: 4Lei.
Chego a Bran já ao anoitecer. Ainda dou uma olhada pelos hotéis, mas parece-me tudo caro demais e por isso decido procurar um local abrigado para dormir. Não tenho medo de vampiros nem de histórias do além. Na verdade, nem conheço essas histórias mas admito que o castelo, agora ao lusco-fusco já iluminado e envolto por uma ligeira névoa, encantaria e assustaria muitos.
O que me assusta mesmo são uns cães enormes que perseguem a mim e a outras das poucas pessoas que há na rua. Está frio. Compro pão, mortadela e cerveja e janto ali mesmo ao lado do castelo num alpendre de madeira que serve de paragem de autocarro. É o local ideal para dormir.
Nas minhas viagens levo sempre uma colchonete insuflável e o meu saco cama, que ocupam pouco espaço e me permitem dormir confortavelmente em qualquer lugar. Ainda é cedo, são 9:30, mas a noite está calma e preciso de descansar, até porque o primeiro autocarro parte daqui antes das 6 da manhã. Deito-me.
Ainda estou a ajeitar o casaco que me serve de almofada quando pára um carro ali mesmo à frente de onde sai uma senhora, ficando o homem no carro. É a dona da loja que fica ali no mesmo alpendre. Assusta-se com a minha presença. Não fala inglês, apenas romeno, mas parece que está com medo que eu seja atacado por vampiros, não que eu seja um. Isso é bom. Vai falar com o marido ao carro e depois volta junto de mim. Por gestos e romeno, convida-me para ir dormir a “mi casa”. Bom, nem quero acreditar. Um anjo em terra de demónios. Parece que hoje a sorte voltou a estar comigo.
Entro no carro e vamos até casa dela. É ali perto. Não é grande, é enorme e ao lado tem uma pequena casa com uma sala e uma cozinha. É aí, no sofá, que eu fico. Prepara-me um chá e chama a filha, que fala inglês perfeito e sem mais perguntas para além da minha origem, me diz que posso ali ficar sem pagar nada.
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