Etiópia
A minha viagem na Etiópia
Se havia país no mundo que eu desde há muito tempo desejava visitar, esse país era a Etiópia, mais especificamente, as igrejas de Lalibela. Desde que vi as primeiras fotografias do local prometi a mim mesmo que um dia iria lá.
O sonho foi sendo adiado principalmente por causa do preço das passagens aéreas. Como tudo tem o seu tempo, em 2015 lá surgiu uma promoção que trouxe o valor para níveis aceitáveis e decidi logo ir.
O itinerário acabou limitado ao tempo disponível e à dificuldade de um viajante se deslocar no interior do país. As distâncias são enormes e as condições das estradas bastante más. Para conseguir visitar estes locais em 10 dias tive de recorrer a 3 voos domésticos.
- Dia 1 – Gondar
- Dia 2 e 3 – Gorgora, lago Tana
- Dia 4 – viagem de Gondar para Axum
- Dia 5 – Axum
- Dia 6 e 7 – Igrejas nas rochas de Tigrai
- Dia 8 – Viagem para Lalibela
- Dia 9 – Lalibela
- Dia 10 – Addis Abeba
Mapa da Etiópia
Locais Património da Humanidade UNESCO
A par com Marrocos, a Etiópia é o país de África com mais locais património da humanidade. São ao todo 9 locais, dos quais visitei 3 (Axum, Gondar e Lalibela), tendo ainda passado pelas montanhas Simien, sem no entanto as visitar devidamente.
Igrejas Escavadas na Rocha de Lalibela
Lalibela é de longe o ex-libris da Etiópia. As suas igrejas, completamente escavadas no interior da rocha, foram ideia do rei Lalibela no século XII. Este é um local que por si só justifica uma visita a este país. Facilmente se passam alguns dias a admirar a imponência destas obras e a percorrer os túneis que as ligam, onde somos convidados a entrar pelos padres que as guardam.
Ler mais sobre as igrejas de Lalibela
Axum
Nenhuma outra cidade Etiope reúne tanta lenda como Axum. Capital do império com o mesmo nome, Axum terá sido a morada da rainha de Sabá, e será ali que está guardada a Arca da Aliança, trazida de Israel por Menelik, filho de Salomão e da rainha de Sabá. Destacam-se neste local as enormes estelas mandadas erguer pelos antigos réis sobre os seus túmulos.
Ler mais sobre o património de Axum, Etiópia
Cidade-fortaleza de Fasil Ghebbi
A cidade fortaleza de Fasil Ghebbi encontra-se na actual cidade de Gondar. Foi aqui a capital do país no século XVII, durante o reinado do imperador Fasiladas e seus sucessores. Com notórias influências europeias, árabes, hindus e outras, é uma das maiores fortalezas de África.
Mais sobre a Cidade-fortaleza de Fasil Ghebbi em Gondar
Parque Nacional de Simien
Este parque nacional engloba as montanhas de Simien, o maior maciço montanhoso de África. Foi inscrito como património da humanidade na primeira sessão da UNESCO em 1978, juntamente com Lalibela. Encontra-se aí o ponto mais alto da Etiópia, o monte Ras Dejen, com 4543m. Este parque é ainda o lar para várias espécies endémicas como macacos, lobos, cabras selvagens, entre outros.
Os outros locais classificados pela UNESCO que não visitei são:
- Cidade histórica fortificada de Harar Jugol
- Paisagem cultural de Konso
- Vale do baixo Awash
- Vale do baixo Omo
- Tiya
Outros locais a visitar na Etiópia
Ruínas da catedral portuguesa de Gorgora Nova
Construída nas margens do lago Tana o século XVII, pouco resta da imponente catedral construída pelos portugueses em Gorgora Nova. Esta resultou da aliança dos jesuítas com o rei Suzeniôs, acabando abandonada depois de uma guerra em que os cristãos etíopes se recusaram converter ao catolicismo. O pouco que resta encontra-se em condições deploráveis.
Ler mais sobre as Ruínas de Gorgora Nova
Museu nacional da Etiópia
O Museu Nacional da Etiópia encontra-se na capital, Addis Abeba. Como só estive uma tarde na capital, decidi que este era o local a visitar. Sendo um apaixonado por arqueologia e paleontologia, não podia deixar de vir aqui, já que é neste museu que está guardado o mais importante achado do país: o esqueleto de Lucy, o nosso mais antigo antepassado, com 3,2 milhões de anos.
Ler mais sobre o Museu nacional da Etiópia em Addis Abeba
Igrejas talhadas na rocha da província de Tigray
Nas montanhas da árida província de Tigray no norte do país encontram-se fabulosas igrejas e mosteiros construídos total o parcialmente talhados no interior das montanhas. O caminho para chegar a alguns deles vale pela visita, sendo necessárias longas caminhadas, escalar paredes e caminhar junto a precipícios com algumas centenas de metros de altura.
Ler mais sobre as Igrejas talhadas na rocha em Tigray, Etiópia
Mosteiro de Debre Damo
Debre Damo é um dos mais importantes mosteiros da Etiópia, albergando no planalto no topo de uma montanha uma comunidade auto-suficiente com algumas dezenas de monges. Reza a lenda que foi fundado pelo santo Abuna Aregawi, o qual terá subido ao topo com a ajuda de uma cobra. Ainda hoje a subida só é possível subindo uma parede de 15m agarrado a uma corda de couro.
Ler mais sobre o Mosteiro de Debre Damo
Lago Tana
O lago Tana é o maior da Etiópia e um dos grandes lagos africanos. É do lago Tana que nasce o Nilo azul.
O lago possui várias ilhas nas quais, assim como nas suas margens, se podem encontrar alguns mosteiros e importantes igrejas.
Ler mais sobre Gorgora e igreja de Debre Sina, nas margens do lago Tana
Yeha
Yeha é considerado o local de nascimento da civilização etíope. As ruínas megalíticas de vários templos do século VII A.C. testemunham o grande avanço técnico dos povos que aqui viviam há quase 3000 anos atrás.
Decorrem actualmente escavações, obras de recuperação e a construção de um museu.
Ler mais sobre as Ruínas dos templos de Yeha
Transportes na Etiópia
Gerir as viagens dentro da Etiópia será o mais difícil da sua viagem a este país, por vários factores:
As distâncias entre os principais locais são bastante grandes e, para complicar, as estradas muitas das vezes têm poucas condições, ou não são sequer asfaltadas. Este factor tende a melhorar. Por exemplo, entre Gondar e Axum, há vários troços em obras, por forma a que toda a estrada seja asfaltada. O pior mesmo é a descida das montanhas Simien, que ainda levará alguns anos a ser concluída.
A topografia do terreno não ajuda. A Etiópia, pelo menos a parte norte que eu visitei, está entre os 2000 e os 4000 metros acima do nível do mar. Para vencer estes desníveis há obviamente muitas curva e contra-curvas. De uma forma geral os etíopes pareceram-me bons e cuidadosos condutores.
Os transportes públicos são raros e por norma sobre lotados. A situação agrava-se na província de Tigray. As condições económicas da população em geral são muito más. Como não há dinheiro para pagar transportes, estes não existem, ou quanto muito, passa um por dia. A luta por um lugar é por vezes violenta, especialmente nas zonas mais rurais.
Os autocarros entre as principais cidades partem por norma muito cedo (entre as 5 e as 6 da manhã), de forma a fazer a viagem durante o dia. Alguns percursos demoram mesmo vários dias, já que os autocarro não circulam de noite.
A solução encontrada por muitos viajantes é recorrer a voos domésticos. Estes são operados pela companhia nacional, a Ethiopian Airlines. Há que ter em atenção que as tarifas normais são um pouco caras (cerca de 150€ por voo), mas há descontos. Os voo comprados no país passam a custar cerca de 1/3 (50€), se tiver chegado ao país num voo internacional desta companhia. É por isso essencial poderar bem em que companhia vai voar para a Etiópia.
O problema da Etiópia
São as pessoas. Custa escrever isto mas a opinião é unânime entre todos os viajantes com que falei neste país. Quando em 2005 e 2006 viajei pela África Ocidental, nas minhas primeiras viagens, já tinha sentido um pouco esta perseguição racista ao homem branco. Pensava até ser algo comum a todo o continente, consequência dos anos do colonialismo. Felizmente que no sul do continente, em 2014 encontrei uma realidade bem diferente, sendo sempre tratado como os demais. Agora a Etiópia bateu aos pontos todos os outros.
Pergunto-me: mas caramba, na Etiópia, porquê? A Etiópia é o único país de África que não foi colonizado. Porque esta reacção para com os brancos? Conto pelos dedos de uma mão as vezes que algum etíope se aproximou de mim para uma conversa e partilha completamente desinteressada. E ainda sobram dedos.
Em Gorgora, quando procurava um guia que me levasse às ruínas portugueses fui convidado por um homem já de idade a juntar-me a eles para conversar e beber uma cerveja tradicional. Arranjaram-me um guia, ofereceram-me a cerveja num copo de vidro enquanto eles a bebiam por uma lata e, passamos ali uma tarde agradável. Combinei um valor a pagar ao guia que, no dia seguinte ia sendo aumentado com um pedido de dinheiro para comer, por umas calças, por um café, por uma gorjeta por me arranjar um lugar no autocarro.
Nos monumentos que visitei, para além dos preço hiper inflacionados, lá houve quase sempre o pedido da grojeta para o padre que abre a porta, para o guia que se cola a nós, para o rapaz que acende a luz. Chega uma altura que apetece gritar: basta!
Mas o pior mesmo é quando a mendiguice entra pelo campo da violência, seja física, ou psicológica. Não é fácil ser seguido durante meia hora por três rapazes em idade escolar, mestres na arte da representação, que tentam a todo o custo convencer-nos das suas dificuldades para nos levarem a uma loja comprar um suposto livro escolar que custa alguns 50€, para depois repartirem os despojos por eles e pelo dono da loja.
Não é fácil também caminhar por entre as crianças que nos pedem dinheiro e que, se recusamos, nos atiram pedras. Felizmente só por uma vez senti uma pedra a cair junto dos meus pés mas, em Lalibela, falei com um rapaz que nessa mesma manhã tinha temido pela sua vida quando numa aventura pelas montanhas em redor tinha fugido de uma chuva de calhaus por ter recusado dar dinheiro a crianças.
Depois de ser perseguido por estes dois durante um bom bocado em Axum, decidi começar a filma-los. Foi a forma de me deixarem seguir o meu caminho.
Alojamento na Etiópia
Nas páginas que escrevi sobre cada local que visitei, pode encontrar os locais onde dormi. Um hotel dos mais baratos, como os que fiquei em Axum e Gondar custam na casa dos 200Birr, cerca de 8€ por noite, com casa de banho privada, água quente e wi-fi que muitas vezes não funciona.
Em Gorgora fiquei no Tim and Kim Village, um lodge e campismo gerido por um holandês, com uma localização fabulosa nas margens do lago Tana, muito limpinho e com com ambiente e comida. Aqui o preço é de 700Birr por noite, cerca de 30€.
Em Lalibela, fiquei no Lalibela Lodge. A oferta de alojamento em Lalibela é enorme, mas ainda assim diz que nas datas festivas convém reservar. Fora disso há quartos para todos os gostos e preços. O Lalibela Lodge embora um pouco afastado do centro, é um espaço novo, muito limpo e bem decorado e com um bom restaurante, especialmente para quem não apreciar injera. O preço é de 35USD por noite.
Para outros alojamentos recomendo este site para encontrar e reservar os hotéis: Hoteis na Etiópia
Depois de ler o texto fiquei com vontade de voltar de novo a África.
Depois de dares a tua volta, podes seguir para a Etiópia 😉