Coreia do Norte: A grande celebração
Umas duas horas depois da partida de Kaesong, chegamos a Pyongyang ao início da tarde. A primeira paragem é numa livraria bem próxima da praça Kim Il-Sung. Não tivéssemos nós visitado já umas quantas nos últimos dias e este seria um momento memorável.
É que as livrarias na Coreia do Norte são uma constante e, quase o único local onde se conseguem comprar algumas recordações. Mais ou menos recheadas, há-as em todos os hotéis e os títulos são sempre os mesmos. Variam os pins, os postais, CDs ou algum artesanato que também se vende por aqui. A busca por comprar recordações genuinamente coreanas é quase infrutífera.
Festejar no monte Moran
Hoje, 9 de Setembro, dia da implantação da República Popular Democrática da Coreia é dia de celebração e por isso somos levados até um dos locais onde os habitantes de Pyongyang celebram: o Parque de Moran. Localizado entre o Grande Monumento Mansudae e o Arco do Triunfo este enorme parque tem verde, lagos, relvados e muita gente. Tiram-se fotos anda-se de charrete, fazem-se pic-nics em família.
A esta hora o soju e a cerveja já oferecem dotes de cantores e bailarinos a muitos dos foliões. Ali canta-se, acolá brinca-se em família, num outro recanto namora-se. Aqui, a poucas horas de deixar a Coreia do Norte, redescobrimos que não somos assim tão diferentes: somos todos humanos.
Mais acima, num anfiteatro natural são muitos os que se juntam em redor de um palco onde cantam, dançam e representam alguns artistas envergando belos trajes tradicionais. Findo o espectáculo começa a música. Num ápice, até os mais envergonhados (e neles me incluo), são puxados para a pista.
Estamos em pé de igualdade: eu não sei dançar, eles não fazem ideia como se dança no ocidente. Eu nunca mais os verei, nem eles me verão a mim. Desvanece-se assim a vergonha por entre os movimentos aleatórios dos membros do corpo.
Jantamos cedo pois às 7 da tarde temos de estar à porta do estádio 1º de Maio Rungrado. À chegada já a multidão de representantes e de assistência aguardam a entrada.
Festival das Grandes Massas e Performances Artísticas e Ginásticas
Hoje é dia de recordes. O estádio 1º de Maio Rungrado é tão só o maior do Mundo, com capacidade para 150.000 espectadores. Em comparação, Wemblei tem capacidade para 90.000, o Estádio da Luz, 65.000. O próprio espectáculo que nos preparamos para assistir está inscrito no livro dos recordes: à nossa frente iremos ter 100.000 artistas a representar. O maior espectáculo do Mundo está prestes a começar.
Inicialmente conhecido apenas como festival Arirang, baseava-se numa trágica história de amor, muito popular no país. Depois de uma interrupção em 2012 após a morte de Kim Jung-Il, o luto terminou o ano passado com o regresso de um novo espectáculo.
Nos anos anteriores estava normalmente em cena pouco mais de um mês, em Setembro, inserido nas comemorações da implantação da República. Este ano começou logo em Junho e prolongou-se até Outubro, sob o título “The Land of the People“, “A Terra do Povo”.
A performance inclui fogo de artifício, drones, homens voadores, projecções de laser e de imagens. Um dos elementos mais impressionantes é o ecrã gigante criado por estudantes com cartões coloridos com que nas bancadas à nossa frente, num perfeito sincronismo, vão formando imagens ao longo de toda a actuação.
O espectáculo é dividido em vários actos relacionados com a história recente da península da Coreia, enaltecendo as virtudes do seu povo na construção da pátria. Há uma parte com crianças, outra com actores uniformizados, outra de Taekwondo, outras de músicas, algumas de pura ginástica.
Entre os momentos mais emotivos contam-se o hastear da bandeira e, um momento em que duas mulheres representando as duas Coreias, com os seus longos vestidos lembrando o Arco da Reunificação, cantam juntas. Com menos interesse acaba por ser uma parte demasiado longa em que apenas um punhado de artistas dança num pequeno palco.
De referir que o preço dos bilhetes este ano variou entre os 100€ (3ª classe) e os 800€ (VIP). O recomendado é mesmo o mais barato, já que nos outros não trazem um acréscimo significativo: apenas se fica um pouco mais ao centro. Fechava-se assim, com chave de ouro esta viagem à Coreia do Norte.
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