Início Ásia Coreia do Norte Pyongyang monumental

Pyongyang monumental

0
Pyongyang monumental

Depois da tempestade, a bonança. Nos noticiários contam-se os mortos e os estragos causados no dia anterior pelo tufão que se abateu sobre a península coreana. A chuva lavou paredes e ruas e deu lugar a um calor húmido e sufocante.

O dress code de hoje pede camisas com colarinho, proíbe as calças de ganga ou os ténis. Iniciamos assim este dia de descoberta do que a cidade tem de mais grandioso.

Rua com bandeira da Coreia do Norte
Rua calma em frente ao hotel Koryo

Kumsusan, o Palácio do Sol

A primeira paragem é o mais importante templo desta verdadeira religião que é o Kimilsunismo: Kumsusan, o Palácio do Sol, mausoléu dos grandes líderes Kim Il-Sung e Kim Jung-Il.

Sobre as peculiaridades da visita a este local escrevi um artigo que intitulei:

Pyongyang, a sagrada

Kumsusan, o Palácio do Sol em Pyongyang
Kumsusan, o Palácio do Sol em Pyongyang

O jardim e as flores

Pequenos Pioneiros junto a mural em Pyongyang
Crianças junto de imagem dos líderes numa rua de Pyongyang

De Kumsusan regressamos a centro da cidade para uma paragem no jardim das fontes de Mansudae. Localizado entre a Casa de Estudo do Grande Povo e o Grande Monumento da Colina Mansu, é um local aprazível, com fontes, obras escultóricas e, quiosques para venda de flores.

Há pequenos ramos, mas também enormes vasos que os grupos oferecem lá em cima, à grandes estátuas. Somos convidados a comprar um pequeno, mas apenas um do grupo e o guia o fazem. Subimos.

Escultura norte coreana
Escultura no parque de Mansudae
Crianças a brincar em fonte na Coreia do Norte
Crianças a brincar numa cascata artificial no parque de Mansudae
Rapazes a conversar junto a fonte
Rapazes a conversar junto a fonte
Mulher em quiosque laranja para venda de flores em Pyongyang
Mulher preparando arranjo de floras num dos quiosques
Casa de Estudo do Grande Povo
A gigantesca Casa de Estudo do Grande Povo um dos poucos edifícios com telhado tradicional em Pyongyang

Mansudae, O Grande Monumento da Colina Mansu

Esta é provavelmente a imagem mais conhecida da Coreia do Norte: as colossais estátuas de bronze de Kim Il-Sung e Kim Jun-Il. O monumento replica-se pelas várias cidades do país, mas nunca tão grandiosamente como aqui.

Em dia de véspera das celebrações do 71º aniversário da fundação do país por um daqueles homens, são muitos os norte coreanos que vêm até aqui prestar a sua homenagem. Chegada a nossa vez, alinhamos-nos numa linha, quem tem flores avança para as depositar aos pés das estátuas e depois fazemos uma prolongada vénia. Saímos sem mais demoras para dar lugar ao próximo grupo.

Em frente, já do outro lado do rio Taedong podemos ver o monumento ao Partido dos Trabalhadores da Coreia. Este é apenas um exemplo do fabuloso urbanismo da cidade.

Estátuas de Kim Il Sung e Kim Jung Il em Pyongyang
O autor na fotografia da praxe em Pyongyang
Vista para o monumento do Partido dos Trabalhadores da Coreia
Vista para o monumento do Partido dos Trabalhadores da Coreia

Caminhamos um pouco pela colina até um ponto de onde podemos observar a estátua de Chollima. Este mítico cavalo alado, conhecido pela sua velocidade, é um importante símbolo para a Coreia do Norte. Representa a necessidade de avançar com grande velocidade no crescimento económico do país para o qual deve contribuir todo o povo.

Monumento ao cavalo alado Chollima
Monumento a Chollima

Noodles frios

Ao almoço temos como prato principal os noodles frios, um dos mais tradicionais da península coreana. Tão popular, que foi servido no almoço de encontro entre Kim Jung-Un e o presidente Moon da Coreia do Sul.

O prato vem montado como na imagem e, depois de adicionar os temperos mistura-se tudo e come-se. À primeira vista pode parecer estranho, mas cai bem mesmo depois das milhentas entradas.

Taça de Noodles Frios
Noodles Frios

Saciados, partimos para a mais longa caminhada urbana desta viagem: vamos do restaurante até à praça Kim Il-Sung, um trajecto de 800 metros pelo coração da capital norte coreana.

Tirando o reduzido tráfego automóvel para tão largas vias, a verdade é que não há nada de especial aqui. Um domingo numa cidade como qualquer outra, tirando ser véspera de um dos mais importantes feriados do país, o 9 de Setembro, dia da Fundação da República.

Autocarro em Pyongyang
Autocarro em rua de Pyongyang
Casal de bicicleta em Pyongyang
Casal a andar de bicicleta
Rua de Pyongyang
Pelas ruas de Pyongyang
Homem de mota em Pyongyang
Homem de motorizada no centro de Pyongyang
Casal com bebé a passear em Pyongyang
Casal com bebé a passear na praça Kim Il-Sung

Praça Kim Il-Sung

Chegamos assim àquele que é provavelmente o pedaço da Coreia do Norte mais difundido pelas televisões ocidentais. É por estas ruas que desfila o exército norte coreano, mostrando ao mundo o poderio militar do país em magnificentes paradas militares. Um ano depois da última que esta praça testemunhou, encontramos uma tarde de calmaria.

Rapaz a correr na praça Kim Il-Sung
A Casa de Estudo do Grande Povo e o balcão de observação das paradas
Edifício com bandeira da Coreia do Norte em Pyongyang
Icónico edifício da praça Kim Il-Sung com a bandeira da Coreia do Norte
Mulheres em rua de Pyongyang
Pessoas a circular pela praça Kim Il-Sung

No chão vêm-se as marcas onde se alinham os figurantes para criar os mosaicos coloridos que acompanham o desfile. Um pouco ao estilo do que irei ver no dia seguinte nos grandes Jogos de Massas. Na outra margem do rio conseguimos ver a Torre da Ideologia Juche onde iremos mais tarde.

Marcas para paradas no chão da praça Kim Il-Sung
Marcas no chão para alinhamento dos figurantes das paradas
Torre da Ideia Juche
A torre da Ideia Juche vista da praça Kim Il-Sung

O mais estranho museu

Durante a tarde surge uma má notícia: devido ao tufão do dia anterior, que terá provocado grandes estragos mais para Sul, as viagens para fora da cidade continuam a não ser autorizadas. A continuar assim não viajaremos para Kaesong onde era suposto pernoitarmos.

O Museu da Guerra Vitoriosa também não abre hoje. O plano alternativo é a visita a mais um formidável museu de propaganda este, no estado mais refinado possível.

A poucos quilómetros da cidade visitamos um museu que não é mais do que uma caixa forte onde são guardadas ofertas de cidadão coreanos, residentes no país ou além-fronteiras, ao líderes norte coreanos. Lá dentro há carros, jóias, computadores, electrodomésticos, mobiliário, pinturas, esculturas e muito mais.

As fotografias são proibidas, com excepção do terraço da cobertura.

Museu de oferendas nos arredores de Pyongyang
Vista do terraço

Um gigante adormecido

Regressamos à cidade apreciando apreciando a arquitectura e os movimentos do quotidiano. Pyongyang é uma idade fotogénica, com as bandeiras e murais a dar um toque de cor. Uma das particularidades que a torna única no Mundo é que não há publicidade alguma. As fachadas estão despidas de anúncios, nas ruas não há outdoors.

Mural de propaganda em rua de Pyongyang
Rua de Pyongyang com mosaico de propaganda
Homem de bicicleta sobre ponte em Pyongyang
Rua de Pyongyang
Rua de Pyongyang
Arquitectura monumental em Pyongyang

No horizonte da cidade há um edifício que se destaca pela sua extravagante forma e dimensão: o hotel inacabado Ryugyong. A enorme estrela de três braços com perfil triangular eleva-se nos céus de Pyongyang até aos 330m de altura dos seus 105 andares. À noite serve de tela para a projecção de mensagens patrióticas.

A construção iniciou-se em 1987, mas foi interrompida em 1992 após a queda da União Soviética. Com as restrições dos embargos e as dificuldades económicas do país, tem visto a sua conclusão sucessivamente adiada. Diz-se que as obras estão a decorrer, financiadas pelo Egipto, esperando-se a sua inauguração em 2022. Veremos.

Passagem para peões com hotel Ryugyong ao fundo
Passagem para peões com hotel Ryugyong ao fundo
Hotel Ryugyong em Pyongyang
Hotel Ryugyong em Pyongyang
Hotel Ryugyong à noite iluminado
Hotel Ryugyong à noite

A ideia Juche

A meio da tarde cruzamos o rio Taedong para subir ao topo da torre da Ideologia Juche. Com 170 metros de altura (incluindo os 20 metros da chama) é a segunda mais alta torre de pedra do mundo e lembra aos norte coreanos a ideologia orientadora do país, o Juche.

A ideologia Juche coloca o Homem no centro de todas as decisões e assenta na auto-suficiência do país e, no culto ao líderes do povo.

Torre da Ideologia Juche
A grande torre da Ideologia Juche

Em frente da torre encontramos uma estátua de bronze representando três trabalhadores: um intelectual (com o pincel), o industrial (com o martelo) e uma camponesa (com a foice). Formam assim o símbolo do Partido dos Trabalhadores da Coreia.

A ladear a torre ao longo das margens do rio, estende-se um jardim onde se podem igualmente observar algumas esculturas de granito representando os benefícios da ideologia Juche.

Como à nossa chegada a fila para subir à torre estava algo longa, foi-nos dada liberdade para passear pelo espaço em redor, sem os guias. Um raro momento de liberdade na Coreia do Norte. Esta é uma zona também bastante frequentada pelos habitantes locais para passear.

Casal de namorados a passear em Pyongyang
Casal a passear nas margens do rio Taedong
Barcos no rio Taedong com ponte ao fundo
Barcos no rio Taedong
Escultura na torre da ideia Juche
Escultura em frente a torre Juche
Homem de moto em frente à Torre da ideia Juche
Homem de motorizada passa em frente à torre Juche

À entrada, para grande espanto meu, eis que no meio de dezenas de painéis oferecidos por grupos de estudo da ideologia, se destaca não um, mas quatro vindos de Portugal. A subida de elevador custa 5€ ou 40RMB.

Mulherem frente a placas dos comités de estudo do kimilsunismo
Guia local junto ao mural à entrada da Torre da Ideologia Juche

Lá em cima temos 360 graus de vista para uma cidade fabulosa. Em contraluz temos a outra margem com a praça Kim Il-Sung, as estátuas da colina Mansu a espreitar por detrás de prédios futuristas e, a rasgar o horizonte, a silhueta triangular do grande hotel Ryugyong.

No centro do rio vemos à esquerda, numa ilha, o hotel Yanggakdo e, à direita, noutra ilha, o estádio 1º de Maio Rungrado, o maior do Mundo onde amanhã iremos assistir aos grandes Jogos de Massas.

A margem de cá é ocupada por bairros habitacionais com as suas cores pastel iluminadas pelos quentes raios de Sol. No meio delas conseguimos vislumbrar o monumento do partido, para onde vamos de seguida.

O Partido

A foice, o martelo e o pincel: três símbolos sempre presentes na Coreia do Norte ou não representassem o eterno partido no poder: o Partido dos Trabalhadores da Coreia.

O interior do anel esconde baixos relevos em bronze que enaltecem a história do partido, o papel deste na luta pela independência do Japão e na defesa da ideologia Juche. Alinhado com ele, do outro lado do rio, conseguimos ver as grandes estátuas onde estivemos de manhã.

Baixo relevo no monumento do Partido dos Trabalhadores da Coreia
Baixo relevo no monumento do Partido dos Trabalhadores da Coreia

USS Pueblo, a visita possível

A dois dias de sair do país e já sem qualquer hipótese de visitar o Museu da Guerra Vitoriosa, a nossa guia Ji Hyang desdobra-se em esforços para que possamos, ao menos, ver de perto o USS Pueblo.

Paramos no estacionamento de um famoso bar de cerveja e, com as indicações de alguns transeuntes, lá conseguimos atalhar pelo jardim até às margens do canal onde este está atracado. Alguns pescadores ao longo da margem tentam a sua sorte.

Do outro lado temos o único navio da marinha norte-americana apreendido no estrangeiro. Capturado pelas forças norte coreanas em Janeiro de 1968, segundo estas em águas nacionais, veria a sua tripulação de 83 homens (um deles morto no ataque) capturada pelas forças inimigas. O incidente tornou ainda mais tenso o ambiente bélico vivido entre as duas potências. Ao fim de quase um ano de negociações a tripulação viria a ser libertada a tempo do Natal, a 23 de Dezembro do mesmo ano.

Navio espião americano USS Pueblo GER 2 em Pyongyang
Navio USS Pueblo num canal de Pyongyang
pescadores em canal na Coreia do Norte
Homens a pescar em Pyongyang

Para ocupar algum do tempo que entretanto temos a mais por não viajarmos hoje para Kaesong, vamos até ao tal bar beber umas cervejas. Uma das opções é provar cada uma das sete variedades da cervejeira nacional.

Copos de cervejas na Coreia do Norte
As 7 variedades de cerveja norte-coreana

Diversões

Nunca fui grande fã de parques de diversões, mas é evidente que a possibilidade de entrar num na Coreia do Norte é irrecusável. Depois de jantar vamos até à Feira Popular de Moranbong, nas imediações do Arco do Triunfo e do estádio Kim Il-Sung.

O ambiente é animado, há muita gente de todas as idades, sorrisos e muitas luzes. A entrada é um extra não incluído na viagem e custa para nós turistas 3€. Andar nas máquinas custa 2 a 5€.

Assim que entro no parque vejo logo algo que gostava de experimentar: uma torre que eleva os passageiros a grande velocidade para uma altura que estimo nuns 50 metros. Imagino a vista que se tem lá de cima. Tento não me questionar muito acerca do registo de manutenção desta e pago os 5€ para andar.

Para turistas, que até têm prioridade na fila (vá-se lá saber quanto não pagamos a mais que um local), o operador para a plataforma no topo durante alguns minutos para podermos observar a paisagem.

Antes da queda abrupta, deliciamos-nos com a vista nocturna da cidade, onde se destaca em primeiro plano o Arco do Triunfo e, ao fundo, o hotel Ryugyong com a sua iluminação monumental.

Parque de diversões em Pyongyang
A torre na Feira Popular de Moranbong
bares à noite em Pyongyang
Tascas de rua na noite de Pyongyang

No exterior, em várias tascas, os habitantes convivem à volta de umas cervejas. A caminho do hotel recebemos a melhor das notícias: acabam de ser autorizadas as viagens para fora da cidade no dia seguinte. Renasce assim a esperança de visitar a Zona Desmilitarizada entre as duas Coreias.

Para vencer as hordas de turistas chineses, combinamos a saída para as 6h30 da manhã.

Agora sim: um quarto com vista

Chegamos assim ao hotel Yanggakdo, localizado numa ilha bem no centro do rio Taedong. Da altura da torre da Ideia Juche e com cerca de 1000 quartos, este é o maior hotel do país.

Depois da desilusão das janelas do quarto do hotel Koryo, aqui não há nada que me impeça de apreciar a sensacional vista nocturna para a cidade.

Vista panorâmica nocturna de Pyongyang
Vista nocturna da cidade de Pyongyang com torre Juche à direita.
Quarto do hotel Yanggakdo em Pyongyang
Quarto do hotel Yanggakdo
Artigo anterior Pyongyang, a sagrada
Próximo artigo Coreia do Norte: Guerra e Paz no último dia de viagem
Olá! Eu sou o Samuel, autor do artigo que acabou de ler. Como você, também gosto de viajar e descobrir povos e lugares. Partilho neste blog as experiências vividas nos vários países por onde já andei. Pode saber mais sobre mim na página <a href="https://dobrarfronteiras.com/sobre-autor-david-samuel-santos/">Sobre o autor</a>. Espero que tenha gostado e, se tiver alguma coisa a acrescentar, deixe um comentário abaixo.