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Pyongyang, a sagrada

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Pyongyang, a sagrada

Hoje é o grande dia: vamos em peregrinação ao local mais sagrados para os norte coreanos: Kumsusan, o palácio do Sol, mausoléu dos grandes líderes Kim Il-Sung e Kim Jung-Il.

Raparigas de uniforme  em Kumsusan, Pyongyang
Raparigas coreanas nos jardins do Palácio do Sol

A indumentária deve corresponder à solenidade de tal acontecimento. Por isso, desde a marcação da viagem que fomos avisados para levar uma roupa formal para este dia. Nada de calças de ganga, sapatilhas ou sandálias. Um colarinho é fundamental, mas basta um Polo, desde que de cores lisas.

O nosso guia, Nic, relembra-nos de tudo isto no dia anterior e da importância de dar-mos o nosso melhor para entrar no jogo e viver o momento. Eu, aproveito a oportunidade para levar duas recordações da Coreia do Norte: um corte de cabelo e, uma gravata.

Kumsusan, o Palácio do Sol em Pyongyang
Kumsusan, o Palácio do Sol

Kumsusan, o Palácio do Sol

O Palácio do Sol fica na periferia de Pyongyang. Durante a curta viagem até lá ouvimos a história do local, construído como gabinete de Kim Il-Sung mas, por desejo do povo coreano, transformado em mausoléu após a sua morte. O mesmo povo que doa uma parte do seu ordenado para a Fundação Kim Il-Sung, responsável pela manutenção do espaço.

A visita, mesmo para os coreanos, não é livre: o edifício apenas abre duas vezes por semana e, não pode ser visitado individualmente, mas sim em grupos organizados pela companhia onde trabalham. Fotografias no interior do edifício estão proibidas, assim como a introdução de qualquer equipamento electrónico. O máximo que se deve levar nos bolsos é um lenço para secar as lágrimas.

E não se julgue que isto é descabido. Para nós, insensíveis hereges pode-o ser, mas não para um norte-coreano. O culto dos líderes é seguido como uma religião que tem aqui o seu local mais sagrado. É aqui o “Muro das Lamentações”, o “Túmulo de Cristo”, a “Meca” de um norte coreano. É aqui que que se pode estar cara a cara com as divindades. A música patriótica ecoa pelos corredores e ajuda a construir o ambiente.

Portão de Kumsusan em Pyongayng
Colossal portão para acesso dos VIP

A Anita vai a todo o lado

A partir do parque de estacionamento não se pode fotografar. Nele encontram-se já algumas centenas de romeiros que aguardam a sua vez. Alinhados quatro a quatro somos conduzidos ao bengaleiro onde deixamos os nossos pertences.

Após o controlo de segurança com detectores de metais somos transportados por uma passadeira rolante até ao interior do edifício. Uns 10 minutos para percorrer 200m em que pelos vidros podemos apreciar os belos jardins que rodeiam o monumento.

Já lá dentro, uma nova passadeira leva-nos ao longo de um corredor ladeado por fotografias dos dois líderes finados. A analogia com os livros da Anita é inevitável: eles foram a todo o lado! O Kim vai às compras, à fábrica de lubrificantes, à colheita do arroz. O Kim anda de avião de barco, de comboio e a cavalo. O Kim encontra-se com o presidente chinês, com o russo, com sei lá quem!

As múmias

Novamente alinhados em grupos de quatro, chegamos à primeira grande sala onde somos recebidos pelas estátuas gigantes de cera de Kim Il-Sung e Kim Jung-Il. Um linha no chão marca a posição em que devemos fazer a vénia.

Seguimos pelos corredores de mármore do palácio, adornados com vistosos lustres e ricos tapetes até à sala onde se encontra o primeiro corpo. À entrada, potentes jactos de ar purificam-nos de algum pó que possamos transportar.

Uma ténue luz vermelha ilumina a sala onde, ao centro, num caixão de vidro está o corpo embalsamado do eterno presidente coreano, Kim Il-Sung. Contorna-mo-lo fazendo três pronunciadas vénias em seu redor. Segue-se uma sala com galhardetes e distinções atribuídas pelas mais diversas entidades dos quatro cantos do Mundo. Não faltam claro algumas de Portugal. A cena repete-se para o seu filho Kim Jung-Il.

As proporções faraónicas deste local confirmam-se no piso inferior. Aqui, para seu usufruto no outro Mundo, estão guardados alguns objectos pessoais dos dois líderes. Entre eles contam-se os seus Mercedes blindados, as carruagens de comboio presidenciais (incluindo aquele onde Kim Jung-Il morreu) e até um navio! Surreal…

Neste vídeo, embora filmado numa cerimónia oficial, é possível espreitar e ver o interior do palácio:

De volta ao mundo dos vivos

No caminho inverso as passadeiras rolantes estão agora preenchidas por norte coreanos. Dos olhares cabisbaixos vêm-se cair algumas lágrimas. Estão a chegar os verdadeiros crentes.

Voltamos ao bengaleiro recolher os nossos pertences antes de nos dirigirmos ao jardim. Aqui é o único local onde podemos fotografar. O Sol reflectido nos chãos de pedra clara está tão forte que doí manter os olhos abertos.

A peregrinação continuará durante a tarde com a visita a outros locais sagrados: as estátuas do Grande Monumento da Colina Mansu, a grande chama da ideologia Juche e o monumento do abençoado Partido dos Trabalhadores da Coreia.

Kumsusan, o Palácio do Sol
Kumsusan, o Palácio do Sol
Coreanos tirando fotografia em Kumsusan, o Palácio do Sol
Visitantes coreanos tirando uma fotografia de grupo
Fotografia de grupo em Kumsusan
A nossa fotografia em grupo em frente ao palácio do Sol
raparigas sobre ponte a dar comida a cisnes
Raparigas dando comida aos cisnes em Kumsusan
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Olá! Eu sou o Samuel, autor do artigo que acabou de ler. Como você, também gosto de viajar e descobrir povos e lugares. Partilho neste blog as experiências vividas nos vários países por onde já andei. Pode saber mais sobre mim na página <a href="https://dobrarfronteiras.com/sobre-autor-david-samuel-santos/">Sobre o autor</a>. Espero que tenha gostado e, se tiver alguma coisa a acrescentar, deixe um comentário abaixo.