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Coreia do Norte: das indústrias de Hamhung às praias de Wonsan

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Coreia do Norte: das indústrias de Hamhung às praias de Wonsan

O som das ondas dá início a mais um dia cinzento nesta viagem pela Coreia do Norte. A meteorologia parece querer dar razão aos estereótipos criados no ocidente: sob as nuvens é sempre mais difícil encontrar a cor, a beleza, a alegria.

Saímos do resort pelas 8h30 para uma curta viagem até um dos pontos altos da viagem: a visita à fábrica de fertilizantes de Hungnam a um par de quilómetros dali.

praia Coreia do Norte
Dia pouco convidativo para banhos em Majon

Fábrica de fertilizantes de Hungnam

Responsável pela fertilização dos campos de todo o país, esta é uma peça chave na política isolacionista da República Popular Democrática da Coreia. Está inserida num vasto complexo que alberga algumas das maiores indústrias do país, especialmente químicas.

Entre elas está o complexo da fábrica de Vinylon, também conhecida por “fibra Juche”, quase exclusivamente produzida aqui e, tela base para as roupas usadas pela maioria dos norte coreanos. Longe dos olhares dos visitantes estão também as fábricas de mísseis e combustível para os mesmos.

Rodeados de enormes painéis de propaganda, somos recebidos por três guias da fábrica que nos acompanham no autocarro até ao pavilhão que vamos visitar. Pelo caminho só os cartazes dão cor ao cinzento do céu, do chão, das roupas e dos rostos. O cheiro a amoníaco é intenso e trás-me memórias da infância, quando os meus pais o usavam para cópias heliográficas de folhas de grandes formatos.

A guia, usando a sua cábula, esforça-se para nos traduzir o processo químico de fabrico dos fertilizantes. Por fim entramos numa das naves que abriga enormes máquinas a que sucessivas camadas de tinta vão mantendo a cor ao longo das suas décadas de trabalho.

Iluminado pelos raios de sol que entram pelas janelas o cenário proporciona-nos uma visita que se equilibra entre o turismo industrial e a exploração de locais abandonados. É uma viagem no tempo e uma fabulosa oportunidade fotográfica.

Paramos ainda num dos pavilhões onde o fertilizante é armazenado em sacos e carregado para os camiões que o distribuem pelo país.

A casa de Ryi Song Gye

A um par de quilómetros dali fica a casa natal de Ryi Song Gye, fundador da dinastia Ryi. Este é um dos poucos locais onde os grandes líderes não entram na história. Aqui não entram a propaganda nem os conselhos destes embora.

O edifício e a sua envolvente estão impecavelmente cuidados. A guia conta-nos algumas história e lendas que envolvem o local e o rei mas, o que nos capta verdadeiramente a atenção é um casal de noivos que se encontra ali numa sessão fotográfica. Mais haveríamos de ver nos dias seguintes pois parecem ser comuns entre os casais por aqui. O colorido dos trajes tradicionais que envergam para estas ocasiões dá um encanto único à visita.

O grande teatro de Hamhung

Antes de rumarmos a Sul, para Wonsan, passamos mais uma vez pelo centro de Hamhung para almoçar e, apreciar o exterior do grande teatro de Hamhung.

O colossal edifício cinzento é o maior teatro do país. Pelas portas de vidro podemos ver um pouco do mural à sua entrada enquanto na praça em frente as pessoas caminham ou pedalam em mais um dia de chuva.

Viagem para Wonsan

De Hamhung viajamos para Sul até à cidade costeira de Wonsan. A viagem faz-se novamente debaixo de uma chuva fraca, numa estrada saltitante pelo meio dos campos de arroz.

Mosaico com os grandes líderes em Wonsan
Mural com os grandes líderes na cidade de Wonsan, Coreia do Norte

Há chegada fazemos o check-in num hotel da marginal. No loby lá está a obrigatória fotografia do líder numa visita ao local. Uma longa viagem de elevador leva-me ao quinto piso onde fica o quarto decorado ao bom estilo do século passado.

Da janela avistam-se no horizonte os hotéis de um enorme resort recém construído e ainda por inaugurar, destinado sobretudo ao turismo de praia para as grandes massas chinesas.

Esta é uma das razões que me faz acreditar que a Coreia do Norte pode mudar para melhor. O enorme areal virado para o mar do Japão onde agora se ergue o resort era, há apenas 5 anos atrás, um dos cenários para testes de armas e demosntração do poderio militar norte coreano.

Vista do quarto do hotel em Wonsan, com os hotéis do novo resort ao fundo

Daqui seguimos para o campo de férias de Songdowan.

Campo de férias internacional de Songdowan

Um dos melhores do país (provavelmente como nenhum outro), vêm aqui passar uma temporada os melhores alunos do país. A selecção é feita por turma para incentivar o espírito de equipa. O espaço é também aberto a crianças de outras nacionalidades.

À nossa chegada há alguns grupos de crianças que, sob o olhar das estátuas dos líderes rodeados de crianças, se dirigem, cantando, para o grande anfiteatro. Na letra são perfeitamente perceptíveis as palavras Kim Il-Sung e Kim Jung-Il, não deixando dúvidas de que aqui a doutrinação não tira férias.

O complexo é enorme e na verdade muito bem equipado. Há um parque aquático que o céu cinzento deixou vazio, salas de formação em diversas áreas, incluindo a vida na natureza, fazendo lembrar o escutismos, campos de ténis e dormitórios para centenas de crianças.

O mais impressionante acaba por ser o edifício do aquário. Este alberga várias espécies de peixes, algumas exóticas, em grandes aquários que incluem um grande, cilíndrico e, um túnel transparente onde podemos ver raias e tubarões sobre nós.

Praia em Wonsan

Para terminar o dia temos a possibilidade de ir até à praia. Como a alternativa é ir para o hotel onde o entretenimento se resumo a umas cervejas e uma bookstore, resolvo ficar na praia mesmo sem querer ir a banhos.

Não está mais ninguém. O tempo não convida a isso. Os apoios de praia de design futurista estão fechados, mas a nossa guia lá conseguem que abram um para nós e coloquem um guarda-sol para nos abrigar da chuva.

Os mais destemidos, para além de nadar, aproveitam para dar uns saltos das precárias pranchas que se encontram no mar.

Chega assim ao fim mais um dia cinzento na Coreia do Norte, felizmente rasgado alguns belos raios de cor, nos cartazes de propaganda, nos jardins do campo de férias ou, nos tradicionais trajes dos noivos.