Mianshan, o monte Mian
Embora fique de fora na maioria dos roteiros de viagem pela China, Mianshan é um local que não deve ser desconsiderado. Descobri-o enquanto planeava a minha viagem à China e uma vez que já planeava passar lá perto não pude deixar de reservar um dia para ir até lá.
Num vale escarpado a 60 quilómetros de Pingyao escondem-se os templos taoistas de Mianshan. O cenário é um misto de belo e assustador. A estrada que conduz aos templos equilibra-se nos penhascos decorados por templos coloridos. Uma escapadinha que vale a pena!
De Pingyao a Mianshan
Sinto-me um E.T. a bordo do comboio K609 que às 9h34 da manhã desce de Pingyao para Jiexiu. Viajo pela primeira vez numa carruagem de bancos duros (que não são assim tão duros), a mais barata nos comboios chineses. Neste caso custou-me 9RMB.
Atravessando uma desoladora paisagem dominada por chaminés da industria pesada, chego em 20 minutos à cidade de Jiexiu. Os taxistas sabem que os turistas vêm até aqui por uma única razão: Mianshan. Todos se oferecem para me levar até lá, mas pretendo ir de autocarro. Dizem que não há, mas pelo meio da conversa consigo perceber que se pronuncia Miansan e não Mianxan. É que a transliteração do chinês nem sempre traduz a pronúncia mais acertada.
À saída da estação viro à esquerda até ao largo onde há uma pequena estação de autocarros. Pergunto então por Miansan. Uma mulher diz-me que só de táxi, mas outras pessoas ajudam-me a encontrar o autocarro correto que custa 5RMB.
Partimos da cidade em direcção às montanhas, até que me pedem para sair num cruzamento, já que o autocarro não vai mesmo até à entrada do parque. Dizem-me para esperar por outro autocarro, mas acabo por apanhar um táxi que aparece logo atrás e que me leva por 10RMB nos últimos 4 quilómetros.
Para quem procura uma viagem mais directa, há sempre a hipótese de alugar um táxi para o dia todo a partir de Pingyao.
Subida à montanha
A receber os visitantes está um monumental edifício moderno onde funciona a bilheteira e a paragem dos autocarros que sobem à montanha. Uma infraestrutura colossal, dimensionada para a grande afluência de turistas chineses na época alta.
O bilhete custa 150RMB dos quais 5RMB são referentes ao mapa e 10RMB uma caução que é devolvida no final com a entrega do cartão do autocarro. Para aceder ao topo da montanha é mesmo essencial ir de autocarro, pois são alguns quilómetros a subir por estrada sinuosa.
Visita a Mianshan
Ao longo do vale há imensos templos e locais naturais muito bonitos. Estive em Mianshan entre as 10 da manhã e as 5 da tarde conseguindo visitar os locais que vou falar abaixo.
O mapa que é vendido no local é uma boa ajuda para planear o dia, pois tem algumas fotografias e mapas dos trilhos. Embora pouco detalhados, a circulação é mais ou menos intuitiva.
Os autocarros circulam em trajectos vai e volta (sempre na mesma e única estrada), fazendo paragens junto aos principais templos. Opto por ir até à última estação e iniciar a minha visita a partir daí.
Vales de Shuitao e Rattan
Um punhado de visitantes sai comigo do autocarro. Há pouquíssima gente por aqui já que estamos em época baixa. Sinal disso são os hotéis, restaurantes e diversões às moscas.
Deste ponto pode seguir-se a pé por dois vales, o de Shuitao e o afluente, de Rattan. Corre alguma água pelos ribeiros, mas o frio dos dias de inverno pintou todo o cenário de um monocromático cinzento. O local parece ser muito aprazível no Verão e consigo mesmo imaginar as famílias a fazer pic-nics nas mesas que há ao longo do rio.
Desta última paragem parte também um teleférico montanha acima para o túmulo de Jiegong. Eu apanho o autocarro agora no sentido inverso até à paragem seguinte, onde se inicia o trilho do vale de Qixian.
Vale de Qixian e o Templo de Jiegong
Um dos trilhos mais famosos de Mianshan é o que sobe o vale de Qixian. Uma espécie de via ferrata leva-nos a subir pelo leito sinuoso do ribeiro. Os degraus, parecem teclas de um piano suspensas sobre a água. Também aqui falta algum encanto ao local, pois o inverno frio e seco levou a água e o verde da vegetação.
Cruzo-me apenas com algumas pessoas que descem, logo no início do trilho, subindo o resto sozinho. O silêncio é apenas quebrado pelos pássaros, esquilos e pelas folhas secas de Outono levadas pelo vento. Depois, saindo do ribeiro, o caminho continua até ao templo de Jiegong.
Este é o primeiro dos templos de Mianshan que visito. A fachada não deixa nem imaginar o que se esconde no interior da montanha. Lá dentro, numa enorme gruta, está uma gigantesca estátua de Jiegong rodeada de um cenário celeste tridimensional e de cores vivas.
Templo de Yunfeng e a escadaria em Zig Zag
Volto a apanhar o autocarro até junto ao hotel de Yunfeng. Este hotel é um dos mais emblemáticos de Mianshan, por ter um enorme elevador panorâmico em vidro.
É daqui que se sobe ao templo de Yunfeng, aquele que mais me impressiona neste local. Este é composto por vários edifícios parcialmente construídos no interior de uma enorme cavidade de rocha. O contraste das paredes pintadas de vermelho com o verde da vegetação e o branco da rocha remetem quem sobe até aqui para uma China ancestral.
Sem descer novamente até à estrada sigo por um trilho a meio da encosta até chegar à escadaria em zigzag. Já a tinha avistado logo de manhã quando passei de autocarro e pensei logo: “Quero subi-la!”.
A construção vertiginosa faz-me já pensar nos trilhos suspensos de Huashan onde pretendo ir dentro de poucos dias. Não me cruzo com ninguém durante a subida. Encontro la no topo o templo fechado e, embora ainda desse para subir mais, decido descer. A vista neste ponto não é nada de extraordinário, mas a escada é assustadora quanto baste.
Depressão de Zhujia
Volto a apanhar o autocarro até Zhujia, uma depressão na rocha onde se encaixa mais um templo e um hotel. É curioso ver a quantidade de hotéis, com centenas de quartos que há por aqui e imaginar como será este local em época alta… Felizmente não é agora.
Para chegar ao templo há que vencer dois lances de escada, quase verticais. O uso das mãos para auxiliar na subida é imperativo. Tenho a companhia de um grupo de chineses até ao topo.
Mais uma vez, o templo guarda no seu interior uma enorme estátua envolta num cenário de madeira pintada. Parece contar uma história que, infelizmente, os meus fracos conhecimentos taoístas não permitem perceber.
Da nascente em funil à ponte no céu
O autocarro deixa-me junto à mansão da Lua e do pavilhão do ar puro, belos edifícios adornados com madeiras pintadas de azuis e vermelhos, coroados com telhas de cerâmica.
Daqui sobe-se a uma nascente, que eu não encontrei. Talvez por ser época seca ou, quem sabe, por andar distraído com a grandiosidade da paisagem. Daqui, sem descer à estrada, percorre-se um trilho estreito que contorna a rocha e leva a mais um fabuloso conjunto de templos.
Assim que se chega destacam-se dois elementos: de um lado o trilho que conduz a um pequeno templo, semelhante a uma ponte, suspenso na falésia. Do outro, uma enorme serpente construída em cimento que parece descer pela montanha. Tento não questionar a qualidade da construção destas estruturas enquanto caminho tranquilamente até à outra ponta.
Templo de Daluo
Chego por fim ao último templo que pretendo visitar neste dia em Mianshan. Faço uma pausa para comer umas salsichas antes de mais uma subida.
O Sol de inverno já começa a baixar. Antes de chegar ao grande templo há outros mais pequenos construídos como que em socalcos. Cruzo-me com algumas pessoas que descem e, quando por fim chego à entrada do templo sou o único visitante.
Decorrem trabalhos de pintura e manutenção e o cheiro a diluentes é intenso. Quando desço encontro já as lojas fechadas e não há ninguém na estrada. Decido por isso ir caminhando, até que passa um autocarro que me leva de volta à entrada.
Regresso a Pingyao
Reparo que junto à bilheteira, ainda do lado de dentro, há uma placa que anuncia autocarros para Jiexiu, mas não está lá nenhum. Aproveito para devolver o meu bilhete e reaver a caução.
Quando saio, vejo um autocarro verde cheio de gente a arrancar. Ainda corro para ele, mas este não pára. Uma taxista que está por ali vem logo ter comigo, assim como um rapaz que a acompanha. Desdobram-se em argumentos para me convencer a ir de táxi. Como ainda tenho tempo até ao horário do comboio, espero para ver se haverá mais algum autocarro ou não.
Tendo como intérprete o rapaz que fala algum inglês, acabo por conseguir baixar o preço pedido de 40RMB por passageiro, para 20RMB. É então que o caricato começa: afinal a mulher já tem o táxi cheio e está à espera de 3 pessoas que estão ainda na montanha.
Acabo por regressar a Jiexiu num autocarro que aparece já ao cair da noite para deixar crianças da escola um pouco mais abaixo da entrada do parque. Regresso assim por 5RMB num autocarro que me tem por único passageiro.
- Categorias:
- China