Peneda-Gerês: de Arcos de Valdevez a Sistelo
Peneda-Gerês é o único Parque Nacional em Portugal e estende-se ao longo de 5 concelhos do norte do país. Guardo algumas boas memórias de infância, altura em que visitei alguns locais destas serras com os meus pais. Voltei no final deste Verão de 2020 para descobrir alguns locais que ainda não conhecia.
Neste artigo vai encontrar um roteiro de locais a visitar no Parque Nacional da Peneda-Gerês, no concelho de Arcos de Valdevez:
O ponto de partida foi no concelho de Arcos de Valdevez. É aqui que se localiza uma das “portas” do Parque Nacional. Há 5 portas no parque: uma em cada concelho. Na sua visita não tem de entrar por lá, mas deve fazê-lo: estes são espaços onde pode encontrar imensa informação, atividades e pessoas conhecedoras do terreno que o vão ajudar a disfrutar melhor do Parque Nacional.
Porta do Mezio (e o seu baloiço)
O Mezio destacou-se nos últimos meses desde que aqui foi instalado um baloiço que reclama ser o maior do país. Já não é a primeira vez que falo da minha paixão por baloiços, do misto de adrenalina e relaxamento que o movimento pendular proporciona.
A esta, junta-se o encanto de chegar aqui ao final do dia com o astro rei a cair no horizonte. O céu pinta-se de tons quentes num dos pores-do-sol mais espetaculares que já presenciei.
A Porta do Mezio oferece inúmeras actividades para graúdos e, especialmente, para miúdos. Canyonning, arborismo, passeios a cavalo, a pé ou de bicicleta, canoagem e workshops são algumas das actividades que aqui pode encontrar. O melhor mesmo é contactar a Porta do Mezio para saber tudo o que eles lhe podem preparar.
A observação dos astros é uma das actividades que aqui pode fazer. A noite em que aqui estive não foi a melhor já que a Lua cheia dominava o firmamento e não permitia ver grande quantidade de estrelas. Ainda assim, com a ajuda dos telescópios foi possível ver os anéis de Saturno entre outros corpos celestes.
Dormir em Arcos de Valdevez
Já era tarde quando regressámos ao Hotel Ribeira Collection em Arcos de Valdevez. Pela manhã, ainda na sala do pequeno almoço, consigo observar uma garça a pousar nas margens do rio Vez e uma lontra a nadar nas suas águas. É incrível a simbiose entre este edifício histórico (e a própria vila) e o tesouro natural que é este rio. Seguindo junto das suas margens vamos subindo pela serra da Peneda até à freguesia de Sistelo.
Sistelo e a Ecovia do Vez
Com 32 quilómetros paralelos ao leito, a Ecovia do Vez é a forma ideal de descobrir este rio de águas puras e, o Museu da Água ao Ar Livre do Rio Vez. Do total do percurso percorremos apenas a zona final (mais a montante), na freguesia de Sistelo.
Iniciamos a caminhada pelos passadiços do Sistelo, que compreendem apenas uma pequena parte da Ecovia. A transparência das águas é testemunho da sua pureza. Ao longo do percurso respira-se o ar puro, o verde e o chilrear dos pássaros.
À medida que subimos o vale, por entre as copas das árvores, começam a espreitar os socalcos tão caraterísticos desta região. Os passadiços dão lugar aos trilhos empedrados, usados durante séculos pelos aldeões.
Àqueles que durante décadas apenas tiveram estas vias agrestes para comunicar com o mundo, custa perceber e aceitar a invasão que o seu reino sofreu nos últimos anos. É bom caminhar aqui, mas é preciso saber respeitar as rotinas dos que lhe chamam casa.
Passear por estes e por outros trilhos do Parque Nacional da Peneda-Gerês não é o mesmo que ir para a praia: usa roupa e calçado adequado e prudência q.b.
Em trilhos de maior altitude, toma cuidado com a possibilidade de mudanças repentinas na meteorologia. Sabes de onde vem a alcunha de “Tibete Português”? O Sistelo começou a ser chamado assim, não pela paisagem, mas pelas rápidas mudanças meteorológicas que fazem lembrar as que ocorrem nos Himalaias.
Igreja
O lugar de Igreja é o principal da freguesia de Sistelo e, muitas vezes, confundido com a mesma. É o maior lugar da freguesia e é daqui que se iniciam os percursos pedestres que percorrem as encostas. Há aqui algumas infraestruturas de apoio como alojamentos locais, restaurantes e, brevemente um centro temático no “castelo”.
Os lugares da freguesia habitados actualmente são as chamadas “inverneiras”. Como o nome sugere, era aqui que as populações agro-pastoris viviam durante os meses de Inverno. No Verão, as famílias subiam para cotas mais altas em busca de melhores pastos para os animais. A essas aldeias de Verão dava-se o nome de “Brandas”. Hoje, a transumância já não acontece e as Brandas estão quase abandonadas.
Miradouro dos Socalcos
Poucos quilómetros acima de Igreja fica o miradouro dos Socalcos. Na paisagem coroada pelos picos rochosos da serra da Peneda destacam-se os socalcos, que ao longo dos séculos a sua população foi talhando nas encostas para a produção agrícola, sobretudo do milho e do feijão.
Miradouro de Estrica
Igreja, Estrica, Quebrada, Padrão e Porto Cova são os cinco lugares que formam a freguesia de Sistelo. Estrica, na margem direita do rio Vez fica na encosta oposta ao lugar de Igreja e é mais um dos miradouros onde vale a pena subir.
“Onde Portugal se Fez”
Voltamos a Arcos de Valdevez para um almoço no restaurante “A Floresta”, onde não faltou a carne Cachena, o feijão Tarrestre, o Bolo de Discos e os Charutos dos Arcos (uma das 7 Maravilhas Doces de Portugal) regados, claro está, por um bom vinho Verde.
O slogan “Onde Portugal se Fez” recorda um dos principais acontecimentos da fundação de Portugal ocorrido por estas terras em 1140. À data encontraram-se aqui os exércitos de Dom Afonso Henriques e do seu primo Afonso VII de Leão e Castela. Era necessário evitar uma batalha sangrenta e a perda de soldados essenciais para a guerra contra os infiéis (inimigo comum). Acordaram por isso a realização de um torneio medieval entre os melhores soldados. Deste episódio, conhecido como o Recontro de Valdevez, saiu vitorioso o exército de Dom Afonso Henriques.
Paço de Giela
Monumento Nacional desde 1910, as suas origens são anteriores à fundação nacional. Depois de anos ao abandono foi alvo de uma recuperação minimalista que o dotou de novas capacidades. Num pequeno espaço museológico podemos saber mais sobre a história do concelho e do Recontro de Valdevez. É hoje um motivo de orgulho para a autarquia e população locais.
Mais informações aqui: Visitar o Paço de Giela
Termina aqui o meu dia por Arcos de Valdevez. Também neste concelho fica a aldeia de Soajo, famosa pelos seus espigueiros. Desta vez não fui até lá, mas se está a planear visitar esta região é um local que tem de fazer parte do seu roteiro.
Daqui, esta viagem por terras da Peneda-Gerês seguiu para a vila vizinha de Ponte da Barca, nas margens do rio Lima, para no dia seguinte subir pelo seu vale até ao castelo e espigueiros do Lindoso.
Esta viagem teve o apoio do Turismo do Porto e Norte de Portugal.
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