“ O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp’rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —
Os beijos merecidos da Verdade. “
Fernando Pessoa, in Mensagem
O que vejo no horizonte? Nada, estou dentro de casa, é noite, está frio, e se olhar à janela os meus olhos pouco mais vêm que uma data de escuro… Mas, se os fechar, já consigo ver a silhueta dos camelos sobre as dunas do Sahara, as palmeiras que se sobrepôem aos cajueiros da Guiné, os Embondeiros do Senegal… e este calor? e estes aromas? estes sabores? Será que o meu espirito se antecipou e já partiu? Afinal, já faltam menos de 48 horas!!
Sábado, depois do jantar de Natal dos escuteiros (ou como a minha irmã lhe chamou, o meu jantar de despedida), partimos! Somos 3 (malucos, segundo a minha mãe)
No Domingo de manhã estaremos em Tarifa, ou Algeciras (ainda não está bem definido), para apanhar o ferry e atravessar os “Pilares de Hércules” (estreito de Gibraltar), com destino a Tanger ou Ceuta.
Marrocos. A “africanidade diluida” segundo
Jorge Neto. Seguimos para Sul (óbvio!), Casablanca, depois, Marraquexe. Umas compras, bem regateadas, como mandam as regras. Depois, a passagem do Atlas, e a chegada ás portas do deserto. Conforme o tempo que demorarmos em Marraquexe, iremos passar a noite em Agadir, ou Tiznit, ou Goulimie, ou…
Depois, quase tudo é vago, apenas uma é certa, vamos continuar. Para Sul! TanTan, Tarfaya.
Mais um país, este sem fronteira, o Sahara Ocidental. Aqui, já em pleno deserto, o Bujador (Quem quer passar o Bujador tem de passar além da dor), Ad Dakla, e um pouco mais á frente a fronteira da Mauritânia.
À entrada da Mauritânea, um trilho “épico”. O campo minado! Se não rebentarmos, e o timing for favorável, vamos a Nouadhibou, no Cabo Branco, a 2 cidade da Mauritânea e de onde parte o maior comboio do mundo (cerca de 2km de vagões carregados de minério de ferro); se não, novamente para Sul. Nouackchott, a capital da Mauritânea. Á saída do deserto, a fronteira do Senegal; o nosso maior medo.
Entraremos no Senegal pela fronteira de Diama, onde existe uma barragem que nos permite atravessar o rio Senegal e entrar na África Negra e ir até St Luis, antiga capital do império francês em África, Louga, Touba, Kaffrine, Tambacounda, Kolda, Tanaff.
E estamos na Guiné. Finalmente! Farim, Bissau, Quinhamel.
Ficaremos na Guiné até dia 30 e depois vamos para Dackar. A caminho passaremos pela Gambia
No dia 1, à noite, regressamos, de avião, a partir de Dakar, com escala em Madrid e chegada a Lisboa prevista para as 8:00 da manhã, ou por lá perto, onde estará uma enorme comitiva á nossa espera (ou pelo menos um taxista para nos levar á gare dos expressos).
E pronto, depois será o tédio. Os exames, o frio, a crise de Portugal ou as eternas lamurias dos portugueses, o trabalho, … o sonho de uma próxima viagem!