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Visitar Lafões: um concelho que (já) não existe

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Visitar Lafões: um concelho que (já) não existe

Foi em 1336 que Dom Dinis concedeu o foral ao concelho de Lafões. Quinhentos anos depois, o seu desmembramento viria a dar lugar aos concelhos de São Pedro do Sul, Vouzela e Oliveira de Frades. Os cinco séculos de união criaram laços que ainda hoje perduram e a memória do antigo concelho continua viva nos seus descendentes.

A oeste de Viseu, o território de Lafões estende-se ao longo do rio Vouga, entalado entre a serra do Caramulo e o Maciço da Gralheira.

Nestes dias que andei por aqui visitei as incontornáveis termas de São Pedro do Sul, a vila de Vouzela e alguns locais nas encostas da serra do Caramulo, seguindo depois para Viseu e Penalva do Castelo (sobre os quais escreverei em breve).

Paisagem de Lafões e Vouzela vista de Vilharigues
Vila de Vouzela vista da torre medieval de Vilarigues

Neste artigo vai poder encontrar:

– Locais a visitar nas Termas de São Pedro do Sul:
Nascentes termais
Balneário Romano
Balneários Rainha D. Amélia e D. Afonso Henriques
Rio Vouga

– Locais a visitar em Vouzela:
O comboio e a linha do Vouga
Igreja Matriz
Rio Zela e a Ponte Romana
Casas brasonadas
Capela de São Frei Gil
Museu Municipal de Vouzela
Biblioteca Municipal (antigos Paços do Concelho)
Pelourinho e Igreja da Misericórdia
Pastéis de Vouzela e o seu museu

– Locais a visitar próximo de Vouzela:
Torre de Vilharigues
Barragem e Lapa de Meruje

Termas de São Pedro do Sul

As termas de São Pedro do Sul são das mais populares de Portugal. As suas propriedades terapêuticas indicam-nas para o tratamento de doenças respiratórias, reumáticas e músculo-esqueléticas.

O aproveitamento das águas termais, que aqui brotam das profundezas da terra a quase 70º, remonta à época romana. Ao longo dos séculos a sua fama trouxe até aqui desde os reis e rainhas ao povo.

Nascentes termais

Um pouco acima do balneário Rainha D. Amélia ficam as nascentes onde é captada a água e, onde também a podemos beber.

Se não tiver oportunidade de visitar o interior do balneário Rainha D. Amélia (tem estado fechado por causa da pandemia), espreite aqui pelas janelas para as antigas salas de tratamento, onde se guardam belas peças de pedra e latão. Uma das razões que me faz querer voltar a São Pedro do Sul é precisamente o desejo de entrar na sala que se vê destas janelas.

Rocha em nascente termal com vapor
Nascentes termais de São Pedro do Sul

Balneário Romano

Mesmo junto ao rio Vouga e recentemente restaurado fica o balneário Romano. Utilizado até ao século XIX teve como visitante mais famoso o próprio Dom Afonso Henriques. Este terá por aqui passado em 1169 para curar as dores de uma perna (os heróis do século XII também tinham dores). Este balneário é por isso também conhecido por Piscina Dom Afonso Henriques.

O edifício apresenta visitigios dos quase 2000 anos de utilização, que vão dos mosaicos romanos, às piscinas de banhos e à igreja, esta talvez mais orientada para os problemas da alma.

Balneário romano das termas de São Pedro do Sul
Piscina do Balneário Romano de São Pedro do Sul

Balneários Rainha D. Amélia e D. Afonso Henriques

Foi em 1894 que a rainha D. Amélia se deslocou até aqui, tendo o novo edifício sido nomeado em sua homenagem. Hoje este balneário está afecto aos serviços de bem-estar termal.

A crescente procura por estas águas levou à construção de um terceiro balneário, o balneário D. Afonso Henriques. É neste moderno balneário que hoje são administrados os tratamentos termais (termalismo terapêutico e fisioterapia).

balneários da termas de São Pedro do Sul
Balneários Rainha D. Amélia (frente) e D. Afonso Henriques (atrás)

Rio Vouga

O rio Vouga atravessa toda a localidade das termas marcando definitivamente a paisagem. As suas margens são ladeadas por restaurantes e hotéis emblemáticos como o belíssimo hotel do Inatel ou o Grande Hotel Thermas, datado de 1920, onde tive o gosto de pernoitar.

Num açude no meio do rio encontra-se a emblemática torneira vermelha que ilusoriamente brota água do nada. Um pouco antes da ponte, um repuxo no meio do rio ajuda a compor o cenário.

Torneira suspensa no rio Vouga
A torneira mágica do rio Vouga

Todos estes artefactos são belos mas nada que se compare à natureza que encontramos a jusante da ponte. A partir daqui o rio retoma o seu ritmo natural. Ao início encontro alguns pescadores que tentam a sua sorte. Depois são os tons de verde que dominam ao longo das margens.

Rio Vouga em natureza verde
O Vouga selvagem

Vouzela, o que visitar

Das termas de São Pedro do Sul a Vouzela são uns escassos quatro quilómetros. Se à primeira vista Vouzela nem parece ter muito para oferecer, a verdade é que acaba por surpreender quem lá chega pela primeira vez e até pela segunda, como foi o meu caso.

O comboio e a linha do Vouga

Assim que chegamos a Vouzela destaca-se desde logo a monumental ponte ferroviária sobre o rio Zela. Uma velha locomotiva a vapor recorda os tempos em que os comboios por aqui passaram. A linha do Vouga funcionou entre 1914 e 1990, ano em que foi desactivada, tendo durante estes anos servido de motor económico para a região. Os arcos de pedra da ponte são agora percorridos a pé ou de bicicleta. Os mais atentos podem ainda identificar a antiga estação de caminho de ferro no agora terminal rodoviário da vila.

Locomotiva a vapor linha do Vouga
A velha locomotiva recorda os tempos de glória da linha do Vouga
Ponte ferroviária linha do Vouga
A ponte ferroviária de Vouzela

Igreja Matriz

O edifício original datará do séc. XII, mas o seu interior e exterior estão marcados por sucessivas alterações que conduziram ao que é hoje a igreja Matriz de Vouzela. Pelo exterior destaca-se desde logo a torre sineira, separada do restante edifício. Terá sido construída aqui no séc. XVII com o objectivo de proteger a entrada principal das chuvas e ventos dominantes.

Junto ao telhado, no beirado norte, pode observar-se uma cachorrada com várias figuras em pedra onde se incluem os quatro Evangelistas: Lucas, Marcos, Mateus e João. No seu interior é a exuberância do barroco joanino dos altares que se destaca na pedra fria das paredes. A igreja é dedicada a Nossa Senhora da Assunção.

Torre de igreja com sinos e rosas
A torre sineira da igreja matriz de Vouzela

Pelo rio Zela até à Ponte Romana

Em frente da Igreja Matriz estende-se um parque sob a ponte ferroviária que desce até ao rio Zela. Este é um local muito aprazível para visitar com crianças em Vouzela. Nas margens do rio encontram-se velhos moinhos e também a Fonte da Nogueira, mandada construir pelo Príncipe D. Luís, filho de Dom Manuel I.

ponte romana de Vouzela
Ponte romana sobre o rio Zela

Daqui, um monumental chorão no meio do leito do rio esconde a Ponte Romana que fica poucos metros abaixo. De romana terá já pouco mais que o nome e as memórias do tempo em que fazia parte da estrada romana que ligava Viseu ao Porto. Daqui subimos em direcção ao centro histórico da vila de Vouzela.

Casas brasonadas

No centro histórico são várias as casas que ostentam os brasões das suas famílias na fachada. Os mais atentos poderão reparar numa fachada de granito que o brasão desta casa se encontra “em branco”. Não se trata de um erro ou de uma obra inacabada. Trata-se de uma casa outrora pertença da infame família dos Távoras, que viu o seu nome varrido da memória, justiça real a que nem os brasões escaparam.

casa de granito com brasão dos Távoras
Um brasão em branco

Capela de São Frei Gil

É bem no centro da vila que encontramos a capela de São Frei Gil, padroeiro de Vouzela. A capela data do séc. XVIII e possui no seu interior belos altares com talha dourada. Consta que Frei Gil, natural de Vouzela, era também amante do néctar dos Deuses. Tanto é que na sua representação sobre a porta principal, aparece acompanhado duma pipa de vinho.

Rua de Vouzela com igreja e carro classico
Capela de São Frei Gil

Museu Municipal de Vouzela

Mesmo em frente à capela de S. Frei Gil fica o Museu Municipal de Vouzela. Este ocupa um edifício barroco do séc. XVIII que ostenta o brasão mais antigo do concelho. Infelizmente encontrava-se fechado no dia em que visitei Vouzela.

Na praça em frente encontra-se a estátua do concelheiro Moraes de Carvalho, notável figura do concelho.

Fachada do Museu Municipal de Vouzela
Museu Municipal de Vouzela

Biblioteca Municipal (antigos Paços do Concelho)

É na antiga Rua Direita, principal artéria de Vouzela, que encontramos o edifício agora ocupado pela Biblioteca Municipal. Datado do séc. XVII foi depois Paços do Concelho antes de ser convertido em biblioteca na década de 1990. O arco a meio do edifício, dá hoje acesso ao largo onde se encontra a antiga escola e junta de freguesia.

biblioteca de Vouzela
Biblioteca de Vouzela

Pelourinho e Igreja da Misericórdia

A igreja da Misericórdia é mais um exemplo do barroco em Vouzela com a sua fachada revestida a azulejos azuis e brancos. No frontão podemos observar as armas de D. João V. No largo em frente desta encontra-se o antigo pelourinho.

Pelourinho e igreja com azulejos azuis
O Pelourinho e a Igreja da Misericórdia em Vouzela

Pastéis de Vouzela e o seu museu

De origem conventual, os pastéis de Vouzela são o ex-libris da doçaria de Lafões. Um invólucro de folhas de massa de espessura nanométrica esconde no seu interior um recheio amarelo onde a gema de ovo é rainha (como se quer num doce conventual).

A receita é secreta e só é transmitida por herança ou por pagamento de favores. Teve a sua origem no Mosteiro de Santa Clara no Porto, tendo sido descoberto em Vouzela por Dona Maria da Conceição Figueiredo, no início do século XX. Esta terá feito um furo no soalho do piso superior da casa onde algumas das freiras deste convento ficavam quando se deslocavam a Vouzela. Foi por esse furo que conseguiu espiá-las, tornando-se a primeira divulgadora do segredo.

Hoje podemos encontrar pastéis de Vouzela em várias casas especializadas da vila. Para quem quiser saber mais sobre a sua história, pode visitar o novo museu do pastel de Vouzela na Casa das Ameias, onde funciona também uma unidade de Alojamento Local.

Doçaria conventual pasteis de Vouzela
Os apetitosos Pastéis de Vouzela

Torre de Vilharigues

Controversa. É o mínimo que se pode dizer da obra de restauro da torre medieval de Vilharigues. Esta é uma das três torres medievais que se podem encontrar no concelho de Vouzela e, aquele que até à pouco tempo estava em pior estado. O restauro preencheu o seu interior com vidro e aço.

Se por um lado foi desvirtuada a sua imagem medieval, por outro foi feita uma obra que não mente: não resta qualquer dúvida do que foi intervencionado. Cada um fará o seu juízo. De qualquer forma vale uma visita, tanto pelas vistas para a vila de Vouzela, como para saber mais sobre a história da época em que foi construída, no pequeno mas esclarecedor documentário que podemos ver no seu interior.

Torre medieval com reconstrução em vidro

Barragem e Lapa de Meruje

Um dos locais que mais me despertou curiosidade num folheto turístico de Vouzela foi a lapa de Meruje. Decidi por isso antes de regressar a casa passar por lá. Como vinha de Viseu, o GPS mandou-me subir o Caramulo e seguir depois por caminhos de terra batida. Felizmente ia de 4×4, mas o ideal é subir por Cambra em direcção a Carvalhal de Vermilhas, aí por estrada asfaltada, acessível a qualquer viatura.

anta da lapa de Meruje

O desvio valeu bem a pena o atraso no regresso a casa. Ficou a vontade de regressar, de preferência num dia mais soalheiro. A anta da lapa de Meruje fica nas margens de uma pequena barragem nas encostas do Caramulo. O local é lindíssimo, com um pequeno parque de merendas que convida a uma tarde em família.

ponte de madeira em barragem em dia nublado

Esta viagem foi efectuada a convite do Turismo Centro de Portugal e organizada pela Comunidade Intermunicipal Viseu Dão-Lafões (CIMVDL)


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