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2010-05-28 Milão, Eslovénia

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2010-05-28 Milão, Eslovénia
Autocarro Eurolines de Milão para a Roménia

Começo a gostar desta vida de voos cancelados. Trocaram-me as voltas, mas dormi que nem um bebé, comi que nem um abade ao pequeno almoço junto com alguns pilotos e hospedeiras. E melhor que tudo, quando faço o check out não pago nada e tenho logo ali à porta a carrinha do hotel que me vai deixar de novo ao aeroporto onde apanho o autocarro para a cidade de Milão, a uns 50km dali. Itália está a acordar; são 8 da manhã quando chego à estação central de Milão, onde para além de comboios também param os autocarros que fazem o transfer de Malpensa para a cidade.

Como sempre quando chego a uma estação de comboio numa grande cidade europeia sou atacado pelo arrependimento. Arrependimento de não ter feito um interrail pela Europa enquanto era legalmente jovem, porque ao contrário de muitos, penso que as “low cost” não mataram o interrail.

A imponente catedral de Milão

Ainda assim, nas grandes cidades de Itália posso sempre experimentar um bocadinho desse espírito: compro um bilhete de metro válido por 24 horas por 3€ posso saltar de estação em estação sem ter de me preocupar. Primeira paragem: o Duomo, a enorme catedral gótica de mármore e exlibris da cidade. Já não chove como ontem, mas o céu está enevoado e há pouca gente nas ruas. É muito bonito, mas na verdade, hoje queria mesmo era ver as cúpulas douradas da catedral de Catedral de Alexander Nevsky em Sófia, 1500 quilómetros daqui. Sou revistado à entrada por militares. Lá dentro a escuridão é iluminada por grandes telas dos artistas do renascimento.

Cá fora, numa luxuosa cave a poucos metros está o posto de turismo. Apesar de ter visto na net que há autocarro, tenho de saber de onde ele sai, como lá chegar e, mais importante, comprar bilhete. O atendimento é do melhor que já tive. A senhora, de origens latino-americanas informa-me de tudo, dá-me um mapa, e diz-me que posso comprar o bilhete ali mesmo. Enquanto isto vão passando alguns turistas com a pergunta que se impõe: “Como fazemos para ver a “Ultima Ceia” de Da Vinci?”. A resposta é simples: se não reservaram a visita com 2 ou 3 meses de antecedência, podem entrar num tour pela cidade por 55€ que inclui visita ao mosteiro de Santa Maria delle Grazie, onde nas suas paredes está pintada essa obra prima do artista toscano.

Em poucos minutos, por 76,5€ (com desconto de estudante) tenho o meu bilhete Milão – Bucareste. Precisava agora de encontrar um supermercado e comprar alguma comida para a viagem, mas depois de andar mais de uma hora à procura, não encontrei nada. É impressionante como as grandes superfícies acabaram com o pequeno comércio. Aproveitando o meu bilhete de metro, vou até Lampugnano, de onde partem os autocarros, para verificar se está tudo bem com o meu bilhete. Depois ainda volto junto ao Duomo, mas o céu cinzento mantém-se. Caminho até ao Castelo Sfrozesco, onde tal como junto ao Duomo há dezenas de jovens emigrantes africanos a tentarem ver pulseiras. Depois de me escapar a uns quantos, lá há um que não consigo evitar. Mete conversa comigo. É senegalês e fica todo contente quando lhe digo que já estive no Senegal. Por fim, acaba por me conseguir atar a pulseira ao braço. Diz que para dar boa sorte. Eu, depois do dia de ontem acho que devo adoptar um amuleto para esta viagem e agradeço-lhe.

Autocarro Eurolines de Milão para a Roménia

Digo agora adeus a Milão e vou definitivamente até Lampugnano. Como umas sandes num bar da garagem e espero pelo autocarro. Estão mais dois jovem com aparência de romenos na linha de partida, com horário previsto para as 13:30. Mas, ás 14 horas ainda não chegou o autocarro. Tiro uma foto a um mapa das estradas da Europa que está afixado na parede da garagem para poder seguir o percurso. Estou ansioso. Vão ser mais de 24 horas num autocarro.  Só ás 15:20 chega o autocarro. Vem de Marselha quase cheio de passageiros, romenos, quase só homens. Há duas ou três mulheres. Certamente todos eles emigrantes em França. Os primeiros quilómetros à saída de Milão fazem-se num infernal transito em autoestradas de 4, 5 ou  faixas, mas onde não se flui a mais de 60km/h.

Na autoestrada a caminho de Veneza

Às 18h passamos em Verona, e depois, pelo meio de campos verdes onde as torres das igrejas rasgam o horizonte onde ao fundo se vêm os Alpes, chegamos cinquenta minutos depois a Pádova onde entram alguns turistas italianos com estilo de caminheiros. Ficam na parte de trás do autocarro. A mim foi-me destinado o segundo banco da frente, partilhado com o rapaz que entrou comigo em Milão.

Passamos junto a Veneza, seguimos para oriente e cruzamos a fronteira da Eslovénia ao inicio da noite. A partir daqui as paragens são feitas em áreas de serviço para descanso e mudança de condutores.

Paragem em estação de serviço na Eslovénia

Depois de Ljubljana seguimos para norte. Ao analisar o mapa pensava que a nossa rota seria por Zagreb e depois Belgrado, mas não, vamos pela Hungria: Budapeste. A noite passa-se mais confortavelmente do que temi ao inicio. Os bancos reclinam-se quase até à horizontalidade e na tv vemos o caminho todo filmes dos DVD’s piratas que a tripulação transporta, com legendas em Romeno, já que o autocarro é romeno, assim como os 3 ou quatro condutores e a  maioria dos passageiros.

Às 2:30, já na Hungria fazemos mais uma paragem. Numa estação de serviço na Itália tinha visto um placard que alertava para a proibição do jogo das “3 cartas” ou dos “3 sinos” sob pena de multa e confiscação dos materiais e dinheiro envolvido. Fiquei sem perceber o porque de tal aviso até esta paragem na Hungria.

Quando regressei junto do autocarro depois de comprar alguma comida vi que estava uma estranha movimentação junto deste. Alguns dos passageiros estavam em roda e lá no meio, jogava-se o jogo proibido. Não me pareceu nada de mal até ver que nas mãos dos participantes circulavam notas de 500€ e a dada altura os ânimos se exaltaram. Depois percebi que era alguém de fora do autocarro que o organizava. Tentaram ainda envolver-me passando-me algum dinheiro para as mãos, mas eu larguei-o logo no chão e lá alguém lhes disse que eu era estrangeiro… como se não se visse logo.

Depois deste episódio, seguimos viagem. Passamos ao largo de Budapeste pela madrugada e rumamos a Sul. Eu, reclinei o meu banco ao máximo e dormi um pouco.

Clique para ler os outros dias desta viagem à Roménia, Bulgária, Turquia, Síria, Libano e Chipre

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Olá! Eu sou o Samuel, autor do artigo que acabou de ler. Como você, também gosto de viajar e descobrir povos e lugares. Partilho neste blog as experiências vividas nos vários países por onde já andei. Pode saber mais sobre mim na página <a href="https://dobrarfronteiras.com/sobre-autor-david-samuel-santos/">Sobre o autor</a>. Espero que tenha gostado e, se tiver alguma coisa a acrescentar, deixe um comentário abaixo.

1 COMENTÁRIO

  1. eheh, nunca é tarde para um interrail.. Se bem que os preços praticados para os maiores, sejam um bocado abusivos.. Mas nunca perdi a esperança..
    Conseguiste ver alguns dos ex libiris de Milano. Também não consegui ver a última ceia, mas é sempre uma oportunidade e desculpa para voltar…eheh…
    Gostei do relato da viagem de autocarro até Bucareste, e achei hilariante o episódio dos três sinos e da nota de 500euros..

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