De autocaravana por Marrocos: roteiro de viagem no Verão
São poucos os que recomendam viajar para Marrocos no Verão. A verdade é que se quiser explorar o interior do país o melhor será fazer a viagem na Primavera ou no Outono. No Verão, cidades como Marraquexe, Ouarzazate ou Fez, facilmente ultrapassam os 40ºC durante o dia, com as temperaturas a não baixarem dos 30ºC à noite. Os colegas autocaravanistas bem sabem como é difícil dormir com estas temperaturas.
No entanto, quem quiser explorar as cidades da costa atlântica, pode esperar temperaturas semelhantes às do Verão português: máximas a rondarem os 35ºC e noites de 20 a 25ºC. Foi isso que decidi fazer este ano.
Se tem dúvidas sobre como é ir até Marrocos de autocaravana, leia aqui Dicas para preparar uma viagem de autocaravana a Marrocos.
Escolher o melhor percurso
A não ser que tenha ar condicionado de parque e goste de calor extremo, é preferível cingir-se às cidades costeiras se viajar no Verão para Marrocos. Nesta viagem fomos duas autocaravanas: a minha, com a minha família, incluindo uma criança de 5 anos e um bebé de 18 meses e outra com 3 familiares nossos. O facto de irmos com crianças pesou principalmente na escolha de parques de campismo com piscina e de um roteiro pelas zonas mais frescas.
Embora fosse a minha quarta visita a Marrocos, nunca tinha visitado as cidades costeiras e por isso tinha grande interesse em incluí-las no roteiro. Como para quase todos os outros era a primeira vez, achei por bem fazermos também uma passagem por Marraquexe. Embora sabendo que íamos encontrar aí temperaturas mais elevadas, nenhuma visita a Marrocos fica completa sem uma noite na praça Djema El Fnaa.
Assim, demos prioridade aos locais património da Humanidade e com vestígios da presença portuguesa ao longo da costa atlântica, com uma passagem de dois dias por Marraquexe, ajustando o nosso itinerário aos parques de campismo existentes.
Este é o mapa da nossa viagem. Pode fazer download do mesmo em *.kmz aqui: Mapa de viagem a Marrocos de autocaravana no Verão de 2022
Roteiro de 2 semanas de autocaravana em Marrocos
Começo este roteiro em Algeciras, um dos portos de onde partem os ferrys para Marrocos. A estrada para aqui chegar depende obviamente de que zona de Portugal parte. Nós, de Leiria, seguimos por Abrantes, Portalegre, Campo Maior, Badajoz, Sevilha.
Por condicionante de horário de saída e pelas paragens a que viajar com crianças pequenas obriga, pernoitamos na área de serviço de Leo, pouco antes de Sevilha, chegando a Algeciras no dia seguinte ao início da tarde.
Dia 1: de Algeciras a Alcácer Ceguer
Uma vez em Algeciras tratamos de comprar o bilhete para o ferry e decidimos cruzar o estreito nesse mesmo dia. O Ferry atrasa-se e a partida acaba por ser pelas 20h00. Aportamos já de noite em Tanger Med e decidimos pernoitar ali perto, em Alcácer Ceguer.
Escolhemos um parque junto à praia (35°50’44.3″N 5°33’39.7″W), com boas referências no Park4night. Nesta zona não havia nenhuma movimentação. Próximo fica o porto de pesca, e ao que parece da polícia. Ninguém nos incomodou. Montámos a mesa na rua e jantámos. A noite foi absolutamente tranquila.
Dia 2: Alcácer Ceguer a Arzila
Alcácer Ceguer possui as ruínas do castelo português, destacando-se a couraça que se prolonga até ao areal. Com o avançar do dia a praia foi-se enchendo de gente. Acabámos por passar a manhã na praia com as crianças e por isso não visitámos este monumento, onde eu já tinha estado em 2010 numa outra viagem em que passei por aqui. O local onde estacionámos é um parque de estacionamento (pago, como a generalidade em Marrocos). À saída pagámos 5 Dirhams. De tarde seguimos viagem em direcção a Asilah, conhecida pelos portugueses com Arzila.
Fizemos o percurso por autoestrada até junto de Tanger e depois pela N1 sempre junto à costa até ao Camping Echrigui 35°28’20.2″N 6°01’40.6″W. Este é um dos dois parques de campismo que há à entrada da cidade de Arzila, mesmo junto à praia. O outro, o camping Assada também não nos pareceu mau. Embora com menos sombras aparentava ser mais limpo e organizado.
O parque tem zona para fazer os despejos e encher águas da autocaravanas. A limpeza dos balneários é fraca e apenas no das mulheres havia água quente. À entrada do parque há um pequeno minimercado.
Dia 3: Arzila
Arzila é uma belíssima cidade costeira com um rico centro histórico. O parque de campismo dista cerca de um quilómetro das muralhas, uma agradável caminhada à beira-mar.
No interior da cidade muralhada não circulam carros, o que torna a visita muito aprazível e diferente da confusão habitual nas cidades marroquinas. Do património destaca-se a imponente torre de menagem, da autoria do arquitecto Diogo Boitaca, que trabalhou também em obras famosas em Portugal como a Torre de Belém, os mosteiros do Jerónimos e da Batalha.
Na Porta da Vila (Bab al-Homer) é ainda possível ver o brasão de Portugal talhado na pedra. A zona mais bonita é, sem dúvida, a muralha que confina com o mar. A melhor altura para visitar este local é ao pôr do Sol quando este pinta de dourado as fachadas brancas voltadas para o oceano.
O regresso ao parque foi feito de charrete e a tarde foi passada na praia. O areal é algo sujo e é preciso muito cuidado com os vidros. Aproveitámos ainda para um passeio de camelo pela beira mar. O preço é de 50 Dirhams (5€) por pessoa.
À noite não deixe de passear pela marginal onde se multiplicam as bancas de comida e há até uma pequena feira de diversões que as crianças vão adorar.
Dia 4: de Arzila a Mehdia com passagem por Alcácer Quibir
De Arzila seguimos para sul, com um pequeno desvio pelo interior: Souaken, local da famosa batalha de Alcácer Quibir. A meros 20 quilómetros da costa, a diferença de temperatura era notória, ultrapassando os 40ºC. Pelo caminho aproveitámos para comprar melancias a um dos muitos vendedores que encontramos pela borda da estrada. Isto é uma constante por todo o país: há sempre pessoas a vender frutas e legumes que produzem nos seus terrenos.
Na pequena aldeia há um monumento a assinalar a batalha, conhecida aqui como a batalha dos 3 reis uma vez que nela, para além de D. Sebastião, morreram ainda os outros dois sultões rivais. Há uma ruína de um suposto monumento que marca a posição do nosso rei, mas tudo muito abandonado. Na memória fica a recepção que tivemos pela população, que ao ver que queríamos comprar pão, nos ofereceram dois pães, recusando qualquer pagamento.
A viagem continuou com uma paragem para almoço num restaurante próximo da cidade de Alcácer Quibir, outra para apreciar umas salinas interiores e outra para comprar uma tajine nas bancas de olaria à beira da estrada. A paisagem por aqui é de grandes planícies onde se pratica a agricultura.
Chegamos por fim a Kenitra, uma grande cidade a um par de quilómetros da costa onde aproveitamos para fazer compras no hipermercado Marjane. Ao final do dia chegamos ao parque de campismo de Mehdia: Camping Mehdia 34°15’30.7″N 6°40’26.1″W
Por 160 Dirhams (16€) por noite, autocaravana com duas pessoas, temos direito a eletricidade, balneários com água quente e, uma excelente piscina.
Dia 5: Medhia
Com a praia a 500m do parque e uma boa piscina para usufruir, decidimos ficar duas noites em Medhia para descansar um pouco antes de seguir viagem para sul. A praia não é nada de especial: areia escura e compacta, algum lixo (mas bem menos que nas anteriores), não convidam a vir fazer turismo de praia para esta zona de Marrocos (para sul encontraríamos praias melhores).
Dia 6: Medhia a El Jadida (Mazagão) com passagem por Rabat
No mapa de Marrocos seguem-se as grandes cidades costeiras: Mohamedia, Rabat (a capital) e Casablanca com mais de 3 milhões de habitantes. Decidimos fazer uma pequena paragem em Rabat antes de almoço, para visitar as ruínas da mesquita inacabada e a torre de Hassan.
Estas ficam logo à entrada da cidade e conseguimos estacionamento fácil numa zona calma mesmo ao lado. Sentimos que estamos num Marrocos diferente: mais limpo, verde, organizado, evoluído. Ao longe avistamos a torre Mohamed VI que em breve, quando concluída, será a mais alta de Marrocos e a terceira mais alta de África, com 250m.
Parto com o sentimento de que devia ter reservado mais tempo para Rabat: as suas muralhas que se estendem até ao mar, e que são património da Humanidade, impressionam-me. Para alegria das crianças, almoçamos no McDonalds antes de seguir viagem para El Jadida, onde chegamos ao final da tarde.
Existia um parque de campismo em El Jadida, que não vem referenciado no Park4night, mas que aparece no Google Maps com a indicação de fechado. Não vendo outra alternativa conveniente, decidimos na mesma ir até lá. Encontramo-lo efetivamente fechado.
Mas nem tudo corre mal e, quando se fecha uma porta, abre-se uma janela. Enquanto decidíamos o que fazer aproxima-se de nós um marroquino, ali vizinho, que nos convida a estacionar num terreno ao lado de sua casa e aí pernoitar. À noite ainda nos trazem um tabuleiro com chá, bolos e frutas.
A hospitalidade marroquina vai-se revelando assim, de extremos: há-os que só vêm em nós uma fonte de rendimento e depois há-os que nos recebem de braços abertos.
Dia 7: El Jadida (Mazagão) a Oualidia
Classificada como Património da Humanidade, a antiga praça forte de Mazagão era um dos locais que eu mais tinha interesse em visitar em Marrocos. Talvez por vir com espectativas demasiado altas depois de Arzila, fiquei um pouco desiludido.
Para começar encontrei a Cisterna Portuguesa, o ex-libris da cidade, fechada. Não voltou a abrir depois da pandemia. Depois, ao contrário de Arzila, não encontrei ruas limpas e paredes caiadas, mas sim ruas empoeiradas e fachadas decadentes. No entanto, valem só por si as muralhas que ladeiam a cidadela. A suas portas, torres e baluartes onde ainda podemos encontrar canhões portugueses, relembram-nos a nossa presença por estas terras.
Uma manhã é o suficiente para a visita. Almoçamos peixe num dos muitos restaurantes que o servem fora das muralhas, apanhamos novamente um táxi para regressar às autocaravanas e continuamos a viagem.
O destino é o Laguna Park (32°43’31.3″N 9°02’34.7″W) em Oualidia. Esta é uma vila costeira e ao que parece um popular destino de veraneio. Embora o Park4night indique que há um estacionamento perto da praia onde se pode pernoitar, optamos por ir para o parque de campismo já que necessitamos de fazer a manutenção às autocaravanas. Conseguimos ainda disfrutar um pouco das duas piscinas, óptimas para crianças, que o parque oferece.
Dia 8: Oualidia a Ounagha com passagem em Safim
Poucos quilómetros a sul de Oualidia fica a cidade de Safim, conhecida em Marrocos pela cerâmica aí produzida. No entanto, o que me motiva a paragem são novamente os vestígios da presença portuguesa. Estacionamentos na marginal, em obras, como toda a baixa da cidade. Nas torres do castelo, fechado por ser Domingo, é evidente a arquitetura manuelina das suas janelas.
Somos abordados, como nunca até este momento nesta viagem, por jovens que nos querem oferecer os seus serviços de guia. Recusando delicadamente, um deles acaba por se despedir, sugerindo que também vende drogas se assim estivermos interessados.
Outro dos locais imprescindíveis em Safi é a antiga catedral Portuguesa, a única catedral gótica em África. Nova desilusão, pois também está fechada ao Domingo. Sendo uma terra de pescadores, acabamos a seguir um jovem da terra que insiste em levar-nos até um restaurante que serve o melhor peixe. Embora bem servidos, a higiene do espaço é pouca e, o preço que nos é cobrado bem acima do valor que um marroquino pagaria. Despedimo-nos de Safi com má impressão da cidade.
Paramos menos de uma hora depois em Souira Kedima para apreciar o castelo de Aguz. Reza a lenda que este foi construído numa noite pelos portugueses, com a ajuda de anjos e, com pedra trazida de Portugal. Sendo ainda hora de almoço, o ar é perfumado pelo cheiro da sardinha assada que emana dos restaurantes em redor.
Daqui para baixo já não seguimos pela beira mar. Viramos para o interior para apanhar a N1, a estrada que liga o país de norte a sul. A temperatura começa a subir. Apanhamos alguns troços de montanha após os quais se seguem as rectas por um vale que nos conduz até Ounagha e ao Camping Des Oliviers 31°31’57.7″N 9°32’49.1″W, o nosso destino deste dia.
O parque é o melhor que iremos encontrar nesta viagem, com belos espaços ajardinados que nos fazem esquecer que ao final da tarde ainda estão quase 40º. O preço é de 100MAD por autocaravana e duas pessoas, com direito a utilização da piscina, parque infantil e balneários (limpos e funcionais). A utilização de eletricidade custa 25MAD por dia.
Dia 9: Essaouira
Ounagha é uma pequena aldeia numa das principais zonas de produção de óleo de argão. Li também que há aqui um produtor de vinhos, mas pouco mais. A decisão de parar aqui deve-se à qualidade do parque de campismo (que correspondeu às expectativas) e à proximidade com a cidade costeira de Essaouira, onde não há parques de campismo.
Este dia é assim dedicado a visitar essa cidade. Seguimos para lá todos numa autocaravana. Percorremos os 20 quilómetros com excesso de lotação, algo perfeitamente banal no trânsito marroquino. Pela primeira vez deparamo-nos com imensas placas de proibição de estacionar a autocaravanas. Estão por todo o lado. Imagino que a qualidade da praia (nada tem a ver com as que temos encontrado até aqui) atraia muitos autocaravanistas europeus e que tenham havido abusos no passado. Nas zonas de estacionamento gratuito quase sempre são proibidas a autocaravanas. Acabamos por parar num parque pago junto à porta de Marraquexe. Este tem indicação de que é permitida a pernoita.
O centro histórico é bem mais movimentado do que os da cidades que visitamos anteriormente. São imensos os turistas europeus e americanos pelas ruas que fervilham com o comércio. As fachadas são quase todas pintadas de branco e, há muitas obras a decorrer o que faz antever que a cidade vai ficar ainda mais agradável.
Junto à linha da costa a cidade tem algumas semelhanças com Arzila: também aqui as muralhas vão até ao mar. Muitas destas obras são património deixado pelos portugueses. É a antiga cidade de Mogador. Terminamos a nossa visita junto ao porto onde milhentas gaivotas aguardam o pescado trazido pelos pequenos barcos.
Voltamos a Ounagha ao fim do dia. Em meros 20 quilómetros a temperatura sobe mais de 10º. Se até aqui temos sempre tido dias e noite com temperaturas amenas, isso começa a mudar.
Dia 10: Ounagha a Marraquexe
Aproveitamos a manhã na piscina do camping. Partilhamo-la com alguns marroquinos que se encontram aqui alojados (também há bangalows) e um casal francês com as suas filhas que estão numa van. São poucos os europeus que vamos encontrando: duas ou três viaturas no máximo em cada parque. Mas a variedade é muita: autocaravanas, vans, 4×4 com tenda de tejadilho, camiões adaptados e, até um francês a viajar de moto e acampar com o filho que não teria mais de 12 anos. Importa é ir.
Depois de almoço fazemo-nos então à estrada com destino a Marraquexe. Tínhamos esperança de ver pelo caminho as famosas “cabras escaladores” que sobem às árvores do argão, mas com este calor nem elas se aventuram a sair. A paisagem semi-desértica acompanha-nos ao longo dos 160km que nos separam da cidade vermelha.
A última metade do percurso já não me é estranha de todo: percorri-a, em sentido inverso, em 2006 quando fui de carro até à Guiné-Bissau.
Sem arranha-céus a marcar o horizonte (o edifício mais alto é o minarete da Koutoubia), Marraquexe vai por fim surgindo aos poucos, assim como o seu transito. Para “provar” um pouco da cidade evito desviar-me do centro como o GPS me recomenda e sigo até à gare ferroviária.
Afastamo-nos depois para norte em direcção ao parque de campismo Le Relais De Marrakech 31°42’24.6″N 7°59’24.5″W. As últimas centenas de metros fazem-nos crer que o GPS se enganou, mas não: para aqui chegar, só mesmo por uma pista de rocha e terra batida.
Fazemos o check-in e é-nos dada total liberdade para escolher onde ficar. Há espaço para mais de duas centenas de autocaravanas, com pontos de água e electricidade em todo o lado. As sombras não são muitas, mas há-as e, autocaravanas mais baixas terão mais facilidade em estacionar debaixo de copas mais fechadas. Deveremos ser no máximo uns 10. Sendo já tarde para ir até à cidade, e com o calor que se faz sentir, vamos até à piscina.
Dias 11 e 12 Marraquexe
Estamos em Marraquexe, mas também estamos de férias, com crianças e com 40ºC. Por tudo isto decidimos ficar a manhã na piscina e pedir para o almoço umas típicas tajines de borrego. O parque tem restaurante e bar (que serve bebidas alcoólicas), sendo dada a opção de levarmos o pedido para junto da autocaravana e aí comermos mais à vontade.
Uma vez que o táxi para o centro da cidade nos custaria 100MAD para cada lado (x2 já que não caberíamos todos num) optámos por uma vez mais levar uma das autocaravanas. Marcamos no GPS o parque de estacionamento da Koutoubia, que a esta hora está quase vazio. Esta parque fica mesmo atrás da mais importante mesquita de Marraquexe a a 5 minutos a pé da praça Djema El Fna.
Parque de estacionamento da Koutoubia em Marraquexe
Por 110MAD é possível pernoitar aqui. Haveríamos de pagar 18MAD por umas 6 horas que lá ficou a autocaravana. Ao cair da noite o parque enche e os carros adensam-se em 2ª fila, tudo gerido por arrumadores que os vão chegando para a frente e para trás (estes carros ficam abertos). Convém por isso chegar cedo. Tudo parece seguro e organizado, mas quem optar por aqui dormir, vai ter movimento até altas horas da noite.
Sobre Marraquexe haveria muito a dizer. Sobre esta cidade pode ler o Guia de viagem Marraquexe que irei actualizar com informação mais actualizada. Esta foi a minha quarta visita à cidade vermelha e não foi concerteza a última.
A beleza dos seus monumentos, a azáfama mercantil dos souks, os sabores e os cheiros que pairam no ar ou a loucura da noite na praça Djema El Fna, são alguns dos motivos que me fazem sempre querer lá voltar. Inicialmente era para ficarmos só um dia, mas decidimos ficar dois. Regressámos no dia seguinte, trazendo novamente uma das autocaravanas.
Aproveitámos para visitar o Jardim Majorelle, visitar os curtumes e jantar num dos restaurantes panorâmicos sobre a praça Djema El Fna.
Trazer a autocaravana foi novamente uma mais valia pois podemos estacionar junto aos locais que queríamos visitar (o jardim e depois os curtumes). Os estacionamentos são sempre pagos a um cobrador devidamente identificado com um colete. Contornamos todo o perímetro das muralhas com a autocaravana. Os colegas autocaravanistas que o queriam fazer devem ter atenção que na zona perto do palácio real há uma sequência de pequenas portas na muralha mesmo à justa para passar a autocaravana. Por fim estacionámos novamente no parque da Koutoubia.
Dia 13: Marraquexe a Mohamedia
Partimos do Relais de Marraquexe a meio da manhã já com a sensação de regresso a casa. Rumo a norte fazemos os primeiros quilómetros pela nacional em direcção a Casablanca. O trânsito é mínimo, o asfalto bom, o traçado rectilínio, quase paralelo à autoestrada. Paramos uns 100 quilómetros à frente na vila de Skhour Rhamna à sombras de umas árvores para almoçar.
É sexta-feira e são muitos os que se dirigem à mesquita. Um rapaz mete conversa connosco antes de ir para a mesquita. No regresso, vai a casa a correr fazer uns crepes e vem-no-los oferecer. É mais um exemplo da hospitalidade marroquina, presente sobretudo fora dos meios mais turísticos.
Seguem-se mais umas horas de condução. Numa área de serviço aproveitamos para comprar alguma loiça típica de recordação. Só depois nos apercebemos de que estamos quase sem dirhams para pagar as portagens e não há multibanco nem casas de câmbio. Saímos por isso da autoestrada um pouco mais cedo.
Isto custa-nos algumas horas de trânsito compacto até chegarmos ao nosso destino: Mohamedia. Próximo desta cidade costeira há vários parques de campismo, todos com boas referências, coisa rara nesta zona das grandes cidades (estamos próximo de Casablanca). Depois de uma paragem para compras no Marjene, chegamos já de noite ao Camping Mimosa 33°43’37.4″N 7°20’05.8″W. O preço por noite por autocaravana (independentemente dos ocupantes) é de 160MAD com eletricidade incluída. As casas de banho estão limpas e com água quente. O único problema são as melgas e mosquitos.
Dia 14: Mohamedia a Tanger com passagem em Casablanca
Decidimos sair bem cedo do parque neste que será o último dia completo em Marrocos. A ideia é fazer 30 quilómetros para “trás” e ir até Casablanca visitar a mesquita, antes de continuar a viagem até Tanger. Não saímos sem entes encher os depósitos com água já que em Tanger não teremos essa possibilidade.
As crianças acordam ao chegar ao parque de estacionamento da mesquita. Mesmo em frente a esta custa 10DH é guardado e muito conveniente para uma visita. Casablanca é das poucas cidades em Marrocos onde é conhecida alguma insegurança.
Conseguimos fazer a visita (guiada em espanhol) no primeiro horário da manhã, às 9 horas. Para isso muito contribui o facto de ser sábado e não apanharmos praticamente nenhum trânsito em todo o trajecto. A colossal mesquita construída no final do século passado impressiona pela arte e pela tecnologia que possui.
Paramos para almoçar num parque de merendes a meio caminho e chegamos por fim a Tanger ao final da tarde. Estando o único parque de campismo da cidade fechado (segundo comentários no Park4night) optamos por ficar num parque de estacionamento mesmo junto à marginal e à cidade velha 35°47’05.6″N 5°48’30.5″W.
Embora seja uma boa localização, o local não inspira grande segurança tal é o número de pedintes que constantemente nos aborda. Decidimos ainda assim ficar, mas a noite é tudo menos tranquila. Não que alguém nos incomode mais assim que fechamos a portas: o problema é que há festa a noite toda e nós estamos mesmo no meio dela. A mim e às crianças, que temos sono pesado, não incomoda, mas a que tem sono leve a história é outra.
Dia 15: Tanger e regresso a Algeciras
A calma que paira na cidade ao acordar contrasta com a festa da noite. Aliás, isto foi algo que notámos em toda a viagem: manhãs calmas, quase ninguém nas ruas, lojas fechadas até ao meio dia. À noite, normalmente até cerca da 1h da manhã, tudo aberto e muita gentes nas ruas.
Temos pouco tempo para Tanger, mas ainda assim damos uma volta pelo centro histórico da cidade. O meu único objetivo é passar junto ao túmulo do grande viajante Ibn Batuta, que infelizmente se encontra fechado.
Paramos uma última vez num Marjane para comprar alguns produtos marroquinos para trazer para casa. Depois de almoço seguimos em direcção ao porto de Tanger Med, com uma paragem obrigatória para encher os depósitos de gasóleo (o preço em Marrocos estava nos 1,6€/l enquanto em Portugal chegava próximo dos 2€/l).
Com os atrasos sucessivos, incluindo uma fila de 20 ninutos na portagem, chegamos ao porto apenas 1h antes da partida do ferry que queríamos apanhar. Como temos liberdade no horário, o único problema que poderia daí advir era fazer a viagem de noite, o que queríamos evitar.
Primeira paragem é logo à entrada do porto onde temos de nos dirigir ao quiosque da companhia para levantar os bilhetes efectivos (o que nos é dado aquando da compra é apenas um voucher). Segue-se o controlo fronteiriço com o carimbo dos passaportes. A calma do funcionário contrasta com a nossa pressa em chegar ao ferry. Na verdade, em todas as fronteiras onde já passei estes funcionários têm uma calma incomparável.
Segue-se um primeiro controlo da aduana, com apresentação dos documentos das viaturas, onde o guarda pede para abrir as portas e entra na autocaravana. Depois disto, chegamos a uma interminável fila de espera para passar todos os veículos por um scanner. Já tinha visto isto em muitas fronteiras, mas só para os camiões, nunca para veículos ligeiros.
Todos temos de sair das viaturas enquanto passa o raio-x. Depois, mais uma abertura de todas as portas e uma inspeção com cães. Seguimos para a zona de embarque. O ferry ainda está no longo processo de descarga. A verdade é que tando na vinda como no regresso apanhámos a mudança de quinzena e talvez por isso o processo esteja mais demorado. Mais de uma hora depois embarcamos por fim. Não sem antes termos de mostrar novamente os documentos e abrir as portas para mais uma inspecção.
Em nenhum momento nos pediram nada sobre o Covid: nem na vinda, nem no regresso, nem certificados de vacinação, nem testes. Os funcionários do ferry ajudam-nos com a manobra para entrar sem roçar com a autocaravana e depois a estaciona-la devidamente lá dentro. Por fim, zarpamos com destino à Europa.
A chegada é bem mais tranquila que a partida: perguntam-nos se trazemos haxixe, se a autocaravana se portou bem. Portou sim!
Saímos do porto em direcção a La Linea de la Concepción onde iremos pernoitar na Area de Autocaravanas Alcaidesa Marina (36°09’23.4″N 5°21’23.1″W), com vista para o rochedo de Gibraltar.
Dia 16: Gibraltar
Acordamos com o céu bastante enublado: o rochedo mal se vê. Como também queremos seguir viagem rumo a casa a seguir ao almoço optamos por não subir ao rochedo, fazendo apenas uma rápida visita à cidade durante a manhã.
A caminhada desde o parque até à fonteiras é rápida. A passagem da fronteira também: basta mostrar o passaporte ou cartão de cidadão ao longe, que logo mandam avançar. Somos logo brindados com a descolagem de um avião na pista que quase demarca a fronteira. Uma das particularidades geográficas que marca este território ultramarino britânico.
Na rua principal domina o comércio, sobretudo o de bebidas alcoólicas. Todos os estabelecimentos parecem receber em Euros e Libras. Perto da hora de almoço apanhamos o autocarro urbano com destino à fonteira, cruzamos novamente a fronteira e caminhamos até às autocaravanas, já com o céu a começar a mostrar o seu azul.
Para quem vier até aqui o ideal será ficar pelo menos duas noites para aproveitar um dia inteiro em Gibraltar. Infelizmente, por motivos profissionais de alguns, tivemos de regressar nesse dia.
O roteiro desta viagem termina aqui. Os colegas autocaravanistas que a queiram replicar, faram o regresso a casa conforme mais lhes convier. Se o tempo o permitir, porque não aproveitar para uma volta pela Andaluzia ou pelo nosso Alentejo.
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