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Património português em Marrocos: um roteiro para o descobrir

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Património português em Marrocos: um roteiro para o descobrir

Ao longo de toda a costa africana são incontáveis os vestígios da presença portuguesa. Locais de batalhas, de comércio, de conquista, de apoio à navegação que durante séculos nos ligou a este continente. Marrocos não é exceção.

Em 2022 visitei os locais que apresento de seguida quando viajei de autocaravana pela costa de Marrocos. O roteiro pode igualmente se seguido noutro tipo de viatura particular. Com recurso a transportes públicos penso que haverá alguma dificuldade em chegar às localidades mais pequenas como Souaken (Alcácer-Quibir) ou Souira Kedima (Agouz).

O roteiro só não começa na famosa Ceuta porque, para além de ser território espanhol, não o visitei devidamente para poder escrever sobre ele.

Alcácer-Ceguer

A vila marroquina de Ksar es-Seghir fica à beira mar, a meio caminho entre Tangêr e Ceuta. Tomada em 1458 pelas tropas de D. Afonso V, seria ao longo dos anos seguintes palco de várias batalhas entre portugueses e mouros.

Na sua arquitectura destacasse a couraça (muralha que protegia o acesso ao mar), que terá sido projectada pelo arquitecto Diogo Boitaca. Por dar mais problemas do que proveito, acabaria por ser abandonada em 1549.

As muralhas foram recuperadas recentemente e estendem-se até uma bela baía muito procurada na época balnear.

Castelo de Alcácer-Ceguer na praia em Marrocos
A couraça de Alcácer-Ceguer estende-se até à praia

Arzila

As paredes caiadas de branco, com as ruas do seu centro histórico fechadas ao trânsito, fazem de Arzila uma das mais bonitas cidades marroquinas.

Do seu património destaca-se a torre de menagem, também da autoria de Diogo Boitaca. A cidade foi tomada aos mouros em 1471 e esteve sob domínio português até 1550. Viria a ser tomada novamente em 1577 nos preparativos para a batalha de Alcácer-Quibir.

Muralhas de Arzila junto ao mar ao Por do Sol
Arzila: inesquecível ao pôr do Sol

Alcácer-Quibir

Palco de um dos acontecimentos mais negros da história de Portugal, foi em terras marroquinas que a 4 de Agosto de 1578 se desenrolou a batalha onde morreria o rei Dom Sebastião. Ficou conhecida em Marrocos como a Batalha do Três Reis, já que nela, para além de Dom Sebastião, morreu também o seu aliado Mulei Maomé e o adversário Molei Moluco.

O local onde decorreu a batalha fica na aldeia de Souaken, uns 15 quilómetros a norte da cidade de Alcácer-Quibir. Aí existe um memorial da batalha.

Memorial batalha Alcácer-Quibir
O memorial à batalha dos 3 reis

Mazagão

Actualmente conhecida como El-Jadida, a cidade de Mazagão teve presença portuguesa a partir do início do século XV, tendo sido abandonada em 1769. Curiosamente, por decisão do Marquês de Pombal a população desta cidade foi transferida para o Brasil onde fundaria uma cidade com o nome de Nova Mazagão.

Dentro das imponentes muralhas podemos hoje encontrar bastantes marcas da presença portuguesa, no nome das ruas, nas igrejas, na arquitectura. Destes, o ex-libris é a antiga cisterna subterrânea. Infelizmente esta foi fechada em 2020 e à data que estive em Mazagão ainda não era possível a visita.

A Cidadela Portuguesa de Mazagão é considerada Património da Humanidade pela UNESCO.

Muralha junto ao mar em Marrocos
Pelas muralhas portuguesas de Mazagão

Safim

Safim é uma cidade marroquina muito conhecida pela cerâmica aqui produzida. É também aqui que podemos encontrar importantes vestígios da presença portuguesa nestas paragens.

Um deles é o “Castelo do Mar”. Mesmo sem entrar, já que o mesmo se encontra fechado, podemos apreciar de fora as janelas manuelinas que adorna as suas fachadas.

castelo português em Safim, Marrocos
O castelo do Mar e as suas janelas Manuelinas

Embrenhando-nos pelas ruelas da medina (das mais mágicas que encontrei em Marrocos), são várias as marcas portuguesas que os olhos mais atentos conseguem descobrir na arquitectura. Muitas são as placas que indicam também o caminho a seguir até ao mais emblemático património português de Safim: a Catedral Portuguesa.

Infelizmente, por ser Domingo, estava fechada. Adorava ter visitado, pois ao que parece terá sido a única catedral em estilo gótico construída em África. Hoje não resta muito: ao que parece foram mesmo os portugueses que destruíram o que conseguiram do património religioso, para que este não fosse depois convertido em mesquita. Resta a pouco mais que a capela-mor, hoje convertida em museu.

Porta manuelina em Marrocos
Bonitos pormenores que se encontram pelas ruelas de Safim

Agouz

Reza a lenda local que o castelo de Agouz foi construído numa noite com pedras trazidas de Portugal. Terá sido edificado por volta de 1508 junto à foz do rio Tensift. Fica hoje em plena praia a norte da localidade de Souira Kedima, rodedado de um bairro de pescadores onde se respira o cheiro a peixe grelhado. Merece uma visita, ainda que não seja possível entrar no seu interior.

castelo na praia
Um castelo com os pés no mar

Mogador

Foi curta a passagem dos portugueses por Mogador. Actualmente conhecida por Essaouira, teve presença portuguesa entre 1506 e 1510. Do castelo contruído nessa época nada resta. As suas pedras foram reaproveitadas para a construção da belíssima cidade que hoje podemos visitar.

Gaivotas sobre cidade costeira marroquina
Essaouira, a cidade que sucedeu a Mogador

Outros

Rabat, Tânger, Tetuão, Xexuão, são apenas mais algumas cidades marroquinas ligadas à história de Portugal. Tânger por exemplo esteve em mãos portuguesas entre 1471 e 1661, ano em que foi doada, juntamente com Bombaim na Índia, à Grã-Bertanha, como dote do casamento da princesa Catarina de Bragança com Carlos II.

Se está interessado em saber mais sobre estes temas recomendo a leitura do blog Histórias de Portugal em Marrocos.

Mapa dos locais