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Décimo: Espantos – 1º A Noite

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Décimo: Espantos – 1º A Noite

Para mim, esta é a paisagem mais bela e mais triste do mundo. (…) Olhem bem para esta paisagem para a poderem reconhecer se um dia forem a África, ao deserto. Se passarem por aqui, suplico-vos: não tenham pressa, fiquem um bocado à espera mesmo por baixo da estrela! Se um menino vier ter convosco, um menino que está sempre a rir, um menino com cabelos cor de ouro e que nunca responde quando se lhe faz uma pergunta, já sabem quem ele é. Então por favor, sejam simpáticos! (…)

Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho Cap. XXVI

Uma das coisas que mais me impressionou no deserto foi a Noite! Provavelmente porque nunca tinha visto Noite em toda a minha vida. Acredito que, a par dos “mares” de Dunas (que eu não vi), seja este o maior espanto do deserto. E houveram dois momentos especiais para o contemplar.

O primeiro foi quando ficámos alojados nas proximidades de Dakla. Montámos as tendas num parque de campismo e caravanismo muito antes da cidade. Aqui o nome de “parque de campismo e caravanismo” pode ser enganador para um comum campista europeu que está habituado a mesmo no “campo” ter a sua casa de banho com água corrente, o seu chuveiro, uma loja de primeiras necessidades, e imagine-se só, luz eléctrica! Aqui não há nada disso! Perdão, há um pseudo-w.c. com sanita, mas dada a falta de água corrente preferi, por questões de higiene, ir atrás do calhau mais próximo…

A compenssar todas estas faltas há duas coisas que são muito difíceis de encontrar no resto do mundo. A primeira são as excepcionais condições para a prática de kitesurf e windsurf. Que o digam as centenas, se não milhares de adeptos destas modalidades que aqui se deslocam todos os anos.

A outra é a Noite, um fenómeno que o Homem civilizado tratou de “apagar”. Depois de montar a tenda no parque de desertismo, fiquei deitado na areia a olhar para o céu, não á espera do Principezinho (até porque só depois de vir é que deixei de ser a única pessoa do mundo que ainda não tinha lido o Livro) mas a contemplar uma realidade que poucos conhecem: o céu á Noite não é escuro , é branco! As estrelas são tantas que julgo não haver nem um pedacinho de céu sem uma, por muito pequenina que seja!

O segundo foi na Mauritânia, na recém construída auto-estrada do deserto, entre Nouadhibou e Nouackchoot. Aqui a noite é soberba! Dentro do carro apenas se consegue ver o que os faróis iluminam e mais nada. A sensação é a de ir a andar numa estrada intergalática no cosmos. Ou, para quem como eu não vive na cidade e conhece o campo, é como ir numa estrada cercada dum enorme arvoredo que não deixa ver nada para além dele. Só que aqui nem o arvoredo se vê… À nossa volta é tudo igual, Escuro!

Portanto aqui fica o meu apelo: quando tiverem um tempinho livre, vão a África, ao deserto, e fiquem um bocadinho a olhar para as estrelas!