27 Julho 2020

Figueiró dos Vinhos: à descoberta dos seus encantos e recantos

Figueiró do Vinhos orgulha-se (e bem) de ser a terra (natal ou de vida) de nomes tão sonantes da arte portuguesa como José Malhoa ou Simões de Almeida. Mais uma vez fui visitar o concelho, mas nem parei na vila. A razão parece-me óbvia: o apelo das belas paisagens naturais do concelho é tal, que me desvia do resto. A arte dos homens ficará para uma próxima.

Até ao fim da estrada

No norte do concelho de Figueiró dos Vinhos, Moinho Novo é daquelas aldeias que os mapas já esqueceram. Saímos do IC8 para a fatídica EN236-1 por um punhado de quilómetros até à placa que indica Fontão Fundeiro.

placas em estrada de terra batida na serra da Lousã
O único caminho para a aldeia de Moinho Novo

As curvas apelam ao enjoo. Paramos na berma da estrada num miradouro improvisado para contemplar a paisagem: à direita, a aldeia Fontão Fundeiro, no horizonte a serra da Lousã e, lá ao fundo, a aldeia de Moinho Novo.

Passamos Fontão Fundeiro e cortamos à esquerda por um caminho de terra batida. É cerca de quilómetro e meio a descer. Não é necessário um 4×4, mas um ligeiro mais baixo teria dificuldade em percorre-lo.

Moinho Novo – uma aldeia que renasce

Moinho Novo esteve ao abandono durante alguns anos até as suas ruínas começarem a ser adquiridas e restauradas por forasteiros que aqui encontraram um refúgio para o stress das suas vidas profissionais.

Aldeia de xisto com ribeira e criança a brincar
A aldeia de Moinho Novo

Entre eles está o Sr. Carlos. Há uns anos adquiriu umas ruínas na encosta da aldeia. Para além do seu descanso, quis preparar o espaço para alojamento local e poder partilhar este local que o encanta com o Mundo. Assim nasceu a Casa do Moinho Novo e as Varandas do Moinho Novo. As duas pequenas casas são modestas. Paredes de pedra, chão de madeira, mobiliário muito dele feito pelo próprio. Das janelas e varandas contempla-se a ribeira de Alva. Para encanto do meu filho há uma caixa de areia para as brincadeiras mesmo junto ao açude, local perfeito para uns banhos nos dias mais quentes.

Açude na ribeira de Alge, serra da Lousã
O açude
Criança a brincar junto a açude na ribeira de Alge, serra da Lousã
A pequena praia convida à brincadeira
Ruínas de moinho em xisto
O antigo moinho da aldeia, hoje em ruínas
Ribeira de Alge
Ribeira de Alge dá vida às suas margens
Parreira e parede de xisto
Pormenor das ruas de Moinho Novo

As mós do moinho que dava nome à aldeia, já não rodam. Os vários proprietários esperam restaura-lo em breve. São aliás os proprietários que se encarregam da manutenção de todos os espaços públicos.

Depois de uma noite embalados pelo coachar dar rãs, ficamos mais um pouco a desfrutar desta natureza. Já se começam a preparar as brasas para o almoço quando partimos de Moinho Novo. Subimos pela estrada de terra batida em poucos minutos depois chegamos à sede da freguesia: Campelo.

Sala em casa de xisto
Na Casa do Moinho Novo
Criança a contemplar paisagem à janela
Uma vista que vai deixar memórias

Campelo – à espera das trutas

Paramos nas traseiras da igreja, em frente à junta de freguesia. A buzina da carrinha do padeiro trás alguns habitantes à porta. Aproveitamos para comprar um bolos para a sobremesa do almoço que preparamos na autocaravana. Dali temos vista para o quase abandonado viveiro de trutas. O restaurante e o café estão fechados, os tanques estão vazios.

vista panorâmica de Campelo com igreja e ribeira
Vista da aldeia de Campelo

O posto aquícola de Campelo aguarda as obras de rejuvenescimento que deviam estar prontas no final deste ano, num projecto que prevê o repovoamento da ribeira de Alge que nasce poucos quilómetros acima e atravessa a povoação.

posto aquícola de Campelo
O posto aquícola de Campelo ao abandono
aqueduto em Campelo
Aqueduto sobre a aldeia de Campelo

As ruas estão quase desertas. Os parques infantis testemunham a baixa natalidade, assim como a escola primária que deu lugar a um parque de lazer com piscina, hoje fechado por causa do Covid.

Encontramos vida num local incomum nos dias que correm: o lavadouro público. Não está ninguém a lavar, mas o cheiro a sabão e a roupa que ali seca embalada pelo vento testemunham que aqui, provavelmente por impossibilidade, ainda alguém resiste às máquinas de lavar.

parque infantil abandonado e ruínas
Conseguem imaginar os risos das crianças?
Lavadouro público com roupa estendida a secar
O lavadouro ainda tem uso

Passamos ao lado de Castanheira de Pêra e retomamos a EN236-1 para sul, em direcção à mais recente atracção do concelho de Figueiró dos Vinhos: o passadiço das Fragas de São Simão.

São Simão – as fragas, a praia e os passadiços

A primeira vez que fui às fragas de São Simão a água corria escura, arrastando consigo as cinzas dos incêndios desse ano de 2017. A humidade do local tinha-o protegido do fogo e estava ali como que um pulmão verde no meio da cinza.

Três anos passaram. As encostas em redor voltam a ter a tonalidade de outrora: os eucaliptos e as acácias mimosas trouxeram de novo o verde. Mas também a mão do homem contribuiu para a mudança: uma escadaria de madeira desce agora do miradouro até à praia fluvial no sopé das fragas. A vista é maravilhosa e vale o esforço de voltar a subir tudo até ao carro.

Passadiços e aldeia de xisto de São Simão
Os passadiços com a aldeia de xisto de Casal de São Simão ao fundo

Volto a deslumbrar-me com a beleza desta praia fluvial, que só lhe encontro paralelo na praia fluvial de Loriga, na Serra da Estrela.

A viagem pelo centro de Portugal segue para o distrito aqui ao lado: Castelo Branco, com passagem pela Sertã e Vila de Rei.

Passadiços das fragas de São Simão
A escadaria desce sobre os rochedos
Praia fluvial das fragas de São Simão
Praia fluvial das fragas de São Simão
Praia fluvial das fragas de São Simão
Praia fluvial das fragas de São Simão
Vista do miradouro das fragas de São Simão
As fragas de São Simão vistas do miradouro

logotipo turismo centro de portugal

Este artigo contou com a colaboração do Turismo Centro de Portugal e da Casa do Moinho Novo