Figueiró dos Vinhos: à descoberta dos seus encantos e recantos
Figueiró do Vinhos orgulha-se (e bem) de ser a terra (natal ou de vida) de nomes tão sonantes da arte portuguesa como José Malhoa ou Simões de Almeida. Mais uma vez fui visitar o concelho, mas nem parei na vila. A razão parece-me óbvia: o apelo das belas paisagens naturais do concelho é tal, que me desvia do resto. A arte dos homens ficará para uma próxima.
Até ao fim da estrada
No norte do concelho de Figueiró dos Vinhos, Moinho Novo é daquelas aldeias que os mapas já esqueceram. Saímos do IC8 para a fatídica EN236-1 por um punhado de quilómetros até à placa que indica Fontão Fundeiro.
As curvas apelam ao enjoo. Paramos na berma da estrada num miradouro improvisado para contemplar a paisagem: à direita, a aldeia Fontão Fundeiro, no horizonte a serra da Lousã e, lá ao fundo, a aldeia de Moinho Novo.
Passamos Fontão Fundeiro e cortamos à esquerda por um caminho de terra batida. É cerca de quilómetro e meio a descer. Não é necessário um 4×4, mas um ligeiro mais baixo teria dificuldade em percorre-lo.
Moinho Novo – uma aldeia que renasce
Moinho Novo esteve ao abandono durante alguns anos até as suas ruínas começarem a ser adquiridas e restauradas por forasteiros que aqui encontraram um refúgio para o stress das suas vidas profissionais.
Entre eles está o Sr. Carlos. Há uns anos adquiriu umas ruínas na encosta da aldeia. Para além do seu descanso, quis preparar o espaço para alojamento local e poder partilhar este local que o encanta com o Mundo. Assim nasceu a Casa do Moinho Novo e as Varandas do Moinho Novo. As duas pequenas casas são modestas. Paredes de pedra, chão de madeira, mobiliário muito dele feito pelo próprio. Das janelas e varandas contempla-se a ribeira de Alva. Para encanto do meu filho há uma caixa de areia para as brincadeiras mesmo junto ao açude, local perfeito para uns banhos nos dias mais quentes.
As mós do moinho que dava nome à aldeia, já não rodam. Os vários proprietários esperam restaura-lo em breve. São aliás os proprietários que se encarregam da manutenção de todos os espaços públicos.
Depois de uma noite embalados pelo coachar dar rãs, ficamos mais um pouco a desfrutar desta natureza. Já se começam a preparar as brasas para o almoço quando partimos de Moinho Novo. Subimos pela estrada de terra batida em poucos minutos depois chegamos à sede da freguesia: Campelo.
Campelo – à espera das trutas
Paramos nas traseiras da igreja, em frente à junta de freguesia. A buzina da carrinha do padeiro trás alguns habitantes à porta. Aproveitamos para comprar um bolos para a sobremesa do almoço que preparamos na autocaravana. Dali temos vista para o quase abandonado viveiro de trutas. O restaurante e o café estão fechados, os tanques estão vazios.
O posto aquícola de Campelo aguarda as obras de rejuvenescimento que deviam estar prontas no final deste ano, num projecto que prevê o repovoamento da ribeira de Alge que nasce poucos quilómetros acima e atravessa a povoação.
As ruas estão quase desertas. Os parques infantis testemunham a baixa natalidade, assim como a escola primária que deu lugar a um parque de lazer com piscina, hoje fechado por causa do Covid.
Encontramos vida num local incomum nos dias que correm: o lavadouro público. Não está ninguém a lavar, mas o cheiro a sabão e a roupa que ali seca embalada pelo vento testemunham que aqui, provavelmente por impossibilidade, ainda alguém resiste às máquinas de lavar.
Passamos ao lado de Castanheira de Pêra e retomamos a EN236-1 para sul, em direcção à mais recente atracção do concelho de Figueiró dos Vinhos: o passadiço das Fragas de São Simão.
São Simão – as fragas, a praia e os passadiços
A primeira vez que fui às fragas de São Simão a água corria escura, arrastando consigo as cinzas dos incêndios desse ano de 2017. A humidade do local tinha-o protegido do fogo e estava ali como que um pulmão verde no meio da cinza.
Três anos passaram. As encostas em redor voltam a ter a tonalidade de outrora: os eucaliptos e as acácias mimosas trouxeram de novo o verde. Mas também a mão do homem contribuiu para a mudança: uma escadaria de madeira desce agora do miradouro até à praia fluvial no sopé das fragas. A vista é maravilhosa e vale o esforço de voltar a subir tudo até ao carro.
Volto a deslumbrar-me com a beleza desta praia fluvial, que só lhe encontro paralelo na praia fluvial de Loriga, na Serra da Estrela.
A viagem pelo centro de Portugal segue para o distrito aqui ao lado: Castelo Branco, com passagem pela Sertã e Vila de Rei.
Este artigo contou com a colaboração do Turismo Centro de Portugal e da Casa do Moinho Novo
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