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Peneda-Gerês: das vinhas de Melgaço ao granito de Castro Laboreiro

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Peneda-Gerês: das vinhas de Melgaço ao granito de Castro Laboreiro

Depois de dois dias em que andei na companhia de outros bloggers a visitar os concelhos de Arcos de Valdevez e de Ponte da Barca, no Parque Nacional da Peneda-Gerês, chegamos por fim ao município mais a norte deste parque e de Portugal: Melgaço.

O nome Melgaço apela mais ao vinho que à água, mas é por esta última que começa esta viagem por estas terras nortenhas.

Águas de Melgaço

Começamos esta visita pelo imponente Buvete da Fonte Principal. A estrutura em ferro de cores frias e de arquitectura Art Nouveau, leva-nos no tempo até ao início do século XX, data da sua construção. Pelos vitrais entra a luz natural que ilumina o espaço. Ao centro, numa redoma de vidro borbulha a água “mineralizada, gasocarbónica, bicarbonatada, cálcica/magnesiana e ferruginosa, com uma temperatura de 15°C e pH 6”.

Em tempos de Covid é mais difícil chegar a um copo desta água, que dizem ajudar no tratamento de diabetes, colesterol e doenças do foro gástrico e hepático. De travo forte, destaca-se no seu sabor o ferro, que só por necessidade medicinal convida a beber mais do que um copo.

interior do buvete das termas de Melgaço
Buvete da Fonte Principal – uma viagem no tempo

Mas as termas de Melgaço são também feitas de modernidade. Por trás da fachada centenária do edifício do balneário, encontramos um edifício totalmente remodelado em 2013. Para além dos inúmeros tratamentos com águas termais disponibilizados, o menu completa-se com a piscina que convida ao relaxamento. Mesmo para quem não vem até Melgaço pelas águas, o Parque Termal do Peso merece uma visita aos belos jardins que rodeiam os edifícios históricos.

Piscina das termas de Melgaço
A nova piscina convida ao relaxamento
Sombra em árvores no jardim das termas de Melgaço
Belos jardins rodeiam as termas de Melgaço

Alvarinho Soalheiro

Antes do final do dia chegamos a uma das mais distintas casas produtoras do néctar de Melgaço: a Quinta de Soalheiro. Esta foi a primeira marca da Alvarinho de Melgaço e desde 1982 que produz dos mais afamados Vinhos Verdes, sabores indissociáveis do Minho.

Somos calorosamente recebidos pelo João e pela Carolina, ele português, ela colombiana, que se apaixonaram por estas terras e refizeram aqui as suas vidas. Ouvimos a história da casa, dos vinhos que aqui são produzidos e da relação da quinta com as comunidades locais, enquanto degustamos um espumante Alvarinho.

Num território de microfúndio a produção das uvas de Alvarinho (as mais caras produzidas em Portugal!), está repartida pelas famílias do concelho. Desta proximidade têm nascido projectos diversificados de inclusão da comunidade e das gerações mais novas, essenciais na manutenção deste modo de fazer vinho.

Servir espumante Alavarinho em copo na Quinta do Soalheiro
Espumante de Alvarinho na Quinta do Soalheiro
Garrafas de vinho verde alvarinho Soalheiro
Garrafas que contam a história da Quinta do Soalheiro

Da Quinta do Soalheiro somos convidados a ir até à Quinta de Folga, um recente projecto da mesma família, focado em dar a conhecer não só os vinhos, mas também a gastronomia local. O destaque vai para os produtos de fumeiro de Porco Bísaro, raça autóctone criada aqui ao ar livre.

A Quinta de Folga funciona apenas para pequenos grupos e oferece experiências gastronómicas ímpares, em condições de segurança adequadas aos momentos que estamos a viver.

Para mais informações e marcações de actividades de enoturismo, deve contactar a Quinta do Soalheiro ou a Quinta de Folga pelos contactos indicados nos seus sites:
https://www.soalheiro.com/
https://www.quintadefolga.com/

Alvorada na montanha

Chegamos ao alojamento já a noite vai avançada. O silêncio domina a noite. O escuro e a névoa obrigam-me a esperar pela manhã para perceber a grandiosidade da paisagem que me rodeia.

Sou acordado pelo coaxar das rãs e pelo chilrear dos pássaros que madrugam. Faço o mesmo. Há muito tempo que queria conhecer estas montanhas e decido por isso fazer uma pequena caminhada matinal antes do pequeno almoço.

Procuro no Google o que há de interesse a uma distância caminhável de estômago vazio. Descubro uma ponte: a Ponte Romana da Cava da Velha. As suas pedras de arestas comidas pelos séculos, confundem-se com a paisagem agreste que a rodeia.

Uma toalha esquecida na margem revela que os lagos formados no leito do ribeiro são propícios a um banho refrescante.

Ponte romana da Cava da Velha em Castro Laboreiro
Ponte da Cava da Velha ao amanhecer
Ponte romana da Cava da Velha em Castro Laboreiro
As águas frescas convidam a um mergulho nas horas mais quentes
Lua durante o dia
A Lua quase cheia ainda espreita

Em Castro Laboreiro fiquei alojado na casa de campo da Ecotura. A casa é só uma pequena parte deste projecto de turismo de natureza gerido por um casal conhecedor da serra como poucos.
Para além do alojamento, organizam actividades equestres, de caminhada e de etnobotânica, com vários programas, alguns adaptados a todas as idades. Pode-os contactar pelo site: https://www.ecotura.com/

Por trilhos de lobos

O Pedro e a Anabela vieram até Castro Laboreiro em 1999 num projecto jornalístico sobre o Lobo Ibérico. A paixão por esse animal e por este território levo-os a criar a Ecotura e são eles que nos vão guiar nesta manhã pelos seus trilhos.

O trilho que vamos percorrer localiza-se num vale da serra da Peneda, entre Castro Laboreiro e Lamas de Mouro: um vale de natureza pura, lar de Garranos e Lobos. Se os primeiros são fáceis de ver, os segundos, nem tanto. E na verdade, nem é assim tão desejável avistar lobos (a não ser que a uma distância segura), já que estes podem ser hostis.

Lobos não avistamos, mas o olhar atento de Pedro rapidamente identifica fezes frescas deixadas por elementos da alcateia.

Mesmo estando já no início do Outono, as flores ainda pintam a paisagem numa bela paleta de cores. Os cumes de granito nu dominam o horizonte, e protegem, no vale, pequenos bosques e trufeiras.

Pessoas a caminhar na serra da Peneda Gerês
A caminho de um cenário mágico
Plantas floridas na serra da Peneda Gerês
As encostas ainda se cobrem de cor
Excrementos de lobo nas serras da Peneda Gerês
Os lobos andam por perto
Caminhar na serra da Peneda Gerês
Natureza pura
Pessoas a caminhar na serra da Peneda Gerês
Avançamos rodeados de granito
Cavalos Garranos livres nas serras da Peneda Gerês
Os cavalos Garranos passeiam livremente pelas serras
Bosque na serra da Peneda Gerês
No bosque
Castro Laboreiro, serra da Peneda Gerês
Nos pontos mais altos é o granito nu que domina a paisagem
Castro Laboreiro, serra da Peneda Gerês
Vistas para o infinito
Trufeiras na serra da Peneda Gerês
As trufeiras são mais um dos elementos característicos destas serras
vaca cachena em Castro Laboreiro, serra da Peneda Gerês
As vacas cachenas também andam por aqui

Miradouro do Castelo

Esta longa manhã de Domingo termina no centro de Castro Laboreiro. As ruas da aldeia enchem-se agora de visitantes portugueses e espanhóis. Para além de tudo o que a natureza lhes tem para oferecer, muitos são os que vêm até aqui pela comida.

Com vista para a imponente elevação onde se ergue o castelo, o restaurante Miradouro do Castelo é um dos mais populares. O cabrito e o bacalhau são reis. A razão para a popularidade do cabrito nestas terras serranas é óbvia. Já o bacalhau, nem tanto: o que o torna especial é a broa e visivelmente, o tamanho das doses em que é servido.

Prato de bacalhau com broa e de cabrito
Bacalhau e Cabrito, duas pérolas do “Miradouro do Castelo”
Restaurante Miradouro do Castelo em Castro Laboreiro
Restaurante Miradouro do Castelo em Castro Laboreiro
Castelo de Castro Laboreiro
O Castelo de Castro Laboreiro

As abelhas mansas do Paulo

Não é todos os dias que se encontra alguém apaixonado pelo que faz como o Paulo Gonçalves. É no lugar de Virtelo que o vamos encontrar no meio de um dos seus apiários. Ao nos aproximarmos sem qualquer protecção, a sensação é a de estar a entrar na jaula das feras. Mas não há razão para medos.

As abelhas criadas pelo Paulo são mansas. Conhecidas como abelhas de Buckfast tiveram origem na abadia do mesmo nome, no Reino Unido. Foi aí que o irmão Adam iniciou em 1919 um exaustivo trabalho de estudo das várias espécies, viajando pelo Mundo em busca das melhores e fazendo cruzamentos por forma a obter abelhas menos agressivas e melhor produtoras de mel. Como que uma “selecção artificial” da espécie.

Abelhas mansas de Buckfast em Melgaço
Paulo Gonçalves exibe orgulhoso as suas abelhas
Abelhas mansas de Buckfast em Melgaço
Abelhas mansas de Buckfast em Melgaço

O trabalho exige uma dedicação sem igual. Para além do normal trabalho de um apicultor, aqui é necessário observar e registar o comportamento de cada enxame, no que diz respeito à mansidão e higiene, entre outros parâmetros.
Um facto curiosos é que a rainha de cada colmeia está identificada com uma pequena etiqueta no dorso, que permite a sua identificação para os cruzamentos.

colmeias e utensílios de apicultura Buckfast
O laboratório do alquimista
Favos de mel com abelhas e rainha Buckfast
As abelhas em volta da rainha

Apiturismo

Para além do seu trabalho na Associação Buckfast Portugal, mais recentemente o Paulo passou a disponibilizar experiências de apiturismo junto das suas abelhas. Sim! Tu também podes lambuzar-te com um favo de mel fresquinho e sentir as abelhas na tua mão, sem qualquer protecção, ou receio.

Esta foi, sem dúvida, uma das melhores experiências que já tive em viagem e, é um local onde quero voltar em breve com a família.

Para esta experiência de apiturismo em Melgaço pode contactar o Paulo pelos meios indicados na sua página de Facebook ou site:
https://www.facebook.com/Buckfast.Portugal
https://abelhadebuckfast.blogspot.com/

Mão com abelhas mansas de Buckfast em Melgaço
As protecções são desnecessárias
Cortar favo de Mel
Extraindo o néctar
Paulo Gonçalves apicultor Buckfast junto de favo de mel
Paulo Gonçalves junto de um dos frutos do seu trabalho
Favos de mel com abelhas e rainha Buckfast
A rainha marcada com o número 13

Esta viagem teve o apoio do Turismo do Porto e Norte de Portugal.