Pingyao, cidade museu na China
Passa pouco da meia noite quando sou acordado pelo revisor do comboio nocturno de Datong para Pingyao. Na estação tenho à minha espera um funcionário do hotel onde vou ficar, que me leva até lá. Segundo me informaram antes, no centro histórico não podem entrar táxis, pelo que dada a hora tardia da chegada, optei por pedir este serviço.
Assim que cruzamos a porta da muralha, o cenário é surreal. A iluminação pública é quase inexistente, sendo a escuridão quebrada por pouco mais que algumas lanternas vermelhas penduradas nos edifícios.
Nos pátios do hotel Chengruihan continua a minha viagem neste cenário da China ancestral. A pedra negra, a luz vermelha, as misteriosas portas de madeira, compõem este cenário que será a minha morada nas próximas duas noites.
Pelas ruas de Pingyao
Depois de um rápido pequeno almoço saio para iniciar a visita a esta cidade museu. As comparações com a vila de Óbidos são inevitáveis: no centro histórico todos os edifícios mantém o traço tradicional, aqui com pedra negra e telhados de cerâmica escura.
Também aqui há um liquido afamado: não é a doce ginja, mas o amargo vinagre, armazenado em gigantescos potes de barro, omnipresentes nas lojas da cidade. Depois há o artesanato, as recordações industrializadas, os brinquedos, as roupas, as comidas de rua.
Do que foi outrora, a Pingyao parece pouco mais restar que as pedras. Se este é o preço a pagar por uma cidade museu, não deixa de ser uma pechincha, se tivermos em conta que é talvez a única na China com um centro histórico totalmente conservado.
Um bilhete para todos os museus
Nos edifícios onde outrora funcionavam ancestrais instituições bancárias e outras relacionadas com o comércio, existem hoje vários museus que contam um pouco da história da cidade e dessas actividades.
Para os visitar, assim como à maioria dos restantes monumentos, templos e muralhas, há um bilhete único por 125RMB válido por três dias, vendido em vários pontos da cidade.
Museu do Banco de Remessas de Xietongqing
Localizado no edifício do banco fundado em 1856 este museu apresenta as várias salas decoradas com o mobiliário original e figuras em tamanho real que permitem ter uma ideia de como era o funcionamento destas instituições.
A zona mais interessante é a cave que funcionava como cofre onde era armazenado o ouro e a prata dos depositantes. Estes metais preciosos eram moldados não em barras, na numa forma semelhante a um barco (ou um chapéu). Os que vemos hoje são obviamente, réplicas pintadas.
Museu da escolta Chinesa
Foi um dos mais interessantes que visitei em Pingyao. Também associado aos negócios bancários e do transporte de valores, são apresentadas as técnicas de defesa, assim como de transporte e dissimulação dos metais preciosos.
Para quem viaja com crianças, há uma zona onde por um valor extra, se pode fazer tiro com arco e experimentar réplicas das armas.
Museu do mobiliário dos mercadores de Baichuantong
Bonitos biombos descorados com marfim e madre-pérola, móveis em madeira trabalhada e porcelanas, são o que se destaca neste museu, junto ao cruzamento entre a rua Sul e a rua YaMen.
Templo do Deus da Cidade
Passando sob o monumental pórtico de madeira e telhas coloridas, no primeiro pátio sou recebido por um corredor ladeado por estátuas dos animais dos anos chineses. São muitas as fitas de oração junto ao altar principal, num espaço bastante agradável.
Mas o que me chama mais a atenção é uma sala onde são exibidas várias figuras, quiçá demónios, torturam, desmembram a infernizam o pouco que restará da vida aos pobre mortais.
Templo de Confúcio
O enorme complexo onde se insere o templo de Confúcio assemelha-se na arquitectura ao templo do Deus da Cidade. Aqui, para além dos alteres, há uma zona que era no passado dedicada ao ensino e ao exames para os funcionários imperiais.
Painel dos 9 dragões
À saída do templo de Confúcio pode-se admirar um painel de cerâmica com os 9 dragões, imponente, mas sem o colorido do que se pode ver na Cidade Proibida em Pequim
Museu da câmara do comércio chinesa
Parede meias com o hotel onde estava hospedado, este museu e a sua arquitectura faziam em tudo lembrar o hotel. Lá dentro, a exposição foca-se nos negócios da China em tempos passados com vários países estrangeiros.
Museu de Artes Marciais de Hui Wu Lin
Este é um museu a não perder para os amantes das artes marciais, mas não só. São apresentadas armas, ilustrações de combates e outros objectos relacionados.
Curiosamente há uma zona neste museu dedicada à caligrafia chinesa onde é possível adquirir notáveis painéis dos quais, sinceramente, não sei o significado.
Museu do Banco Rishengchang
Bem no centro da cidade, este museu ocupa o edifício onde no início do século XIX foi fundado o primeiro banco de cheques chinês.
Templo de Erlang
No último dia, quando caminhava para a porta Sul para apanhar o autocarro para a estação de comboios de alta velocidade ainda parei no templo de Erlang.
Palácio do Governador
Com uma função administrativa, diferente dos templos e museus que visitei anteriormente na cidade, o palácio do governador revela-se um dos mais interessantes locais que visitei em Pingyao.
Para além dos vários salões para a recepção de convidados, reuniões de trabalho ou para a vida quotidiana do governador da cidade comuns a outros palácios pela China, gostei particularmente da zona da prisão e da torre que fica sobre as ruas da cidade.
Para além dos vários salões para a recepção de convidados, reuniões de trabalho ou para a vida quotidiana do governador da cidade comuns a outros palácios pela China, gostei particularmente da zona da prisão e da torre que fica sobre as ruas da cidade.
Logo à entrada do palácio esta torre permite subir ao nível dos telhados e oferece bonitas vistas sobre o colorido, a agitação e o comércio das ruas da cidade.
Na zona dos calabouços encontram-se expostos os mais variados instrumentos de tortura e execuções públicas. Alguns estão mesmo acompanhados de fotografias do seu uso no início do século XX, lembrando que esta não é uma realidade assim tão distante.
A muralha da cidade
Termino o dia a percorrer parte da muralha que se encontra aberta, entre a porta Sul e o templo de Confúcio. Grande parte está fechada por decorrerem aí obras de restauro.
Por fora a muralha está quase toda num estado imaculado e rodeada de jardins e um pequeno fosso com água. Já no interior, há partes que nem estão forradas a pedra, mas sim mostrando o seu interior em terra.
Igreja católica de Pingyao
Já em Datong tinha tentado visitar uma igreja, mas encontrei-a fechada. Aqui finalmente surgiu a oportunidade. A fachada humilde contrasta com a riqueza que se vê nos templos taoístas.
O muro em redor fecha um recinto onde se insere a igreja e parecem viver alguns dos cristãos da terra. As infiltrações nas paredes contam-me das dificuldades em que vive esta comunidade. A única riqueza é a espiritual, guardada num sacrário com a forma de um lingote de ouro chinês.
Comer em Pingyao
Ao almoço entrei num pequeno restaurante familiar onde comi acompanhado apenas pelos proprietários e pelo seu filho que fazia os trabalhos de casa numa mesa ao lado. Ninguém falava inglês, mas a comida era barata e deliciosa.
Para jantar, fiquei-me por um restaurante mesmo ao lado do hotel, com menu é inglês. A comida era boa e servida em grandes doses, mas o preço bastante inflacionado.
No último dia, quando regressei de Mianshan, jantei num restaurante junto à porta Norte, que se revelou uma das melhores refeições da viagem.
Visitar Mianshan
Aproveitar estar em Pingyao para visitar a fabulosa montanha de Mianshan, 60 quilómetros a Sul de Pingyao. É um local com paisagem de cortar a respiração, onde templos taoistas se equilibram nas encostas de um profundo vale. Vale a pena a visita. Leia sobre este local no artigo que escrevi sobre Mianshan, o monte Mian.
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