Pyongyang monumental
Depois da tempestade, a bonança. Nos noticiários contam-se os mortos e os estragos causados no dia anterior pelo tufão que se abateu sobre a península coreana. A chuva lavou paredes e ruas e deu lugar a um calor húmido e sufocante.
O dress code de hoje pede camisas com colarinho, proíbe as calças de ganga ou os ténis. Iniciamos assim este dia de descoberta do que a cidade tem de mais grandioso.
Kumsusan, o Palácio do Sol
A primeira paragem é o mais importante templo desta verdadeira religião que é o Kimilsunismo: Kumsusan, o Palácio do Sol, mausoléu dos grandes líderes Kim Il-Sung e Kim Jung-Il.
Sobre as peculiaridades da visita a este local escrevi um artigo que intitulei:
O jardim e as flores
De Kumsusan regressamos a centro da cidade para uma paragem no jardim das fontes de Mansudae. Localizado entre a Casa de Estudo do Grande Povo e o Grande Monumento da Colina Mansu, é um local aprazível, com fontes, obras escultóricas e, quiosques para venda de flores.
Há pequenos ramos, mas também enormes vasos que os grupos oferecem lá em cima, à grandes estátuas. Somos convidados a comprar um pequeno, mas apenas um do grupo e o guia o fazem. Subimos.
Mansudae, O Grande Monumento da Colina Mansu
Esta é provavelmente a imagem mais conhecida da Coreia do Norte: as colossais estátuas de bronze de Kim Il-Sung e Kim Jun-Il. O monumento replica-se pelas várias cidades do país, mas nunca tão grandiosamente como aqui.
Em dia de véspera das celebrações do 71º aniversário da fundação do país por um daqueles homens, são muitos os norte coreanos que vêm até aqui prestar a sua homenagem. Chegada a nossa vez, alinhamos-nos numa linha, quem tem flores avança para as depositar aos pés das estátuas e depois fazemos uma prolongada vénia. Saímos sem mais demoras para dar lugar ao próximo grupo.
Em frente, já do outro lado do rio Taedong podemos ver o monumento ao Partido dos Trabalhadores da Coreia. Este é apenas um exemplo do fabuloso urbanismo da cidade.
Caminhamos um pouco pela colina até um ponto de onde podemos observar a estátua de Chollima. Este mítico cavalo alado, conhecido pela sua velocidade, é um importante símbolo para a Coreia do Norte. Representa a necessidade de avançar com grande velocidade no crescimento económico do país para o qual deve contribuir todo o povo.
Noodles frios
Ao almoço temos como prato principal os noodles frios, um dos mais tradicionais da península coreana. Tão popular, que foi servido no almoço de encontro entre Kim Jung-Un e o presidente Moon da Coreia do Sul.
O prato vem montado como na imagem e, depois de adicionar os temperos mistura-se tudo e come-se. À primeira vista pode parecer estranho, mas cai bem mesmo depois das milhentas entradas.
Saciados, partimos para a mais longa caminhada urbana desta viagem: vamos do restaurante até à praça Kim Il-Sung, um trajecto de 800 metros pelo coração da capital norte coreana.
Tirando o reduzido tráfego automóvel para tão largas vias, a verdade é que não há nada de especial aqui. Um domingo numa cidade como qualquer outra, tirando ser véspera de um dos mais importantes feriados do país, o 9 de Setembro, dia da Fundação da República.
Praça Kim Il-Sung
Chegamos assim àquele que é provavelmente o pedaço da Coreia do Norte mais difundido pelas televisões ocidentais. É por estas ruas que desfila o exército norte coreano, mostrando ao mundo o poderio militar do país em magnificentes paradas militares. Um ano depois da última que esta praça testemunhou, encontramos uma tarde de calmaria.
No chão vêm-se as marcas onde se alinham os figurantes para criar os mosaicos coloridos que acompanham o desfile. Um pouco ao estilo do que irei ver no dia seguinte nos grandes Jogos de Massas. Na outra margem do rio conseguimos ver a Torre da Ideologia Juche onde iremos mais tarde.
O mais estranho museu
Durante a tarde surge uma má notícia: devido ao tufão do dia anterior, que terá provocado grandes estragos mais para Sul, as viagens para fora da cidade continuam a não ser autorizadas. A continuar assim não viajaremos para Kaesong onde era suposto pernoitarmos.
O Museu da Guerra Vitoriosa também não abre hoje. O plano alternativo é a visita a mais um formidável museu de propaganda este, no estado mais refinado possível.
A poucos quilómetros da cidade visitamos um museu que não é mais do que uma caixa forte onde são guardadas ofertas de cidadão coreanos, residentes no país ou além-fronteiras, ao líderes norte coreanos. Lá dentro há carros, jóias, computadores, electrodomésticos, mobiliário, pinturas, esculturas e muito mais.
As fotografias são proibidas, com excepção do terraço da cobertura.
Um gigante adormecido
Regressamos à cidade apreciando apreciando a arquitectura e os movimentos do quotidiano. Pyongyang é uma idade fotogénica, com as bandeiras e murais a dar um toque de cor. Uma das particularidades que a torna única no Mundo é que não há publicidade alguma. As fachadas estão despidas de anúncios, nas ruas não há outdoors.
No horizonte da cidade há um edifício que se destaca pela sua extravagante forma e dimensão: o hotel inacabado Ryugyong. A enorme estrela de três braços com perfil triangular eleva-se nos céus de Pyongyang até aos 330m de altura dos seus 105 andares. À noite serve de tela para a projecção de mensagens patrióticas.
A construção iniciou-se em 1987, mas foi interrompida em 1992 após a queda da União Soviética. Com as restrições dos embargos e as dificuldades económicas do país, tem visto a sua conclusão sucessivamente adiada. Diz-se que as obras estão a decorrer, financiadas pelo Egipto, esperando-se a sua inauguração em 2022. Veremos.
A ideia Juche
A meio da tarde cruzamos o rio Taedong para subir ao topo da torre da Ideologia Juche. Com 170 metros de altura (incluindo os 20 metros da chama) é a segunda mais alta torre de pedra do mundo e lembra aos norte coreanos a ideologia orientadora do país, o Juche.
A ideologia Juche coloca o Homem no centro de todas as decisões e assenta na auto-suficiência do país e, no culto ao líderes do povo.
Em frente da torre encontramos uma estátua de bronze representando três trabalhadores: um intelectual (com o pincel), o industrial (com o martelo) e uma camponesa (com a foice). Formam assim o símbolo do Partido dos Trabalhadores da Coreia.
A ladear a torre ao longo das margens do rio, estende-se um jardim onde se podem igualmente observar algumas esculturas de granito representando os benefícios da ideologia Juche.
Como à nossa chegada a fila para subir à torre estava algo longa, foi-nos dada liberdade para passear pelo espaço em redor, sem os guias. Um raro momento de liberdade na Coreia do Norte. Esta é uma zona também bastante frequentada pelos habitantes locais para passear.
À entrada, para grande espanto meu, eis que no meio de dezenas de painéis oferecidos por grupos de estudo da ideologia, se destaca não um, mas quatro vindos de Portugal. A subida de elevador custa 5€ ou 40RMB.
Lá em cima temos 360 graus de vista para uma cidade fabulosa. Em contraluz temos a outra margem com a praça Kim Il-Sung, as estátuas da colina Mansu a espreitar por detrás de prédios futuristas e, a rasgar o horizonte, a silhueta triangular do grande hotel Ryugyong.
No centro do rio vemos à esquerda, numa ilha, o hotel Yanggakdo e, à direita, noutra ilha, o estádio 1º de Maio Rungrado, o maior do Mundo onde amanhã iremos assistir aos grandes Jogos de Massas.
A margem de cá é ocupada por bairros habitacionais com as suas cores pastel iluminadas pelos quentes raios de Sol. No meio delas conseguimos vislumbrar o monumento do partido, para onde vamos de seguida.
O Partido
A foice, o martelo e o pincel: três símbolos sempre presentes na Coreia do Norte ou não representassem o eterno partido no poder: o Partido dos Trabalhadores da Coreia.
O interior do anel esconde baixos relevos em bronze que enaltecem a história do partido, o papel deste na luta pela independência do Japão e na defesa da ideologia Juche. Alinhado com ele, do outro lado do rio, conseguimos ver as grandes estátuas onde estivemos de manhã.
USS Pueblo, a visita possível
A dois dias de sair do país e já sem qualquer hipótese de visitar o Museu da Guerra Vitoriosa, a nossa guia Ji Hyang desdobra-se em esforços para que possamos, ao menos, ver de perto o USS Pueblo.
Paramos no estacionamento de um famoso bar de cerveja e, com as indicações de alguns transeuntes, lá conseguimos atalhar pelo jardim até às margens do canal onde este está atracado. Alguns pescadores ao longo da margem tentam a sua sorte.
Do outro lado temos o único navio da marinha norte-americana apreendido no estrangeiro. Capturado pelas forças norte coreanas em Janeiro de 1968, segundo estas em águas nacionais, veria a sua tripulação de 83 homens (um deles morto no ataque) capturada pelas forças inimigas. O incidente tornou ainda mais tenso o ambiente bélico vivido entre as duas potências. Ao fim de quase um ano de negociações a tripulação viria a ser libertada a tempo do Natal, a 23 de Dezembro do mesmo ano.
Para ocupar algum do tempo que entretanto temos a mais por não viajarmos hoje para Kaesong, vamos até ao tal bar beber umas cervejas. Uma das opções é provar cada uma das sete variedades da cervejeira nacional.
Diversões
Nunca fui grande fã de parques de diversões, mas é evidente que a possibilidade de entrar num na Coreia do Norte é irrecusável. Depois de jantar vamos até à Feira Popular de Moranbong, nas imediações do Arco do Triunfo e do estádio Kim Il-Sung.
O ambiente é animado, há muita gente de todas as idades, sorrisos e muitas luzes. A entrada é um extra não incluído na viagem e custa para nós turistas 3€. Andar nas máquinas custa 2 a 5€.
Assim que entro no parque vejo logo algo que gostava de experimentar: uma torre que eleva os passageiros a grande velocidade para uma altura que estimo nuns 50 metros. Imagino a vista que se tem lá de cima. Tento não me questionar muito acerca do registo de manutenção desta e pago os 5€ para andar.
Para turistas, que até têm prioridade na fila (vá-se lá saber quanto não pagamos a mais que um local), o operador para a plataforma no topo durante alguns minutos para podermos observar a paisagem.
Antes da queda abrupta, deliciamos-nos com a vista nocturna da cidade, onde se destaca em primeiro plano o Arco do Triunfo e, ao fundo, o hotel Ryugyong com a sua iluminação monumental.
No exterior, em várias tascas, os habitantes convivem à volta de umas cervejas. A caminho do hotel recebemos a melhor das notícias: acabam de ser autorizadas as viagens para fora da cidade no dia seguinte. Renasce assim a esperança de visitar a Zona Desmilitarizada entre as duas Coreias.
Para vencer as hordas de turistas chineses, combinamos a saída para as 6h30 da manhã.
Agora sim: um quarto com vista
Chegamos assim ao hotel Yanggakdo, localizado numa ilha bem no centro do rio Taedong. Da altura da torre da Ideia Juche e com cerca de 1000 quartos, este é o maior hotel do país.
Depois da desilusão das janelas do quarto do hotel Koryo, aqui não há nada que me impeça de apreciar a sensacional vista nocturna para a cidade.
- Categorias:
- Coreia do Norte