8 Agosto 2020

Da Sertã a Vila de Rei – Descobrir o Centro de Portugal

Quando decidi fazer esta viagem, um dos grandes objectivos era visitar a praia fluvial e passadiços do Penedo Furado, no concelho de Vila de Rei. Infelizmente a praia estava fechada para obras e o acesso aos passadiços um pouco condicionado. Ainda assim decidi ir até ao centro de Portugal e não me arrependi.

Sertã

Chegámos já ao final da tarde, depois de no dia anterior termos andado a explorar um pouco do concelho vizinho de Figueiró dos Vinhos. Estacionámos a nossa autocaravana junto à Ribeira da Sertã, a pujante linha de água que cruza toda a cidade.

Ponte filipina na Sertã
A ponte filipina sobre a ribeira da Sertã

A cidade, da qual apenas conhecíamos da passagem pela placa no IC8, revelou-se uma agradável surpresa. Na manhã seguinte voltámos a percorrer os jardins, a atravessar a ponte filipina e subimos até ao castelo.

No interior do pequeno recinto muralhado encontra-se a igreja do castelo contígua à torre (de menagem?). A subida vale sobretudo pelas vistas, não só do castelo como do largo do pelourinho, um pouco mais abaixo, de onde se avista a praia fluvial da Ribeira Grande.

Depois de um almoço de gastronomia local, onde não podem faltar o javali, o bucho ou os maranhos, seguimos pela EN2 para Sul.

A pensar em visitar a Sertã? Veja este Guia prático para visitar a Sertã

Capela no castelo da Sertã
A capela no castelo da Sertã
Ponte sobre a Ribeira da Sertã
A ribeira da Sertã atravessa a vila e enche-a de verde

O Centro Geodésico de Portugal

Já tinha passado pela Melriça há uns anos, mas o nevoeiro que se fazia sentir deixava ver pouco mais do que o vértice geodésico ali erguido em 1802. Embora não fique precisamente no centro de Portugal (aliás, é complicado definir um “centro de Portugal”), foi a partir daqui que se iniciaram os trabalhos de triangulação com vista ao levantamento topográfico de Portugal.

Acontece que desta vez o céu oferecia uma visibilidade digna dos deuses. As serras da Estrela, Lousã, Aire e Candeeiros ou Montejunto pareciam logo ali. Pelo azimute penso que até mesmo a de São Mamede se avistava no horizonte.

Junto ao vértice geodésico encontra-se o Museu da Geodesia que apresenta alguns instrumentos de topografia de outra época.

Centro de Portugal em VIla de Rei com rosa dos ventos em calçada e marco geodésico
Vistas deslumbrantes no centro geodésico de Portugal
marco geodésico de Vila de Rei, Melriça
O vértice geodésico que marca o centro de Portugal

Em busca dum local mais fresco para passar o resto da tarde decidimos descer até às margens do rio Zêzere.

Fernandaires

Uma das praias fluviais da albufeira de Castelo de Bode mais próximas de Vila de Rei é a de Fernandaires. Seguimos uma placa que indica “Estrada Panorâmica” e pelas curvas e contracurvas fomos descendo rodeados de verde e de rochedos.

Após alguma dificuldade em estacionar a nossa autocaravana, descemos até à água. As margens áridas foram aqui cobertas por um pouco de areia que vem tornar a experiência mais aprazível. A água, um pouco turva do barro do leito é quente e fez as delícias do meu filho.

praia fluvial de Fernandaires vista do miradouro
Praia fluvial de Fernandaires no rio Zêzere
Vista do rio Zêzere e praia fluvial do Trísio
Praia fluvial do Trísio vista do miradouro de Fernandaires

Subimos ao final da tarde de volta a Vila de Rei. Estacionamos a autocaravana na Área de Serviço de Autocaravanas, bem no centro da vila e vou até à churrasqueira mais próxima comprar um frango assado, uma litrosa e umas batatas fritas. De louvar o esforço de algumas autarquias em providenciarem estas áreas que facilitam a vida a quem viaja desta forma, especialmente aqui à beira da EN2.

Trilho das Cascatas

Como já presumia ser pouco adequado a crianças, decidi madrugar, deixar a família dormir mais um pouco e partir sozinho para percorrer uma parte do trilho das cascatas. Este é um dos vários trilhos pedestres que se pode percorrer no concelho de Vila de Rei.

O percurso circular com cerca de 10 quilómetros vai ao encontro de algumas cascatas escavadas nos vales rochosos da ribeira do Lavadouro, da ribeira do Vale Feito e ribeira da Vila. Como não tenho tempo para o percorrer na totalidade, opto por ir até à cascata dos Poios, na ribeira da Vila e depois regressar pela estrada.

Placa do Trilho das Cascatas ao amanhecer
PR1, o trilho das cascatas ao amanhecer

A vila ainda dorme quando me faço ao caminho. Perco as marcas do percurso à saída da vila, mas acabo por encontrar a estrada mourisca, antiga via de acesso à povoação. Cruzo depois a ER348 a partir de onde o percurso segue junto do leito rochoso da ribeira da Vila.

O Sol ainda brilha baixo e reflecte os tons dourados nas ervas secas. Sinto que valeu a pena ignorar a preguiça perante tal espectáculo que a natureza me oferece. O declive vai-se acentuando e para dar alguma segurança há cabos que auxiliam a descida.

Com tanto para contemplar e fotografar, demoro umas duas horas a chegar à Cascata dos Poios, uma das maiores do percurso. O regresso é feito pelo estradão, sempre a subir, com alguma pena de não ter tempo para o resto.

Cascatas junto aos moinhos em Vila de Rei
Cascatas junto aos velhos moinhos
água em riacho com planta verde
A água trilha o seu caminho
Ervas secas em tons dourados ao nascer do Sol
Tons encantadores acompanham-me ao longo do vale
Pequena cascata
Uma das muitas cascatas deste trilho em Vila de Rei
Trilho pedestre com vegetação
O verde intocado
Cabo de segurança em trilho pedestre
Nas zonas mais perigosas há cabos para auxiliar no equilíbrio
Cascata no meio de árvores em Vila de Rei
A água perde-se pelo meio da vegetação
Cascata dos Poios em Vila de Rei
A cascata dos Poios no final do troço que percorri

Penedo Furado, a visita possível

Apanhamos a EN2 em direcção a Sul. Já sabemos que a praia fluvial está fechada para obras até ao fim de Junho e não planeamos por isso gastar aqui muito tempo. Cruzamos com as autobetoneiras que transportam o betão para alisar o fundo da ribeira.

Paramos um pouco no miradouro das Fragas do Rabadão e mais abaixo no do Penedo Furado. A vista é deslumbrante. Lá no vale profundo e rochoso algumas pessoas, pequeninas como formigas, caminham nos passadiços. As águas calmas do braço da albufeira de Castelo de Bode estendem-se até aqui.

Miradouro das Fragas do Rabadão com rocha e estátua
Vista do Miradouro das fragas do Rabadão
Miradouro do Penedo Furado com rio e estátua
A albufeira de Castelo de Bode estende-se até aqui
Pessoas a caminhas nos passadiços do Penedo Furado, Vila de Rei
Lá em baixo, os passadiços do Penedo Furado

Partimos com a certeza de que voltaremos em breve para nos embrenharmos na natureza que se estende aos nossos pés.

Seguimos para a praia fluvial da Aldeia do Mato, já no concelho de Abrantes, onde demos um último mergulho no Zêzere. Almoçamos antes de cruzar a barragem e seguir para casa, com uma pequena paragem em Tomar onde havíamos estado dias antes. É um até já ao centro de Portugal.